Na década de 60, Londres era o lugar certo para se
estar.
A partir de 1964 os Beatles dominavam a cena musical,
estando no auge do fenômeno conhecido como ‘beatlemania’.
Em 65 o filme ‘Help!’ era lançado nos cinemas, causando mais
um grande impacto visual dos garotos de Liverpool após o antológico ‘A Hard
Day’s Night’.
Novas bandas britânicas começavam a aparecer. Os Rolling
Stones tinham seu maior sucesso com ‘(I Can’t Get No) Satisfaction’, e seguiriam
firme no encalço do ‘fab four’.
A lista de grupos que faria sucesso também incluía ‘The
Kinks’, ‘The Who’, ‘The Animals’, e os ‘Yardbirds’.
A moda fazia história na cidade e artistas performáticos,
além de pintores e fotógrafos vinham de todo o planeta aproveitar a nova onda
londrina. A artista plástica Yoko Ono era
uma dos que chegavam a Londres e logo estaria fazendo seus ‘hapennings’ acontecerem.
O ‘Moody Blues’, era outra banda que após ficar conhecida
por uma canção pop como ‘Go Now’, mudaria totalmente seu rumo e faria fama com
seu álbum progressivo, ‘Days of Future Passed’.
O ‘Pink Floyd’, nos bons tempos de Syd Barrett, já dava
seus primeiros passos nos estúdios de Abbey Road.
Os álbuns ‘Rubber Soul’ e ‘Revolver’ dos Beatles também
seriam responsáveis por experimentações nunca antes imaginadas na música pop.
O virtuose do jazz, John Coltrane, quebrando todas as
regras da sonoridade conhecida, explora novos horizontes musicais e deixa
seguidores fiéis na metrópole, como o saxofonista Albert Ayler, o pianista Sun
Ra e o vanguardista John Cage, que logo dominariam o ‘underground’ londrino.
Nessa época, Roman Polanski lançava seu terceiro
longa-metragem, o cult-movie ‘Cul-de-Sac’ (Armadilha do Destino) e preparava as
filmagens de uma paródia sobre vampiros.
No ramo teatral peças como ‘Loot’ de Joe Orton lotam os
grandes palcos da cidade.
Outra atração era a recém-inaugurada Indica Bookshop & Gallery, fundada pelo
marchand John Dunbar, pelo escritor Barry Miles e pelo cantor e futuro
produtor musical Peter Asher, da dupla
Peter & Gordon.
Este mix de
galeria de arte (no porão) e de livraria (no térreo), era apoiada
financeiramente por Paul McCartney e seria ponto de encontro de intelectuais no
final dos anos 60.
Reza a lenda, que foi nesse porão transformado em galeria
de arte, onde Lennon encontrou Yoko Ono pela primeira vez em uma exposição da
artista japonesa.
Uma pessoa que estava sempre presente no restrito círculo
dos Beatles e dos Stones, era o também marchand Robert Fraser, que levaria até McCartney
um quadro de uma maçã, pintado por René Magritte. Esta pintura seria o ponto de
partida para a criação da Apple.
Havia também os clubes e boates famosos, como o Ad Lib
Club, situado no topo de um enorme prédio em Leicester Place, o
Scoth of St. James em
Masons Yard, muito próximo da Indica e a Bag O’ Nails - em que Paul e Linda Eastman se conheceram - na
Carnaby Street, por onde circulavam os
astros do rock britânico, além de figurinhas como o herdeiro da fortuna
Guiness, Tara Browne e a cantora e atriz Marianne Faithfull.
Nesse mesmo período, Hugh Heffner, seguindo a legalização
do jogo no Reino Unido, envia o empresário Victor Lownes para supervisionar a
construção do ‘Playboy Casino’ em Londres.
A cidade também era uma meca dos grandes estúdios de
gravação. Além de Abbey Road da EMI, também havia o Trident, um dos mais
modernos e o Olympic Sound Studios, onde os Rolling Stones fariam a maior parte
de seus discos.
Nesse cenário, em 1966, Michelangelo Antonioni começa a
filmar ‘Blow Up’ (Depois Daquele Beijo), seu primeiro longa em língua inglesa.
Sem dúvida um dos
filmes mais instigantes de seu tempo, ‘Blow Up’ nos conta a história de um dia
na vida de um fotógrafo famoso na ‘Swinging London’.
Segundo se sabe, o
personagem foi baseado no famoso fotógrafo ‘cockney’ David Bailey, que
inclusive emprestaria seu estúdio para as filmagens.
O roteiro se baseou no conto ‘Las Babas Del Diablo’ de
Julio Cortázar. O filme conta com atuações soberbas de Vanessa Redgrave, Sarah
Miles e de David Hemmings como o protagonista principal.
Thomas é um fotógrafo de moda muito requisitado, mas esse
seu trabalho o aborrece. Numa noite de sexta-feira ele passa a noite em um
albergue para conseguir fotos impactantes de andarilhos, idosos sem teto e
marginais, para um livro em que está trabalhando.
Temos a impressão de que todo o underground londrino
desfila perante o fotógrafo e sua lente.
Ao sair do albergue pela manhã, ele tem um compromisso em
seu estúdio com uma manequim famosa (Veruschka), que simula um ato de amor com
a câmera. Sem dúvida uma das cenas mais sexy do cinema até então.
Outras modelos
aguardam pacientemente que Thomas apareça para fotografá-las, mas elas acabam
tendo que ficar de olhos fechados, esperando. Enquanto isso, ele visita seu
vizinho, um pintor que não sabe de onde vem a inspiração para seus quadros, e
cuja esposa insatisfeita ( Sarah Miles) se insinua para Thomas.
Os diálogos são sempre reticentes, como convém a um bom
filme de Antonioni, considerado o mestre da incomunicabilidade.
Em um passeio em seu conversível equipado com
rádio-amador, Thomas visita uma loja de antiguidades que deseja adquirir e
acaba comprando uma hélice de avião. Ao deixar a loja, em uma agradável manhã
de sábado, ele passeia em um parque bucólico, tirando fotos ao acaso, pensando
no livro que precisa terminar.
Um casal namorando passeia pelo parque e Thomas
fotográfa-os várias vezes.
A mulher (Vanessa Redgrave), ao perceber que estão
sendo clicados, deixa o parceiro e vai atrás de Thomas. Ela quer o filme, ele
não concorda em entregá-lo, e a mulher se
afasta correndo.
Na tarde de sábado ele irá receber duas visitas. A da
mulher fotografada que insiste em querer os negativos, e para isso tenta
seduzi-lo ao som da trilha inspiradíssima de Herbie Hancock, e de duas
‘groupies’, que querem servir de modelo para Thomas.
Uma das aspirantes a modelo (Jane Birkin) protagoniza o
primeiro nu frontal do cinema em uma cena de sexo à três com Thomas e sua
amiga.
O fotógrafo continua curioso pelo interesse da mulher nas
suas fotos e as amplia (blow up), para tentar descobrir o porquê de tanto
interesse.
Após detalhada e longa análise, ele consegue distinguir
uma mão segurando um revólver no meio das árvores do parque onde ele se
encontrava pela manhã, e logo a seguir o corpo do homem de meia idade que
estava com a mulher.
Thomas toma o rumo do parque já à noite e descobre o
corpo do homem. Ao voltar para o centro da cidade ele localiza a mulher que
queria os negativos e tenta falar com ela, mas à perde no meio da multidão.
Seguindo o som de uma música distante, Thomas acaba
entrando em uma espécie de clube onde quem toca é ninguém menos que o grupo
Yardbirds.
A banda está tocando uma versão empolgada de ‘Stroll On’,
presenciada por todos os tipos imagináveis de ‘malucos’ em modelitos da época.
Jeff Beck, com problemas em seu equipamento, acaba
quebrando sua guitarra e a lança ao público, que finalmente acorda de seu
‘transe’ e disputa cada pedacinho do instrumento. Thomas acaba saindo com o
braço da guitarra sem utilidade nenhuma, e o abandona no meio da rua.
Quando volta para sua casa-estúdio, ele descobre que ela
foi arrombada. Seus negativos do suposto crime e as ampliações sumiram.
Sua vizinha aparece e ele comenta o ocorrido. Ela parece
não entender e reconhece a única ampliação que sobrou como muito similar a um
quadro de seu marido.
Thomas fica com dúvidas a respeito de toda a situação. O
que ele realmente viu, e o que ele pensa que viu.
Finalmente, o fotógrafo decide esquecer o ocorrido. Segue
para outro parque distante onde universitários simulam uma partida de tênis. Thomas
interage com os estudantes, ‘ouvindo’ o som da raquete imaginária na bolinha.
Quando ele vai buscar outra ‘bola perdida’ a câmera sobe e se afasta.
Nesse momento, acabam os negativos de Antonioni!
5 comentários:
Belo "panorama" do que de fundamental ocorreu numa época e lugar fascinantes!!
Eu queria ter estado lá...
Eu também!!
Quem viveu 60' sabe
Que a década emocionou
Tudo que aconteceu não cabe
No coração de quem amou
Foi nela que nasceu Beatles
Depois, o sonho acabou
Fui testemunha ocular
Daquela grande euforia
Na balada dos Beatles amei
Com a amada casei um dia
Com ela vieram os filhos
Com eles, muita alegria
.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.
Além dos Beatles muitos eventos artísticos, musicais, políticos, sociais, comportamentais e outros, marcaram 15 anos do fim da segunda grande guerra.
Tenho amigos bem mais jovens que declaram que gostaríam de ter vivido sua juventude nos anos 60's.
Eu iniciei a década com 13 anos. Nada tenho a reclamar.
Grande Paulo!! Valeu, amigo!
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