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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

'New & Old' - Macca




Quando Paul McCartney se prepara para lançar um novo trabalho, a minha expectativa é de que ele sempre supere seu trabalho anterior. Sei, que como Eric Clapton, Bob Dylan, Paul Simon e tantos outros, o velho Macca não precisa provar mais nada. Mas ele carrega o peso de seu nome, e além de tudo, o enorme peso de ter feito parte - e liderado - os Beatles.
Paul já lançou coisas muito boas, e aqui cito 'Chaos and Creation...', 'Band on the Run', 'Tug of War', e inúmeros singles de sucesso no mundo todo.
Seus shows até hoje lotam estádios e praças nas mais diversas partes do planeta. Ele até se dá ao luxo de se apresentar ao vivo, de graça, nas ruas de Londres, Nova Iorque e Los Angeles!
Todos sabemos que dinheiro não é o seu problema! Macca está aí, gravando discos e se apresentando porque gosta.
O que sinto, é que seu nível de exigência consigo mesmo baixou muito após os Beatles. Apesar de todo o sucesso em carreira-solo, ele parece muito mais interessado em se divertir.
 Seu talento natural permite que ele faça jornadas ocasionais pela música clássica e experimental, sem se importar com as críticas.
Em 2012, por exemplo, ele realizou um sonho de gravar standards, em sua maioria lados B, que ouvia quando criança. Macca lançou um álbum ao estilo anos 40, o 'Kisses on the Bottom', e sem refinamentos tecnológicos.


Chega 2013, e ele resolve voltar aos estúdios de gravação para um álbum de inéditas, que seria o primeiro em 6 anos.
Em seus últimos álbuns de estúdio Macca trabalhou com dois produtores: David Kahne ('Driving Rain' e 'Memory Almost Full') e Nigel Godrich ('Chaos and Creation...').
Sempre achei que o estilo de Paul se adaptou perfeitamente ao de Godrich nos estúdios, mas parece que a personalidade dos dois não bateu, e houve conflitos nas gravações. Uma pena.
Com Kahne, ele parece ter mais liberdade, e talvez prefira isso, mesmo correndo o risco de auto-indulgência.
Para resolver o problema da produção (sempre o calcanhar de Aquiles de Macca), ele resolve então partir para várias opções.
'New' teve produção de Paul Epworth, Mark Ronson, Ethan Johns e Giles Martin, filho do eterno George Martin. É interessante notarmos que após a produção das faixas, em várias delas houve 'pós-produção' de Giles Martin e Paul! O que mostra que Paul confiou até 'por ali' em seus produtores, e depois levou o cara em que confiava mais, para uma lapidada geral!


Ronson, que se destacou como produtor de Amy Winehouse, assina a produção da faixa-título 'New', que se destaca de cara no álbum. Não vou compará-la aqui com nenhuma canção dos Beatles, não acho que seja o caso, mas o 'novo' aqui, soa 'velho', e isto não é uma crítica negativa.
Gosto também da canção 'Save Us', que abre os trabalhos sob a produção de Paul Epworth, que trabalhava com Adele. Sim, muito do que se reflete nesta música e na fase animada atual de Paul, ele deve a sua feliz vida doméstica. Seus pesadelos da época do casamento com a ex-modelo Heather Mills chegaram ao fim, e ele curte uma enorme sensação de paz ao lado da empresária Nancy Shevell.
Me bateu legal também a agitada 'Quennie Eye', lembrando um pouco os anos 60 e 70. 'Road', também produzida por Epworth, tem total inspiração no trabalho de Paul com Youth, no último álbum do 'The Fireman'.


Ethan Johns produz 'Early Days', uma bela recordação dos velhos tempos, sem soar nostálgica. Ethan é filho de Glyn Johns, famoso produtor dos anos 60 e 70. Glyn trabalhou em 'Let It Be' e no 'Red Rose Speedway' com Paul, e apesar de ter saído no meio de ambos os trabalhos, sua amizade com Paul perdurou.
Macca até comenta que gravou várias outras canções com a produção de Ethan Johns e que "mais cedo ou mais tarde, elas verão a luz do dia".
Chegamos então ao seu produtor de confiança, filho do velho comandante Martin.
Giles já vinha tendo experiência em trabalhos com os Beatles há algum tempo. Em 'Love', seu trabalho se destacou muito, e no disco 'Early Takes' de George Harrison, sua presença também foi importante.
Em 'New', Giles mostra do que é capaz. 'On My Way to Work', concorre seriamente ao título de melhor canção do álbum. É Paul em um de seus melhores momentos melódicos, com o apoio do acordeon de Wix, e das guitarras maneiras de Rusty Anderson e Brian Ray.
Destaco mais duas canções com Martin: 'Everybody Out There' e 'I Can Bet', ambas animadas e mostrando o porque de Macca ainda ser considerado um grande vocalista, apesar dos 71 anos.


Se você pensou que o álbum iria terminar sem a clássica balada 'McCartiana', se enganou. A faixa-escondida chamada 'Scared', traz aquele Macca intimista, ao piano, como todo mundo gosta. Um belo final, sem dúvida alguma.

Se você me perguntar se eu achei este trabalho o melhor "desde o Wings", como foi falado antes do lançamento, é claro que não posso concordar. O disco tem unidade, apesar da diversidade de produção. Tem mais unidade por exemplo que o 'Driving Rain', produzido por apenas uma pessoa. O álbum soa otimista, sim, o que já é uma grande qualidade.
O que falta então em 'New'? Talvez não falte nada, talvez eu esteja envelhecendo e esquecendo que o artista como Paul McCartney será sempre um ser inquieto, e que seu próximo passo será sempre uma incógnita, sempre tentando inovar. Talvez eu preferisse algo mais pesado e clássico ao estilo 'Chaos and Creation...', mas não vou 'discutir' com Macca!

Ele sempre será 'o cara'! O 'Velho e o Novo' no mesmo pacote!


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Eagles - Uma 'Grande' Banda Americana!





Assisti há poucos dias um dos melhores documentários musicais dos últimos tempos. 'History of the Eagles - Story of an American Band'.
Dirigido por Alison Elwood, disponível em DVD duplo ou blu-ray simples, este filme traça a saga de uma das melhores bandas do planeta.
Os Eagles foram responsáveis pela propagação mundial do estilo country-rock, que tinha Gram Parsons como maior expoente em 1971, ano em que a banda dava seus primeiros passos.
Os dois membros fundadores e elementos-chave do grupo eram Glenn Frey e Don Henley, que começaram cedo sua carreira musical, em Detroit e no Texas, respectivamente. Logo eles fariam parte da banda de apoio de Linda Ronstadt, e em seguida uniriam forças com Randy Meisner e Bernie Leadon e formariam o Eagles.
Do círculo de amigos da banda, fazia parte gente como Jackson Browne, ainda em início de carreira, J. D. Souther e Jack Tempchin, todos exímios compositores.
Frey, que morava no andar de cima de Browne, escutava suas composições dia após dia, e não foi muito tempo depois que Glenn veio com uma sobra de composição de Jackson, chamada 'Take It Easy'. Completada por Frey, ela viria a ser o primeiro sucesso da banda.


Nesta época, Glenn e Don Henley começaram a compor pra valer em parceria. Graças a Browne, o selo Asylum se interessou pelo som dos Eagles, e eles logo partiram para Londres para gravar aos cuidados de ninguém menos que Glyn Johns (Beatles, The Who).
A estreia em LP, com o álbum 'Eagles', pode ser considerada nada menos que sensacional. A repercussão na América foi enorme, e canções como 'Peaceful Easy Feeling' de Tempchin, 'Witchy Woman' e a já citada 'Take It Easy', estouraram nas rádios americanas.

Na minha percepção a cabeça-pensante da banda sempre foi Glenn Frey, o que o documentário deixa bem claro. Don Henley, era sem dúvida o gênio compositor e dono da melhor voz dos integrantes do conjunto. Seu vocal anasalado seria uma marca registrada dos americanos. Randy Meisner, egresso da banda Poco, além de grande baixista, conseguia um alcance de notas muito mais alta que seus parceiros de banda, o que o tornava também peça-chave dos Eagles. Bernie Leadon, era basicamente um guitarrista country, e defendia com unhas e dentes a permanência do grupo no sub-mundo do country americano.
Era inevitável um confronto com Glenn Frey, que queria a banda partindo para um som mais rock e pesado.
As discussões entre Frey e o produtor Glyn Johns também aumentavam. Johns não conseguia imaginar os Eagles como uma banda de rock.
Mesmo com as desavenças, eles partem novamente para a Inglaterra, onde gravam o segundo álbum chamado 'Desperado'.
Menos comercial que o anterior, 'Desperado' mesmo assim firmou a banda em um patamar superior a grande maioria das bandas americanas de country-rock da época. 'Doolin-Dalton', 'Tequila Sunrise' e a faixa-título foram os destaques, além da capa, com todos os membros da banda vestidos com trajes do 'velho oeste'.


No final de 1973 eles começam a preparar seu terceiro disco e Glenn tem a ideia de acrescentar um terceiro guitarrista (ele não gostava de solar nas faixas countries de Leadon), então entra em cena Don Felder, um guitarrista de recursos técnicos ilimitados.
Para este disco eles resolvem fazer outra mudança. Cansados de ter que ir a Londres, e das manias de Glyn Johns, eles contratam Bill Szymczyk como produtor.
O álbum 'On the Border' de 74, soa mais agitado que o anterior, contando com o grande sucesso 'Already Gone', além de 'James Dean', 'Good Day in Hell', a homenagem de Leadon a Gram Parsons em 'My Man' e outro mega-hit: 'The Best of My Love' de Henley, encerrando o disco.

É preciso dizer que por volta de 1975 os Eagles monipolizavam a indústria fonográfica americana. A gravadora esperava pacientemente um novo álbum da banda para poder fechar as contas no final do trimestre. Suas turnês eram grandiosas. Estádios lotados, ingressos esgotados, e muita loucura nos bastidores. O documentário dá uma ideia do que rolava nas apresentações do grupo.

Neste mesmo ano, eles surgem com 'One of These Nights', single e álbum que vendeu milhões de cópias, parecendo prenunciar a chegada da 'disco music'. Só que a banda ficou bem longe deste estilo.
'Lyin' Eyes' de Frey e 'Take it to the Limit' de Meisner confirmam que os Eagles ainda mandavam no pedaço.

Após 'One of These Nights' a tensão entre Frey e Leadon chega ao auge, e o último deixa a banda por não concordar com o estilo musical da banda.


Em 1976 eu comprei meu primeiro álbum dos Eagles. Foi a copilação 'Eagles - Their Greatest Hits 1971-1975'. Sem saber direito o que aquela banda tinha de diferente, cheguei a conclusão que era a simplicidade e suas letras diretas que os tornavam especiais.  
Aliás, este álbum tornou-se campeão de vendas do século XX. Nenhum outro disco vendeu mais que ele. Após uma disputa feroz com 'Thriller' de Michael Jackson e o 'One' dos Beatles, os Eagles levaram pra casa o título de disco mais vendido do século!

Naquele distante ano de 1976 surgiria outra canção diferente. Algo que talvez não fosse esperado por fãs da banda. 'Hotel California' foi outro dos maiores sucessos em vendas de todos os tempos. Virou sinônimo de Eagles, e umas das canções mais executadas em rádios.
A introdução da guitarra por Don Felder, combinada com a bateria e os vocais de Henley são inigualáveis.
Surge então o álbum 'Hotel California'  junto com a chegada de Joe Walsh na banda.
Apesar do sucesso de canções como 'New Kid in Town' e 'Wasted Time', acho que ali ficava claro que a banda estava no pico, e pronta para começar a descida.

No meio do ano de 1977, em uma apresentação ao vivo, Randy Meisner recusa-se a cantar no bis, pela milésima vez, a canção 'Take it to the Limit', o que causa mais um desentendimento com Glenn Frey. Comentou-se que os dois foram às vias de fato nos bastidores. Meisner resolve deixar o grupo e é substituído por Timothy Schmit.

Após uma pausa, eles lançam em 1979 'The Long Run', seu último álbum de estúdio dos anos 70. A recepção, foi como sempre positiva, e no ano seguinte o álbum duplo 'Eagles Live', chega ás lojas, resumindo com maestria as apresentações ao vivo, que eram sempre um momento mágico da banda.

O fato, porém, é que o Eagles não eram mais os mesmos. As brigas continuavam, e em outra delas Don Felder também se desentendeu com Frey por questões financeiras. O próprio relacionamento entre Henley e Frey havia se desgastado. Chegou a hora dos Eagles darem um tempo!

As carreiras-solo de Don Henley, principalmente, e de Glenn Frey, foram brilhantes. Na década de 80, canções como 'The End of Innocence' de Henley  e 'The One You Love' de Frey lideraram as paradas.

Após 14 anos eles resolvem voltar a tocar juntos para um especial da MTV, que se torna o álbum 'Hell Freeze's Over', de imenso sucesso.
Depois de mais algumas turnês, Don Felder deixa a banda após mais discussões com Frey.

Finalmente em 2007 a banda volta aos estúdios com Frey, Henley, Walsh e Schmit e saem de lá com o álbum duplo 'Long Road Out of Eden', que se não mostra para os mais jovens o que eles significavam nos anos 70, pelo menos é um disco competente de senhores de 60 e tantos anos que um dia revolucionaram a música country americana.





sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Abbey Road - 44 anos

Em 2009, quando dos 40 anos do álbum 'Abbey Road', escrevi este texto para um jornal. Ele acabou sendo publicado no livro 'Alto & Bom Som - Ruídos, Chiados e Pinceladas Musicais'! Sempre é bom lembrar do melhor álbum da melhor banda do planeta!!    


                        



                                                      Abbey Road - O final anunciado
          
Após o término das gravações do ‘Álbum Branco’, e com todas as divergências ocorridas, poucos imaginavam uma nova reunião dos Beatles.

John Lennon, desde a separação de sua primeira esposa, Cynthia, estava mais preocupado em passar todos os momentos de sua vida ao lado de Yoko Ono. Isso incluía levá-la aos estúdios e até ao banheiro masculino, se isso fosse necessário, para não interromper um diálogo.

George Harrison, conhecido como o ‘Beatle quieto’, não agüentava mais o pouco espaço que ele tinha dentro da banda e estava muito mais interessado em estudos religiosos.

Ringo Starr era chamado apenas quando sua presença no estúdio era absolutamente necessária como baterista e, mesmo assim, muitas vezes foi privado de suas funções no ‘Álbum Branco’ por Paul McCartney, sempre zeloso com suas músicas, e querendo ele mesmo tocar a bateria.

McCartney, por sua vez, achava que a banda tinha uma saída e bolou uma volta às raízes! Este projeto, que ficaria conhecido como ‘Get Back’ e depois finalmente, ‘Let It Be’, foi iniciado em janeiro de 1969, com filmagens dos Beatles ensaiando e discutindo, não necessariamente nessa ordem. A coisa toda virou um caos e, após novas discussões, o projeto foi abandonado, não sem antes um show de despedida no telhado da Apple, em 30 de janeiro!
O filme e o álbum “Let It Be” só veriam a luz do dia em 1970 - ainda assim com as gravações mutiladas por Phil Spector - quando a banda já tinha se separado.


Em abril, John e Paul foram avisados de que os negócios não iam bem. A empresa Apple, que eles tinham criado com tanto carinho para cuidar dos interesses dos Beatles, estava dando prejuízo.
John, apoiado por George e Ringo, contratou Allen Klein, ex- empresário dos Rolling Stones, para cuidar da Apple. Paul votou contra, ele preferia seu sogro, Lee Eastman. Eles só concordavam num assunto: os Beatles precisavam urgentemente gravar e lançar um álbum ainda naquele ano para amenizar as perdas.

Paul, George e Ringo começam imediatamente os trabalhos. John, só após alguns dias devido a um grave acidente de carro, no qual quase morreu, junto com Yoko.

Os Beatles tinham a sensação de que aquele poderia ser seu último trabalho e resolvem recrutar o velho amigo e produtor George Martin, que não havia participado do projeto da volta às raízes.

A primeira faixa é a rascante Come Together de John, marcada por um baixo magistralmente tocado por McCartney e um solo de guitarra bluesy de George.

Harrison comparece com uma de suas mais belas criações, a sensível Something, que emplacaria um 1º lugar em single e que, mais tarde, geraria milhares de covers, inclusive de Frank Sinatra, que se referia a ela como “a melhor canção de Lennon & McCartney”!
Paul, que tinha se tornado o compositor mais prolífico da banda, emenda duas músicas: Maxwell’s Silver Hammer e Oh! Darling. A primeira foi um primoroso trabalho de produção e uma das canções mais perfeitas dos Beatles, tendo eles trabalhado dias a fio nessa composição.
Oh! Darling apresenta um dos vocais mais fortes de Paul em toda sua trajetória Beatle. O detalhe é que ele chegava bem cedo ao estúdio todas as manhãs, para que sua voz apresentasse uma certa crueza, coisa que ele não poderia repetir em outras horas do dia!
Ringo tem a oportunidade de mostrar seu talento vocal em Octopus’s Garden, um belo trabalho feito com a ajuda do amigo George.
John encerra o lado A com a visceral I Want You (She’s So Heavy), que foi, na verdade, duas músicas diferentes reunidas. O arranjo lembra o rock progressivo que faria história na década seguinte.


George inaugura o lado B com outra balada lindíssima, a clássica Here Comes The Sun, composta no jardim da casa de seu amigo Eric Clapton. Harrison, cada dia melhor como compositor, nos dá uma amostra do que seria seu trabalho solo.
Because, de Lennon, surgiu de uma forma estranha. Ele conta que Yoko estava tocando a Sonata ao Luar, de Beethoven, ao piano. John então pediu para que Yoko tocasse os acordes ao contrário, surge assim a bela melodia dessa canção que conta com os vocais de John, Paul e George. 

Paul e John, nessa época, tinham vários fragmentos de canções inacabadas. Paul teve a ideia de amarrá-las todas e fazer uma espécie de ‘medley’.  Era algo inovador e que surpreendeu quem estava acostumado com um álbum tradicional.
Este medley começa com You Never Give Me Your Money, em que Paul faz um desabafo sobre os problemas financeiros da Apple.
Seguem-se três composições de Lennon, Sun King, novamente com vocais do trio, Mean Mr. Mustard, do tempo da meditação na Índia, e Polythene Pam.
McCartney surge com She Came in Through the Bathroom Window, uma de suas grandes composições no álbum, onde ele descreve a invasão de sua casa por uma fã através da janela do banheiro!
Paul teve a inspiração para Golden Slumbers, quando ouviu a enteada de seu pai, Ruth, de 8 anos, tocar essa antiga composição inglesa ao piano. Paul, como todos os Beatles, não sabia ler música, então ele resolveu aproveitar a letra, mas compor sua própria melodia para esta canção. Ela emenda em Carry That Weight, um vigoroso esforço conjunto da banda.
The End não poderia ser mais apropriada para a última música do álbum e da banda. Com o clássico verso “And in the end the love you take is equal to the love you make”(no final o amor que você recebe é igual ao amor que você  oferece), esta brilhante composição de McCartney nos brinda com um pequeno solo de bateria de Ringo e três solos de guitarra, tocados ao vivo por Paul, George e John, nessa ordem!


Após a arte da capa multicolorida e a homenagem aos seus ídolos de “Sgt. Pepper’s” e a simplicidade minimalista da capa do “Álbum Branco”, Paul teve a ideia de também homenagear os estúdios de Abbey Road onde eles fizeram história. Assim no dia 8 de agosto, eles simplesmente resolvem ser clicados por Iain MacMillan atravessando a rua em frente ao estúdio. A foto foi muito imitada e parodiada por outros artistas e, até hoje em dia, fãs do mundo inteiro fazem peregrinações para serem fotografados atravessando o mesmo local em Londres.

Estava quase terminado, provavelmente o melhor disco que a melhor banda do planeta lançou, mas havia tempo para uma piadinha de Paul em homenagem a Rainha, Her Majesty!

Lançado em setembro de 1969, “Abbey Road” liderou as paradas nos dois lados do Atlântico e se tornou o maior sucesso comercial da banda!

Mesmo quatro décadas depois muita gente ainda discute o que causou o final dos Beatles. Teria sido a constante presença de Yoko Ono nas gravações e a falta de interesse de John na banda? Os negócios que iam mal teriam tido influência decisiva no final da banda? A falta de espaço para George nos álbuns terminou com o sonho? As atitudes autoritárias de McCartney estariam cobrando seu preço?
Pelas declarações dos Beatles, podemos considerar que talvez tenha sido um pouco disto tudo, mas não era só isso.
A verdade é que os Beatles cresceram! Eles não eram mais aqueles garotos ingênuos cantando ‘yeah yeah yeah’, e como nenhuma outra banda antes ou depois resolveram terminar com o grupo no auge do sucesso.

John passaria a fazer campanha pela paz mundial e lançaria duas obras-primas nos próximos anos, “John Lennon/Plastic Ono Band” e “Imagine”. Em seguida partiria de mudança para os EUA em 1971, para fixar residência em Nova Iorque e se tornar pai novamente. Em 1975, deixou a carreira de lado para cuidar do filho. Quando retornou, em 1980, com “Double Fantasy” seria assassinado na porta de casa.


George lança em dezembro de 1970, aquele que para muitos é o melhor trabalho de um ex-Beatle, o álbum triplo “All Things Must Pass”, contendo várias músicas que ele não conseguia aproveitar na sua ex-banda. George se separaria de sua primeira mulher, Pattie, em 1973, e casaria com a mexicana Olivia Arias, que lhe daria seu único filho, Dhani, em 1978. No início dos anos 90, George se torna ainda mais introspectivo e raramente se ouve falar dele. Ele é vitimado pelo câncer em novembro de 2001. Um novo trabalho seu apareceria apenas postumamente em 2002, chamado “Brainwashed”.

Ringo, após a separação, tentou seguir carreira no cinema e participou de alguns filmes com relativo sucesso. Em 1973, ele lança seu melhor trabalho, “Ringo”, com as participações de John, George e Paul. Ringo também se separaria de sua primeira mulher, Maureen, e se casaria com a atriz Barbara Bach. Ele continua lançando álbuns e fazendo turnês com a ‘All-Starr Band’.

Paul foi provavelmente o Beatle que mais sofreu com a separação. Ele comentou que tocar num conjunto era “tudo o que ele sabia fazer” e entrou em depressão com o final da banda. Ele lança trabalhos irregulares no início dos anos 70, até se consagrar com “Band on the Run”, em 1974.
Em 1976, faz uma turnê vitoriosa pelos EUA com sua nova banda, Wings. Após a morte de John lança outro fantástico álbum, “Tug of War”. Depois de excursões mundiais apoteóticas, em 1990 e 1993, Paul perde a esposa Linda para o câncer, em 1998.
Ele foi o ex-Beatle que obteve maior sucesso comercial. Em termos de talento como cantor, músico e compositor, além dos milhões de álbuns vendidos, é considerado o artista mais bem sucedido da história da música.                  
                                                        


segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Jeff Beck - A Lenda Viva!





Alguns amigos sempre me perguntam qual é o meu guitarrista preferido?
É uma questão muito difícil, visto que existem vários músicos exímios tocadores de guitarra, além de possuírem estilos completamente diferentes.
Já citei aqui neste blog, gente como Eric Clapton, George Harrison, Roy Buchanan, Alvin Lee e Steve Cropper. Talvez meu gosto musical se adapte melhor ao estilo destes músicos.
Existe porém, um guitarrista que talvez tenha todas as qualidades de todos estes que citei acima. Seu nome é Geoffrey Arnold Beck!

Sim, Jeff Beck tem um pouco do estilo de Clapton, e com certeza captou algo do 'slowhand' ao passar pelos 'Yardbirds' no início dos anos 60. Beck chegou a fazer parceria com Jimmy Page nesta banda, mas seu ego, impedia a convivência de duas guitarras solo.
O  estilo de Beck também parece uma orquestra quando aposta em si mesmo 'apenas' como mais um membro de um grupo. Ironicamente ele só usou este estilo quando estava em carreira-solo. Lembro dele do tempo dos álbuns 'Blow By Blow'(75) e 'Wired'(76), em que a produção de George Martin o fez soar delicadamente parecido com o beatle George Harrison e seu inesquecível 'slide'.


De Roy Buchanan, um de seus ídolos, Jeff herdou a técnica impecável e um pouco do preciosismo instrumental, característicos do guitarrista americano. Seu tributo a Buchanan em 'Cause We've Ended as Lovers' - presente de Stevie Wonder - em 'Blow By Blow', é no mínimo emocionante. Que bom que Roy ainda estava vivo, e, quem sabe, pode apreciar a bela homenagem.

Um contemporâneo, cuja guitarra 'falava' em alta velocidade, e que seguramente atraiu a atenção de Beck, foi Alvin Lee, o eterno líder do 'Ten Years After'. Nas apresentações ao vivo não havia tempo ruim para Lee, assim como para Jeff Beck.

Beck também se deixou influenciar, como quase todos os guitarristas de sua geração, por Steve Cropper. Mesmo na época em que sua guitarra prenunciava o 'hard-rock' ou o 'heavy-metal', Jeff construía harmonias e solos a la Cropper, em trabalhos épicos com a banda que criou em 1968: o 'Jeff Beck Group', de cujo terceiro álbum, Cropper foi o produtor.
Por esta banda seminal, passou gente como o 'inimitável' Rod Stewart, já botando pra quebrar com seu vocal, ainda em início de carreira, e o naquele tempo baixista Ron Wood, que depois se desentenderiam com Beck e deixariam o grupo para juntar-se ao 'Faces'.
O 'Jeff Beck Group' deixou pelo menos dois trabalhos clássicos: 'Truth'(68), ás vezes creditado como um trabalho solo de JB, e 'Beck-Ola'(69). A combinação da guitarra de JB com o vocal de Rod, é um daqueles típicos casos que dão certo, mas  que só acontecem muito raramente. A depuração da energia básica presente nestes dois trabalhos coube ao pianista Nicky Hopkins, que traçou uma tênue linha harmônica entre os dois super-astros.


Em 1973, Beck partiu para uma nova empreitada. Ele tentou se distanciar um pouco do blues pesado e do rock e deu uma guinada para o estilo jazz-rock, montando a 'Beck, Bogert & Appice'.
Recrutando dois super-músicos: Tim Bogert no baixo e o lendário Carmine Appice na bateria, eles deixaram apenas um álbum com o nome da banda, que se tornaria algo como um 'cult-album'. A leitura da banda das canções 'Black Cat Moan' e 'Superstition' de Stevie Wonder, foi uma das melhores coisas que Beck já fez. Nesta situação, salta aos ouvidos um grave defeito na carreira de Jeff Beck, e talvez o único: o de não cantar!
Ele até arrisca alguns vocais, mas sabemos que ele se sente melhor 'apenas' dedilhando sua Gibson, ou ultimamente sua Fender.

Depois da 'Beck, Bogert & Appice', Jeff continuou em carreira-solo. Além dos dois grandes álbuns já citados, com a produção de George Martin, Beck teve alguns lampejos dos velhos tempos em discos como 'Flash'(85) e 'Emotion & Commotion'(2010), mas parecendo mais querer apresentar sua técnica do que propriamente 'sentir a música'!


Como alguns artistas de seu naipe, seus melhores trabalhos sempre aparecem em apresentações ao vivo. Atualmente, Jeff Beck é sempre acompanhado pela baixista Tal Wilkenfeld, menina-prodígio do instrumento de quatro cordas, que faz uma base fantástica para os solos arrasadores de Beck.

Eis então, o homem! Todos os ritmos da guitarra em uma pessoa só!!!      



sábado, 17 de agosto de 2013

Roman Polanski - 80 anos!

Amanhã, dia 18 de agosto, o cineasta Roman Polanski completará 80 anos de idade. Deixo aqui um texto de meu amigo Rogério Ferrer Koff escrito em 2009 quando da prisão de Polanski na Suiça. É uma boa reflexão sobre tudo o que aconteceu, e espero que o Rogério não se importe.


Esta vida é um filme – por Rogério Koff
7 outubro , 2009 - 06:49

O diretor franco-polonês Roman Polanski comandou a produção de O Bebê de Rosemary em 1967. Lançado nas telas um ano depois, esta produção foi um marco na história do cinema de terror. Stanley Kubrick demoraria doze anos para dirigir algo parecido (O Iluminado), enquanto que Freddys e Jasons só surgiriam nos anos 1980, com séries intermináveis e distantes da genialidade de seus precursores. Mia Farrow foi escalada para o papel principal, fazendo uma esposa que espera seu primeiro filho e que se vê progressivamente envolvida em uma conspiração demoníaca. Não há em O Bebê nenhuma cena de terror ou violência explícitos, nenhum monstro, mas apenas um suspense psicológico de tirar o fôlego.


A vida de Polanski e outras coincidências estranhas se encarregariam de inspirar a mística sobre a “maldição” do filme. Dois anos depois, sua mulher, a estrela ascendente Sharon Tate, então com 26 anos e grávida de oito meses, foi brutalmente assassinada em Los Angeles, por um grupo de fanáticos liderados por Charles Manson. Polanski não estava nos Estados Unidos e soube pelos jornais que Manson dizia ter recebido mensagens cifradas que ordenavam o crime. Uma destas seria curiosamente a letra de Paul McCartney para Helter Skelter, música integrante do famoso White Álbum, sucesso dos Beatles em 1968.
Por falar em Beatles, após a dissolução do quarteto mais famoso da história da música pop, John Lennon foi morar nos Estados Unidos. Escolheu um apartamento no Edifício Dakota, com vista para o Central Park, e para lá rumou com Yoko Ono no início dos anos 1970. O resto da história nós todos conhecemos; um fanático de nome Mark Chapman matou Lennon a tiros na frente do Dakota em 8 de dezembro de 1980. Detalhe: o edifício foi integralmente utilizado como locação para a filmagem de O Bebê de Rosemary, doze anos antes.


Voltando a Polanski, ele viveu outro drama particular em 1977, quando, aos 41 anos e vivendo nos Estados Unidos, foi acusado de manter relações sexuais com uma jovem chamada Samanta Geimer, então com 13 anos. Às vésperas do julgamento, fugiu para a França, onde vive há mais de 32 anos. Há duas semanas, foi preso na Suíça, onde receberia um prêmio por sua obra. O que deveria ter sido uma homenagem, acabou como palco para uma operação policial que visava atender a uma ordem de prisão emitida pela justiça dos Estados Unidos. Aos 76 anos, Polanski aguarda na cadeia a decisão sobre sua provável extradição. Outra grande coincidência cinematográfica é que o julgamento de um possível indulto está nas mãos de ninguém menos do que Arnold (Conan, o Bárbaro) Shwarzenegger, governador da Califórnia. Suprema ironia. O crítico cultural norte-americano Neal Gabler já havia sentenciado que a vida está se transformando em um filme. Anônimos buscam a fama e celebridades têm suas existências vasculhadas pela mídia.


Muito cuidado aqui, porque não quero minimizar o crime de pedofilia, aliás, um dos grandes dramas de nosso país. Mas deixo uma perguntinha: se Polanski não fosse ele próprio uma celebridade o tratamento dado pela justiça ao caso teria sido o mesmo? Um anônimo estaria  nesta mesma situação? Qual o real motivo de uma prisão preventiva se, em 32 anos de vida na França, Polanski não cometeu nenhum outro crime. Acrescente-se ainda que a própria vítima já declarou publicamente que não desejava dar seqüência ao processo. Estamos falando de justiça ou de vingança?

Fica ao leitor esta provocação e outra: a de tentar encontrar novas coincidências numerológicas nas datas apresentadas ao longo do texto. Pura diversão macabra. 



sexta-feira, 26 de julho de 2013

James Cotton - A Trilogia Blueseira!





Foi com grande satisfação que no início deste mês de julho recebi a notícia de que o gaitista e vocalista James Cotton iria se apresentar em Porto Alegre.
Eu não tinha mais esperanças de ver Cotton ao vivo, principalmente depois que soube que ele fez uma cirurgia para retirar um tumor da garganta em 2004.
Cotton, quase não canta mais, mas em seu último trabalho lançado recentemente ele ainda se arrisca interpretando apenas uma canção. O disco 'Cotton Mouth Man', se não conta com sua voz matadora, pelo menos ainda nos brinda com sua harmônica inigualável. Anos atrás sua interpretação do blues me caiu como um raio no disco 'Harp Attack' (junto de Junior Wells, Billy Branch e Carey Bell). Nunca mais esqueci do nome de Cotton!
Foi assim, preparado para ouvir 'apenas' sua gaita de boca, que me dirigi ao teatro da AMRIGS, terça-feira passada. Porém a chamada para o show já dava uma outra pista: era a 'James Cotton Blues Band', e não tão somente o artista solo.


Antes de comentar o show, devo dizer que meus ídolos do blues começam por Muddy Waters - nunca vou me perdoar por não ter nascido antes e poder tê-lo assistido nos anos 50, 60 ou 70! Destaco também a dupla Buddy Guy (esse eu vi ano passado) e Junior Wells (a melhor gaita e uma das melhores interpretações de blues na minha opinião). Não posso esquecer também de B. B. King, a quem assisti em 1986, no Gigantinho, ainda em plena forma.
Com King, Guy e Cotton, minha trilogia blueseira está completa! Agora posso descansar em paz, irmãos!

Voltando ao show, o que fez a diferença na AMRIGS foi a banda de Mr. Cotton. Os caras estavam muito a vontade para fazer tremer aquele teatro.
Pra começar, entraram em cena o guitarrista branco e canhoto Tom Holland, o baixista Noel Neal e o baterista Jerry Porter (já tocou com Magic Slim). Esse trio arrasou! Enquanto aguardávamos o James, eles tocaram alguns blues para ouriçar o público que quase lotava o teatro.
A técnica de Holland é algo gostoso de se ver. Seus solos, altamente melódicos e sofisticados, me lembraram em alguns momentos de Roy Buchanan (acho que não é exagero). O baixista Noel Neal, também é um protagonista, e solou com seu baixo em várias ocasiões. Fico muito feliz quando o baixo é tratado assim, como um instrumento de solo, e não apenas um acompanhamento ou uma base.
O baterista Porter, muito experiente, toca há pelo menos vinte anos com Cotton, e já se apresentou com vários blueseiros de renome. Sua batida firme e pesada, foi marcante.


Cotton finalmente apareceu, segurando uma bengala, com a voz mais rouca impossível, seus 78 aninhos, e, muito simpático, chamando o público pra participar do show.
Este cara, apesar de seu problema nas cordas vocais, tem agudos e graves impressionantes enquanto toca seu instrumento, ele simplesmente brinca com a gaita. As gaitas, eu diria, porque a coleção de harmônicas era extensa.
Para o show ficar completo faltava um vocalista, e ele se materializou na forma e no espírito de Darrell Nulisch, outro branco e experiente cantor de blues.

Nullisch e Cotton trocaram figurinhas o tempo inteiro, um no vocal outro na gaita, e assim o tempo voou naquela noite. Holland tinha que se conter com sua guitarra. O Mestre pediu, e ele baixou um pouco a bola.

As canções se basearam no que o blues tem de melhor, mas eu destacaria duas músicas de Muddy Waters, aliás, que foi com quem James Cotton começou sua carreira.
A clássica 'Blow Wind Blow', com um vocal impressionante de Nulisch, foi um dos pontos altos do show. Clapton gravou esta canção em 'Another Ticket', mas ouvi-la ao vivo, com Cotton junto, foi um marco.
Outra que não posso esquecer é 'Got My Mojo Working', standard de Waters, que Cotton recuperou e convocou todo mundo para cantar. Nós não decepcionamos Mr. Cotton: levantamos, gritamos e cantamos todos juntos!

James Cotton saiu aplaudido de pé! O Blues agradece!



segunda-feira, 15 de julho de 2013

'Com os Beatles' - 1963




Em novembro, o segundo álbum da melhor banda do planeta, completará 50 anos!

'With The Beatles', começou a ser gravado em julho daquele ano, e devido à inúmeras interrupções pelas crescentes turnês da banda, ele só foi completado em outubro.

Os Beatles seguiram o mesmo plano do primeiro álbum, mesclando composições próprias, sendo sete da dupla Lennon & McCartney, e uma de George Harrison (estreando como compositor), e seis de seus artistas preferidos.
Se o disco 'Please Please Me' fez sucesso apesar - ou por causa - da pressa com que foi gravado, parecendo um álbum ao vivo, neste segundo trabalho, os Beatles aprimoraram seu som.
Ringo Starr, soa muito melhor como baterista, Paul está mais confiante para cantar, George se solta mais nos violões, e Lennon continua dominante nas composições e nos vocais.


Iniciando com o rock agitado de 'It Won't Be Long', John já mostra a que veio. Sempre competitivo, em sua parceria com Paul, desta vez ele queria ter o domínio das ações desde o início. Se esta canção não empolga tanto como 'I Saw Her Standing There', o rockão do disco anterior, ela cumpre bem seu papel de abre-alas. Na sequência, a balada 'All I've Got to Do', é um bonito momento de Lennon, em que as famosas harmonias vocais entre ele e Paul (e George) começam a trilhar seu caminho histórico.

Se John começou o disco pegando pesado, McCartney não deixou por menos. 'All My Loving', pode ser considerada uma das primeiras grandes composições da dupla. Crédito para Paul, que começava a viver seu caso com a atriz Jane Asher. Suas baladas românticas, a partir deste momento, teriam sempre como alvo a bela ruiva de descendência nobre. O solo de guitarra que 'cobre' a música toda, é um dos melhores momentos de George como guitarrista, e um testemunho de que ele idolatrava o guitarrista americano Chet Atkins e o rockabilly de Carl Perkins.

                                                                        Robert Freeman

George Harrison tinha um problema a resolver. Sendo o guitarrista solo da banda, ele em princípio, não se importou em 'apenas' usar e costurar seus 'riffs' em canções da dupla Lennon & McCartney, ou de outros rockeiros da época.
 Porém, George sabia que poderia ir um pouco além disso, apesar de não poder contar com o auxílio de nenhum dos outros companheiros de banda. Assim, sua composição 'Don't Bother Me', não chega a ser uma obra de arte, mas sem dúvida nenhuma, é um início promissor para um compositor que ousaria chegar ao nível dos dois astros da banda. No futuro seu problema maior seria apenas o espaço para suas composições.
'Little Child' é outro rockinho alegre, mas descartável. Paul então, mostra um dos clássicos que cantava desde o tempo das excursões a Hamburgo, na Alemanha e que também fazia parte do repertório do 'Cavern Club': "Till There Was You' de Meredith Wilson.
Marca registrada dos Beatles, estas baladas interpretadas por Macca eram obrigatórias em shows da banda, e levavam as adolescentes ao delírio. Note-se o violão de George, em particular, e o baixo de Paul, discutindo durante toda a música.
John encerra o lado A, com o standart, 'Please Mr. Postman', sucesso já na voz de vários cantores e grupos de Rythm & Blues americanos, uma das fontes em que seguidamente os Beatles iam beber.

                                                                     Astrid Kirchherr

Faço uma pausa aqui para comentar a capa do disco. O fotógrafo australiano Robert Freeman, foi instruído pelos próprios Beatles, sobre como eles deveriam aparecer na capa. A ideia veio do tempo de Hamburgo, em que a fotógrafa alemã Astrid Kirchherr, clicou-os em vários locais, sempre em preto & branco. Impressionados com a técnica de Astrid, os rapazes exigiram uma imagem assim em seu disco, apesar da contrariedade dos altos escalões da EMI, que queriam uma foto mais alegre. Os Beatles venceram, e a foto em preto & branco, com todos os rapazes bem sérios, clicada no corredor de um hotel, ficaria famosa no mundo inteiro, sendo até hoje copiada a exaustão por bandas e artistas modernos.

A cover de Chuck Berry, 'Roll Over Beethoven', seria um ponto alto da banda em sua curta carreira. George está muito inspirado, com sua guitarra passeando altiva pelo tema de Berry, acompanhado com maestria pela batida de Ringo. A voz de pouco alcance de Harrison se adaptou bem a canção. O ritmo é contagiante do início ao fim, e esta gravação ajudou a tornar Chuck Berry conhecido para os mais jovens.

Pulando a 'Hold Me Tight', de Macca, chegamos a outro clássico de Smokey Robinson, chamado 'You Really Got a Hold on Me'. Lennon ataca o vocal com convicção, e a novidade é que George é quem se une a ele na segunda voz. A música fica com um bonito efeito com a voz dos dois em combinação com as harmonias de Paul.


Ringo Starr é convidado a cantar em 'I Wanna Be Your Man', outra canção de Lennon & McCartney. A história desta música é bem conhecida. John e Paul já tinham uma parte dela composta, quando encontraram os Rolling Stones em um clube. O empresário dos Stones, Andrew Loog-Oldham, disse que a banda estava com problemas para conseguir músicas para seu repertório. Paul disse que eles tinham uma canção, mas que não estava terminada. A dupla Paul e John, então se retirou para uma mesa no canto do salão, e a terminou ali na frente dos incrédulos Stones.
A oferta foi bem aproveitada, pois tornou-se o primeiro sucesso de Jagger & cia.

Harrison, bate um recorde de cantar três vezes num mesmo álbum com 'Devil in Her Heart', selecionada novamente no mercado negro americano.
Lennon termina o álbum com 'Not a Second Time', composição sua, e com a rascante 'Money', outo clone americano, cantado no mesmo estilo de 'Twist and Shout' do disco anterior. As harmonias de Paul e George fazem o serviço direitinho, e esta música também se tornaria um item obrigatório nas apresentações futuras.

Os Beatles, mesmo com pouco tempo nos estúdios mostravam sinais de crescimento e seu som se tornava mais maduro. O ano de 1963 consolidou seu sucesso no Reino Unido e na Europa. Tudo o que eles precisavam agora, era de um número 1 na América.
A expectativa era de que em 1964, as coisas começassem a acontecer na terra do Tio Sam! Eles podiam sonhar com isto, mas não tinham a mínima ideia do que os esperava por lá!




domingo, 2 de junho de 2013

Roy Buchanan - O 'Feeling' da Guitarra!




Roy Buchanan, americano do Arkansas, nunca foi um guitarrista conhecido do grande público. Filho de um pastor, a religião teria uma forte influência em sua formação blueseira. Menino-prodígio da guitarra, já tocava seu violão aos 5 anos de idade.
Quando o rock'n'roll surgiu na vida de Roy, no final dos anos 50, ele resolveu encarar a estrada. Sua educação rígida, logo entraria em conflito com a vida de guitarrista itinerante.
Ele formaria em 1960 a banda The Hawks com o canadense Ronnie Hawkins, cujo baixista se chamava Robbie Robertson. Este grupo, mais tarde, evoluiria para o aclamado The Band, já sem a presença de Roy.

Na estrada, Buchanan não se segurava. Bebia pesado, e usava drogas de todos os tipos. Sempre em conflito consigo mesmo, Roy cansou desta vida, e em 1963 se casou com Judy, sua única esposa.
Seu estilo único de tocar guitarra chamou a atenção de gente como Eric Clapton e Jimmy Page. Robbie Robertson, claramente o imitava em seu trabalho na The Band. Roy foi então convidado a gravar.

Infelizmente seu estilo não se adaptava aos estúdios de gravação. Ele queria sempre impor suas próprias composições e sua técnica diferente. Roy não gostava de cantar, o que aumentava a rejeição das gravadoras.
Mesmo com todos os problemas, álbuns como 'Roy Buchanan' (1972), 'Second Album' (1973) e 'In The Beginning' (1974), compõe uma belo retrato sonoro do estilo inovador de Roy com sua inseparável Fender Telecaster.


O verdadeiro Roy Buchanan aparecia nas apresentações ao vivo. Ver o álbum 'Live Stock' (1975). Quando carinhas como Jeff Beck ouviam Roy dedilhar sua Tele em músicas como 'Sweet Dreams', sentiam que estavam presenciando algo único.
Aliás, em 1975 Beck homenageou Roy, dedicando a ele a canção 'Cause We've Ended as Lovers', composta por Stevie Wonder!
As gravações continuavam a não satisfazer o perfeccionismo de Buchanan que trocou de gravadora, passando da Polydor para a Atlantic. Na Atlantic, ele lançou dois álbuns interessantes: 'A Street Called Straight' (1976) e 'You're Not Alone' (1978), mas sempre com pouca repercussão.
Com problemas financeiros, agravados por suas bebedeiras e vícios diversos, seu estilo de vida começou a cobrar seu preço, fazendo com que sua guitarra ás vezes ficasse em segundo plano.

Em um último esforço, Roy gravou três álbuns para o selo Alligator, em que finalmente os resultados o deixaram satisfeito. 'When a Guitar Plays the Blues' (1985), 'Dancing on the Edge' (1986) e 'Hot Wires' (1987), mostram um guitarrista maduro, mas com seu feeling de garoto do Arkansas ainda intocado.


Em agosto de 1988, no interior da Virginia, Buchanan foi preso na madrugada por bebedeira e desordem. Ao amanhecer estava morto. Ele teria supostamente cometido suicídio, enforcando-se na cela. Os amigos que viram seu corpo notaram vários hematomas, e acusaram os policiais da Viginia, famosos por sua truculência. Nada ficou provado.
Perdemos assim, o 'melhor guitarrista desconhecido' do mundo!

Em rara entrevista, tentando explicar seu talento, Roy comentou: "Acho que é o feeling, o sentimento que ponho nas coisas. Existem vários guitarristas mais técnicos que estão no rádio todo dia, mas quando as pessoas me ouvem no rádio, elas sabem imediatamente que sou eu. É o feeling e a simplicidade".

Feeling e simplicidade de um cara único, chamado Roy Buchanan!!!









quarta-feira, 17 de abril de 2013

'Vida e Obra de Johnny McCartney' - Leno




Quem não lembra da Jovem Guarda e da dupla Leno e Lilian? O compacto simples da dupla com 'Devolva-me' no lado A e 'Pobre Menina', lançado em 1966, é provavelmente o de maior sucesso de todos os tempos no Brasil.

Pois bem. No final de 1970, Gileno Azevedo, mais conhecido como Leno, estava em plena carreira solo. Um dos músicos que participava do trabalho de composição e da produção do próximo disco de Leno, era um tal de Raulzito!
Sim, pessoal, Raul Seixas antes de estourar com sua música 'Ouro de Tolo' em 73, participava dos trabalhos dos amigos, e era produtor da CBS.
O álbum que viria a se chamar 'Vida e Obra de Johnny McCartney', acabou esbarrando nos censores da ditadura. O projeto foi abortado por tempo indeterminado, e cada um seguiu seu caminho.
Em 1995 a gravadora de Leno achou estas fitas em algum baú e o lançou em CD com pouca repercussão.


Foi somente em 2008 quando os direitos sobre a obra foram cedidos por Leno a 'Lion Records', gravadora norte-americana, que o Cd foi relançado lá fora. Tive agora o privilégio de receber este disco enviado pelo próprio Leno e confesso que me surpreendi com a qualidade do trabalho.
O álbum vem com um encarte muito legal, em inglês, contando toda a carreira de Leno e com as letras das canções.
Quem participou do trabalho foi o grupo 'A Bôlha', dando um tratamento bem rock ás canções de Leno e Raulzito. O álbum, além do bom e velho rock'n'roll, puxa para o lado do pós-tropicalismo.

 Leno, que sempre foi ótimo músico e compositor, esbanja seu talento em canções como 'Por Que Não?', 'Não Há Lei Em Grillo City', e 'Deixo o Tempo Me Levar', todas composições suas. As letras, apesar de em sua maioria, parodiar e dar pequenos 'toques' na ditadura militar, não soam datadas.
Sua parceria com Raulzito na faixa-título ('Johnny McCartney') é um rock de arrepiar.
''Pobre do Rei' é uma música que Leno ganhou de presente de Marcos Valle. Na época Leno namorava a irmã de Marcos, e além de compô-la, Marcos também tocou piano elétrico na gravação. Sem dúvida, um ponto alto do disco. 'Peguei uma Apollo' de Arnaldo Brandão, se tornou um clássico 'cult' instantâneo para a geração anos 70.


Todo o álbum parecia a frente de seu tempo, por isso soa tão atual nos dias de hoje.
As outras composições com Raul, incluem a deliciosa 'Sr. Imposto de Renda', já naquela época reclamando do apetite do 'leão', a bela melodia de 'Convite para Ângela', que depois Raulzito transformaria na canção 'Sapato 36' e 'Sentado no Arco-Íris', que em seguida Leno cantaria no Festival Internacional da Canção de 1971, driblando os censores.
Este trabalho foi gravado entre novembro de 1970 e janeiro de 71 nos estúdios da CBS em 8 canais.

Apesar dos 42 anos de atraso até eu ter contato com este trabalho, fiquei com a sensação que a vida e a obra de Johnny McCartney poderia ter sido lançado hoje.
Leno, continua sua carreira lançando álbuns, DVDs e se apresentando ao vivo. Ele também lançou outro CD exclusivamente com as canções em dupla com Raul Seixas que tive o prazer de receber autografado.

Viva o rock nacional!        


quinta-feira, 4 de abril de 2013

Mr. Eric Clapton - 'Old Sock'!




Tenho ouvido muitas críticas negativas ao último disco de Mr. Eric Clapton lançado mês passado no mundo todo.
Confesso que não entendo as pessoas que criticam os trabalhos de figuras como ele, Paul McCartney, Bob Dylan, etc... O que mais esperam deles??

Clapton sempre foi uma pessoa que procurou evoluir em sua música, e na sua própria vida.
Do guitarrista que tocava 'blues puro' com os 'Yardbirds' (saiu porque a banda estava ficando comercial), e com os 'Bluesbreakers' de John Mayall, Clapton decidiu arriscar e montar um 'power trio' com Jack Bruce e Ginger Baker, o famoso 'Cream'!
A partir daí ele começaria a misturar o bom e velho rock e a compor e cantar, coisa que anteriormente não ousava.
No início de sua carreira-solo, ele enveredou por um lado mais swingado em álbuns como '461 Ocean Boulevard' e 'There's One in Every Crowd''. Muitos já não o entendiam. Queriam de volta o 'deus' da guitarra!!


As pessoas mudam e evoluem, Clapton é o melhor exemplo.
Em seus últimos trabalhos, ele já vinha mostrando sinais de que sua paixão passou a ser o jazz. Mas jazz ao estilo de Clapton.
Álbuns como 'Back Home' (2005), mais pesado, e 'Clapton' (2010) já delineavam com clareza a nova investida jazzistica de EC. Esta proposta chegou ao auge, quando EC se juntou a Wynton Marsalis e sua banda, para shows ao vivo que resultou no brilhante 'Play the Blues', um dos melhores álbuns de 2011!

Neste seu novo trabalho, 'Old Sock', EC faz uma mescla de canções que lhe caem bem aos ouvidos. Nada radical, porém o foco aqui passou a ser a  harmonia, o vocal, o trabalho em conjunto, a música, enfim, e não as guitarras!
Claro que Mr. Clapton não dispensa seus solos, mas eles soam deveras contidos.

Sua escolha de repertório varia de clássicos dos anos 30, como 'The Folks Who Live on the Hill' de Hammerstein e 'Goodnight Irene' de Lead Belly, passando por country-music, com a bonita 'Born to Lose', composta em 1943, e chegando a um território bem conhecido de EC, o reggae de Peter Tosh em 'Till Your Well Runs Dry'.


Há convidados importantes no disco: Taj Mahal compôs, toca banjo e faz harmonia com Clapton na música de abertura 'Further On Down the Road', também em ritmo de reggae. Seu amigo J.J. Cale, parceiro do disco 'The Road to Escondido' em 2006, volta a acompanhar Clapton em 'Angel', uma canção sua de 1981.
A parceria mais importante porém, foi com Paul McCartney, que acompanha o vocal de EC em 'All of Me', além de tocar baixo acústico, os dois super contidos.

Surpresas no repertório? Acho que não. Talvez 'Still Got the Blues' de Gary Moore, tocada de forma emocional, mas ao mesmo tempo austera. Ela tem um belo arranjo de cordas, e um órgãozinho maneiro tocado por Steve Winwood.
 Gostei muito de 'Your One and Only Man' de Otis Redding, na qual EC se solta mais, mas sempre com o reggae em vista.
Canções novas? Apenas duas. Ambas de seu 'aluno' Doyle Bramhall II: 'Gotta Get Over', muito legalzinha, com Chaka Khan acompanhando nos vocais e 'Every Little Thing' (não é a dos Beatles)!!

Mr. Eric Clapton encerra os trabalhos com outro standard: 'Our Love is Here to Stay' de George Gerhwin, deixando claro que este será o seu caminho daqui pra frente, até a aposentadoria, que, segundo ele, será daqui a dois anos apenas.


Tudo pode mudar! Como EC está sempre evoluindo, podemos também esperar mudanças significativas de uma hora para outra! As capas externas e internas do álbum sugerem uma eterna e inexorável mudança do tempo. Clapton pensa em sua música e em si mesmo deste mesmo jeito? Pode ser!

Atualmente, Clapton encontra-se em plena turnê norte-americana, e já está se preparando para a 4ª edição do 'Crossroads Guitar Festival 2013', em 12 e 13 de abril no Madison Square Garden, já com lotação esgotada. Este festival que acontece de 3 em 3 anos, tem toda sua renda destinada para 'Crossroads Foundation'. Esta ONG bancada por EC auxilia os ex-viciados em drogas e álcool.

Vida longa ao 'slowhand'!!!      



terça-feira, 2 de abril de 2013

Who Breaks a Butterfly on a Wheel?




Ultimamente com a onda dos 50 anos dos Stones a pleno vapor, me deixei contaminar por esta febre.
 Em 2010 eu já havia lido a antológica auto-biografia de Keef, chamada 'Vida'.
No início do ano passado passei os olhos pelo interessante livro 'Under Their Thumb' de Bill German, um relato bem legal de um fã que vivenciou a 'stonemania' dos anos 70 e 80.
Pouco tempo atrás terminei a auto-biografia de Ron Wood, que se não foi uma maravilha como a de Keith, tem muita curiosidade incrustada naquelas páginas, e mostra o brincalhão Woodie, exatamente como eu o imaginava: um festeiro de primeira linha!

Um outro livro chamou minha atenção nos últimos dias, e o estou devorando como se fosse um chocolate de Páscoa! Trata-se de 'Encurralados - Os Stones no Banco dos Réus' (Madras, 2012), de Simon Wells.
Como podemos ver pelo título, o livro trata dos problemas (que não foram poucos) dos Stones com a justiça.

Começando a ter que prestar contas a Lei em 1964, por urinarem do lado de fora de um posto de gasolina, até os sérios problemas de Keith com a heroína, o livro não é apelativo, e mostra com clareza como os caras foram perseguidos, principalmente nos anos 60, por forças reacionárias, determinadas a vê-los atrás das grades.
O ponto alto da pesquisa de Wells, nos leva a famosa festa realizada em 'Redlands', casa recém comprada por Richards, em fevereiro de 1967.


Ninguém havia programado uma festa, mas a ocasião serviria para o já iniciado Keef, apresentar o LSD para seu parceiro Mick Jagger, e então eles se tornariam - era o que se esperava - pessoas mais próximas.
Além de Keef e Mick, que trouxe sua namorada Marianne Faithfull, quem também apareceu foi o marchand Robert Fraser, amigo da dupla. Quem não poderia faltar também, era o fotógrafo Michael Cooper, amigo de Fraser, e que se tornaria íntimo de Keith. Cooper imortalizou imagens da ocasião - principalmente de Keith na praia - e depois também seria obrigado a clicá-los algemados!!
 Brian Jones e sua ainda namorada Anita Pallenberg, foram barrados, após Keith ir buscá-los em casa, e presenciar outra de suas famosas brigas! Ela logo trocaria Brian por Keef!
Robert Fraser trouxe seu mordomo particular, chamado Mohammed Jajaj, e outro penetra foi um jovem conhecido por Nicky Kramer, que quase não abriu a boca durante a reunião festiva, e depois atrairia muitas suspeitas.
De longe, o furão mais chamativo e simpático, era o canadense David Schneiderman, mais conhecido nos EUA como o 'Rei do Ácido', que havia conhecido Keith em Los Angeles, e agora se infiltrara no mundo dos Stones em Londres. Entre os amigos, comentava-se que um dos objetivos maiores de Schneiderman na Inglaterra, era o de 'batizar' os reservatórios de água potável inglesa com seu produto alucinógeno!


O tal encontro que começara no sábado por volta da meia-noite, com os caras apenas relaxando com maconha, haxixe, e outros afins, pegaria fogo no dia seguinte, com passeios na beira da praia, música a todo volume o dia inteiro (incluindo The Who e 'Blonde on Blonde' de Dylan), e viagens com o ácido lisérgico.
Outros visitantes que surgiram no domingo à tarde, incluíam o beatle George Harrison e sua esposa Pattie, além de seu assessor Tony Bramwell.
Após o passeio na praia, Marianne Faithfull, que na época iniciava relacionamento com Jagger, resolveu tomar um banho. Como ela havia esquecido de trazer outra muda de roupa, ela se enrolou em uma colcha toda forrada de pele. E desta maneira, vestida somente com a tal colcha - mas parecendo um casaco de pele - desceu para a sala para usufruir do restante da festa. Este incidente ficaria famoso, inclusive tendo sido criado um boato infame de que além de nua, Marianne também estava 'portando' uma barra de chocolate 'Mars' em uma parte íntima de seu corpo, barra esta que Mick estaria degustando!

O que ninguém no local sabia, era que a polícia havia sido avisada por jornalistas do diário 'News of the World', que estava rolando uma 'drug party' - ou festa a base de narcóticos - na mansão. O jornal queria assim vingar-se de Mick Jagger, que os processava por calúnia.
Coincidência ou não, Harrison e Pattie, saíram da casa pouco antes das 20.00 hrs, quando um batalhão policial, munido de um mandado de busca, invadiu pacificamente a mansão de Keef.
Moral da história: em uma revista completa na casa e nos hóspedes dela, acharam-se algumas substâncias proibidas.
 Mick, tinha um frasco de benzedrina com 4 comprimidos esquecidos no bolso, desde uma viagem ao exterior onde eles eram permitidos e Robert Fraser, foi flagrado com uma pequena quantidade de heroína. Os dois, além de Keith que era o dono da casa, e, supostamente permitia o uso de drogas em sua residência, foram dias mais tarde indiciados e levados à juri. Schneiderman foi revistado, mas uma maleta que portava, não!
Todos, é claro, seriam julgados por um tribunal hiper conservador, que queria torná-los um exemplo para os jovens do Reino Unido.
 Jagger, Richards e Robert Fraser foram condenados a prisão e multados.
Eles chegaram a ser fotografados algemados uns aos outros, com Jagger tentando forçar um sorriso, mas completamente apavorado.
Durante sua curta estadia vendo o sol nascer quadrado, Jagger compôs '2000 Light Years From Home' e 'We Love You', mostrando seu desespero e solidão.


Marianne Faithfull, não foi acusada no tribunal, mas foi citada como uma certa 'Madame X', que circulava praticamente nua pela festa, provavelmente sobre o efeito de hipnóticos. A imprensa só precisou somar 2 + 2 pra descobrir quem era a tal Madame X, e no dia seguinte fotos de Marianne, embora não citada abertamente como a  Madame, estampavam a primeira página de vários diários ingleses.

A dúvida que ficou foi de quem os 'entregou' pro 'News of the World'.
Nick Kramer, mesmo agredido por seguranças dos Stones, dias depois, negou ser o dedo-duro. O 'Rei do Ácido' Schneiderman, (que portava sempre a tal maleta com todo tipo de substâncias proibidas), sumiu dois dias depois da festa, tendo deixado a Inglaterra apressadamente, com um de seus vários passaportes falsos. Keith, em sua biografia, diz ter certeza que foi seu motorista na época, chamado 'Patrick', quem os denunciou.

Após recorrer da sentença, Mick e Keith seriam soltos após alguns dias sob fiança (altíssima), e mais tarde venceriam um recurso em alta instância. Fraser, por portar uma droga pesada, pagou o pato e ficaria preso por alguns meses!

Um fato que ajudou muito a defesa de Jagger e Richards, foi o editorial do 'The Times', um dos jornais mais conceituados de toda a Inglaterra. Seu editor chamado William Rees-Mogg, apesar de também conservador, não achou justa a sentença de Jagger.
 Ele escreveu o editorial 'Who Breaks a Butterfly on a Wheel'? (Quem Submete uma Borboleta à Roda do Suplício?), o título vindo de um verso do poema 'Epistle to Dr. Arbuthnot', de Alexander Pope, poeta do século XVIII.
Rees-Moog, discorreu no editorial, sobre a incoerência de uma pena exemplar para um delito pequeno, apenas porque os acusados eram famosos! A repercussão foi enorme!
Batalha ganha, os Stones seguiram em frente, mas a perseguição continuaria pelos anos seguintes. A vítima seguinte seria Brian Jones!

O poema de William Blake que abre os trabalhos do livro, serve de epitáfio para os problemas dos Stones:


                               O JARDIM DO AMOR

                                Deitei-me à margem do rio
                                   Onde o amor dormia;
                                      Cujo lamento frio
                                Pela relva gemia e gemia.

                            Para os campos e desertos rumei,
                           Onde cardos e desolação encontrei,
                           Que me contaram como ludibriados
                           Foram expulsos e à solidão relegados.

                                Segui para o Jardim do Amor;
                                  E vi o que jamais avistara;
                                Uma Capela erguida no centro
                                 Do gramado onde eu brincara.

                                    Portões fechados encontrei,
                                  "Não entreis", lia-se na entrada.
                               Então ao Jardim do Amor me voltei,
                                   E às doces flores que ostentara.

                                     Mas repleto de sepulturas o vi
                                     Com lápides em vez de flores;
                                       E padres de negro vagavam,
                               Sufocando com espinhos meus ardores.