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sábado, 29 de dezembro de 2012

Porque o Vinil?




Em meados dos anos 80, eu tinha uma vasta coleção dos então chamados LP (Long Play). Eu fui criado na década de 60, em que minhas irmãs, juntamente com nossos primos e primas que vinham de Porto Alegre e Rio Grande, se reuniam na casa de meus avós, para, numa eletrola daquelas antigas, que era um móvel por si só, ouvir os últimos lançamentos da música.
A preferência musical deles, é claro, era a 'Jovem Guarda'. Os discos de Roberto e Erasmo Carlos, Eduardo Araújo e Wanderléa, estavam sempre entre os mais ouvidos. Lá em casa numa vitrolinha portátil, elas também ouviam Beatles! Lembro muito bem de uma audição em Compacto Simples (sim, também existia os CS (single) e Compactos Duplos (EP), com duas músicas de cada lado do single) da canção 'Hey Jude', e que já na época me parecia muito longa! Bem, eu tinha apenas 9 anos de idade!


Voltando pros anos 80, minha coleção de vinis, como falei, tomava espaços cada vez maiores de meu pequeno quarto.Quando em 1987, comprei a novidade que todo mundo comentava - um aparelho de CD (Cd Player) - não levava muita fé, mas fui seduzido pela praticidade do formato (você não precisava virar o disco) e pelo pouco espaço necessário para guardar os CDs. Além, é claro, do término do então chato 'chiado na agulha'! Depois vim a saber que estes chiados, eram causados principalmente pela baixa qualidade dos vinis fabricados nos anos 80 - a indústria da música já estava pensando somente no CD -, e em princípio curti aquele silêncio entre as músicas!

Contra o CD havia a dificuldade durante um certo tempo de se conseguir os lançamentos do mercado, mas isto logo foi superado. O preço também era um empecilho e tornava proibitivo você adquirir muitos exemplares.
Além disso, outras duas questões começaram a me incomodar na mídia CD.


Como sabem os meus amigos, sou fã dos Beatles, e os CDs lançados em 1987 da banda, aqui no Brasil, eram uma verdadeira piada, só que de mau-gosto!
O som abafado, não remasterizado, e com um stereo completamente artificial, me deixou decepcionado. Sei que muita gente, principalmente os mais jovens, não reclamaram, porque estavam conhecendo a música dos Beatles naqueles CDs, mas quem conhecia o som da banda em vinil, não engoliu aquela edição.
 Álbuns como 'Rubber Soul', principalmente, me soaram muito mal! As canções 'Drive My Car' e 'If I Needed Someone', com o tal 'stereo fabricado', não se tornaram audíveis para mim!
É óbvio que o som do CD foi aperfeiçoado com o tempo, e, finalmente em 2009, os Beatles remasterizados em CD, chegaram para corrigir esta falha.
Outra coisa que sempre me incomodou no CD, era o fato de que ele na verdade era uma miniatura do LP, inclusive a capa. Então você perdia muito da arte original das capas, que num tamanho muito menor, não tinha o mesmo efeito. Sem falar no fato de você ter de ler com uma lupa o nome das canções. Vieram, sim, há algum tempo as edições de luxo, remixadas e remasterizadas, embaladas em grandes caixas, com enormes booklets, e isto também melhorou a qualidade visual (embora muitas delas com preços proibitivos).


Quem ganhou espaço com tudo isso foi o formato digital. A maioria dos jovens passou a 'baixar' as músicas, e o CD passou quase a ser um objeto decorativo nas prateleiras das lojas. Sinceramente, não pelo ato de fazer o download da canção, mas muito mais pelo fato, de você não ter toda a capinha original, e as informações contidas nela, o CD 'pirata' ou as 'cópias' como chamam, nunca me fez a cabeça!
Eu continuo preferindo a obra original do artista que quero ouvir, e não músicas ou álbuns 'baixados'. Paga-se um preço caro, mas para quem é fã, tenho certeza de que vale a pena. Além do mais, comprando o original, você valoriza muito mais a obra de seus ídolos.

Então, atualmente, tenho uma coleção de CDs, quatro vezes maior que de vinis. Além, de como já falei, a facilidade da audição ser uma das qualidades do CD, acabei  me desfazendo nos anos 90 de mais de 200 vinis por falta de espaço.
Mas eis que o vinil volta a ganhar força lá fora! Com uma qualidade de deixar babando os aficcionados por música dos velhos tempos!
Agora temos relançamento de obras de artistas 'top' em vinil de 180 grs.! Um vinil pesado e de alta qualidade. Você já acha nas melhores lojas do Brasil estes LPs importados. Outro segmento que ganha força a cada dia, é o de vinil usado, em que você encontra verdadeiras pérolas do gênero, se tiver tempo e paciência para garimpar.


Artistas como Bob Dylan e Paul McCartney - para citar só dois - lançaram seus últimos trabalhos em vinil, além de CD e DVD. Estes trabalhos muitas vezes são transformados em vinil 'duplo' para não comprimir todas as canções em apenas um vinil, e perder qualidade sonora. Sim, o preço é salgado, por enquanto, mas a tendência, com certeza é de que com a demanda cada vez maior, ele baixe.

Esta semana recebi a caixa de vinis 'The Beatles'. São todos os seus 13 álbuns de estúdio (mais o Past Masters) remasterizados em vinil, além de um enorme livro de capa dura. Edição definitiva, sem dúvida, das gravações originais da maior banda que o planeta já ouviu. A caixa pesa mais de 10 kgs, para se ter ideia. Agora o som..... Sai de baixo! Seu 'toca-discos', tem de estar em forma, claro! Sua agulha - você consegue repô-la no mercado - também! O resto é só a qualidade musical desta mídia, que está voltando para ficar!

Vou começar a procurar espaço....







quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

25 Anos de 'Cloud Nine'




No início de 1987, George Harrison voltava de um período de retiro. Ele ficara 5 anos sem gravar, dando atenção a família, e a seu maior hobby, a jardinagem!
Poucos estavam preparados naquela época para um álbum como 'Cloud Nine', que lançado em novembro daquele ano chegou ao topo das paradas com o single 'Got My Mind Set on You'! Mas ele foi muito mais que um single. Sugiro ao caro leitor que faça uma audição deste disco agora que completamos 25 anos de seu lançamento. Tenho certeza que vocês descobrirão sempre coisas novas brotando da genialidade de George, Eric, Elton John, Ringo, etc...  


                                Cloud Nine – George no paraíso*


Após um início de carreira solo arrasador, que incluíram o álbum triplo “All Things Must Pass” e o show beneficente para Bangladesh, George Harrison entrou num período típico de inferno astral.
Em 1973, sua esposa Pattie o trocou pelo amigo de longa data, Eric Clapton. No ano seguinte, ele tentou excursionar pelos Estados Unidos, mas fracassou. George tinha decidido mudar o arranjo da maioria das músicas, e o público não aceitou esta mudança. Além disso, ele estava com um problema crônico na voz que atrapalhava seu desempenho vocal.
Tempos depois, George reencontrou a alegria de viver nos braços da mexicana Olivia Arias e, após ser pai de Dhani em 1981, resolve retirar-se do show bizz.
Seu último álbum seria o medíocre “Gone Troppo” de 1982.
Depois de cinco anos de aposentadoria, aproveitados para meditar, viajar e aprender noções avançadas de jardinagem, George sentiu que era hora de voltar aos estúdios.



Com o ânimo renovado e inspirado pela vida feliz que levava com Olivia e o pequeno Dhani, George faz parceria com Jeff Lynne, ex- Electric Light Orchestra, que iria tocar baixo, guitarra , teclados e co-produzir o álbum com Harrison. Na bateria, o amigo de sempre Ringo Starr dá as cartas, junto com o talento do músico de estúdio brilhante e sempre requisitado Jim Keltner. Para o piano, além de outro amigo, Gary Whright, o grande destaque foi a participação de Elton John, considerado como um ‘tio’ por Harrison. Para auxiliar George nos solos de guitarra, Eric Clapton também se fez presente.


Com este time de craques bem entrosados, Harrison entra no estúdio particular de sua casa, em Friar Park, em janeiro de 1987, para as gravações que se estenderiam até março.

Ao admirarmos a bela capa de ‘Cloud Nine’, já temos uma pista de qual seria a tônica do álbum: George posa com uma guitarra ‘Gretsch’ anos 50, que ele tocava nos áureos tempos antes de ser famoso. Essa guitarra seria perdida e anos depois, recuperada por George. Ele nos mostrava, assim, que queria resgatar o ritmo dos velhos tempos, mas com uma roupagem totalmente nova.

A canção que inicia os trabalhos é a faixa-título Cloud Nine, posicionando sem preâmbulos o ouvinte sobre qual seria a base do disco – as afiadíssimas guitarras de Clapton e o vocal inconfundível de Harrison de volta a velha forma.
O rock alegrinho de Fish on the Sand, segura bem o ritmo do disco enquanto a balada Just for Today é Harrison em um de seus melhores momentos como compositor e cantor.
Uma parceria de George com Jeff Lynne, This is Love, também se destaca no lado A, em que o grande atrativo acaba sendo uma composição de George sobre os velhos tempos dos Beatles, a antológica When We Was Fab.
Harrison, que sempre relutou em recordar aqueles tempos em que a banda reconhecidamente era a melhor do planeta, compôs uma música resgatando aquela época sem ser nostálgica e conseguindo criar uma atmosfera anos 60  sem soar antiga.



Devil’s Radio, o rock mais forte do álbum abre o lado 2, mostrando um estilo de tocar guitarra que lembra o grande ídolo de George, Carl Perkins.
A simplicidade e pureza de Someplace Else, mais uma balada romântica de George, não nos deixa esquecer que não era apenas Paul McCartney que sabia compor músicas lentas na fase Beatle de suas carreiras.
Finalmente, quem rouba o show é uma cover de uma música dos anos 50, Got My Mind Set On You, que lançada em single chegou ao primeiro lugar na América. Sem dúvida, foi uma grande e merecida surpresa para Harrison ter mais uma vez uma canção interpretada por ele liderando as paradas.

A previsão - e esperança - de todos nós era a de que George se entusiasmasse com o sucesso do álbum e retomasse de maneira mais efetiva sua carreira solo, compondo e lançando mais discos.
Não foi o que aconteceu.

Em 1988, ele ainda se reuniria a Bob Dylan, Tom Petty, Jeff Lynne e Roy Orbison e formaria o supergrupo de astros Traveling Wilburys, tendo relativo sucesso em dois álbuns lançados no intervalo de três anos.
Estimulado por Clapton, Harrison faz algumas apresentações no Japão em 1991, com a participação do próprio Clapton e sua banda. George não parecia muito animado, mas relembrou seus sucessos antigos e várias músicas do tempo dos Beatles. Estes shows seriam eternizados no cd duplo ‘Live in Japan’.



Após estas apresentações, George silenciou novamente. A partir de então, seu principal passatempo e verdadeira paixão passou a ser a jardinagem.
Simultaneamente quando a produtora de cinema de Harrison, a ‘Handmade Films’ abre falência, ele participa junto a seus ex-parceiros Ringo Starr e Paul McCartney do projeto “Anthology’, resgatando a memória dos Beatles para os jovens dos anos 90.

Por melhor que tenham sido todos esses trabalhos posteriores de George Harrison nenhum deles chegou perto do criativo e ousado mergulho no passado – mas com um olho no futuro – de “Cloud Nine”. 


*Texto Escrito para o livro 'Alto & Bom Som - Ruidos, Chiados e Pinceladas Musicais'.