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quarta-feira, 17 de abril de 2013

'Vida e Obra de Johnny McCartney' - Leno




Quem não lembra da Jovem Guarda e da dupla Leno e Lilian? O compacto simples da dupla com 'Devolva-me' no lado A e 'Pobre Menina', lançado em 1966, é provavelmente o de maior sucesso de todos os tempos no Brasil.

Pois bem. No final de 1970, Gileno Azevedo, mais conhecido como Leno, estava em plena carreira solo. Um dos músicos que participava do trabalho de composição e da produção do próximo disco de Leno, era um tal de Raulzito!
Sim, pessoal, Raul Seixas antes de estourar com sua música 'Ouro de Tolo' em 73, participava dos trabalhos dos amigos, e era produtor da CBS.
O álbum que viria a se chamar 'Vida e Obra de Johnny McCartney', acabou esbarrando nos censores da ditadura. O projeto foi abortado por tempo indeterminado, e cada um seguiu seu caminho.
Em 1995 a gravadora de Leno achou estas fitas em algum baú e o lançou em CD com pouca repercussão.


Foi somente em 2008 quando os direitos sobre a obra foram cedidos por Leno a 'Lion Records', gravadora norte-americana, que o Cd foi relançado lá fora. Tive agora o privilégio de receber este disco enviado pelo próprio Leno e confesso que me surpreendi com a qualidade do trabalho.
O álbum vem com um encarte muito legal, em inglês, contando toda a carreira de Leno e com as letras das canções.
Quem participou do trabalho foi o grupo 'A Bôlha', dando um tratamento bem rock ás canções de Leno e Raulzito. O álbum, além do bom e velho rock'n'roll, puxa para o lado do pós-tropicalismo.

 Leno, que sempre foi ótimo músico e compositor, esbanja seu talento em canções como 'Por Que Não?', 'Não Há Lei Em Grillo City', e 'Deixo o Tempo Me Levar', todas composições suas. As letras, apesar de em sua maioria, parodiar e dar pequenos 'toques' na ditadura militar, não soam datadas.
Sua parceria com Raulzito na faixa-título ('Johnny McCartney') é um rock de arrepiar.
''Pobre do Rei' é uma música que Leno ganhou de presente de Marcos Valle. Na época Leno namorava a irmã de Marcos, e além de compô-la, Marcos também tocou piano elétrico na gravação. Sem dúvida, um ponto alto do disco. 'Peguei uma Apollo' de Arnaldo Brandão, se tornou um clássico 'cult' instantâneo para a geração anos 70.


Todo o álbum parecia a frente de seu tempo, por isso soa tão atual nos dias de hoje.
As outras composições com Raul, incluem a deliciosa 'Sr. Imposto de Renda', já naquela época reclamando do apetite do 'leão', a bela melodia de 'Convite para Ângela', que depois Raulzito transformaria na canção 'Sapato 36' e 'Sentado no Arco-Íris', que em seguida Leno cantaria no Festival Internacional da Canção de 1971, driblando os censores.
Este trabalho foi gravado entre novembro de 1970 e janeiro de 71 nos estúdios da CBS em 8 canais.

Apesar dos 42 anos de atraso até eu ter contato com este trabalho, fiquei com a sensação que a vida e a obra de Johnny McCartney poderia ter sido lançado hoje.
Leno, continua sua carreira lançando álbuns, DVDs e se apresentando ao vivo. Ele também lançou outro CD exclusivamente com as canções em dupla com Raul Seixas que tive o prazer de receber autografado.

Viva o rock nacional!        


quinta-feira, 4 de abril de 2013

Mr. Eric Clapton - 'Old Sock'!




Tenho ouvido muitas críticas negativas ao último disco de Mr. Eric Clapton lançado mês passado no mundo todo.
Confesso que não entendo as pessoas que criticam os trabalhos de figuras como ele, Paul McCartney, Bob Dylan, etc... O que mais esperam deles??

Clapton sempre foi uma pessoa que procurou evoluir em sua música, e na sua própria vida.
Do guitarrista que tocava 'blues puro' com os 'Yardbirds' (saiu porque a banda estava ficando comercial), e com os 'Bluesbreakers' de John Mayall, Clapton decidiu arriscar e montar um 'power trio' com Jack Bruce e Ginger Baker, o famoso 'Cream'!
A partir daí ele começaria a misturar o bom e velho rock e a compor e cantar, coisa que anteriormente não ousava.
No início de sua carreira-solo, ele enveredou por um lado mais swingado em álbuns como '461 Ocean Boulevard' e 'There's One in Every Crowd''. Muitos já não o entendiam. Queriam de volta o 'deus' da guitarra!!


As pessoas mudam e evoluem, Clapton é o melhor exemplo.
Em seus últimos trabalhos, ele já vinha mostrando sinais de que sua paixão passou a ser o jazz. Mas jazz ao estilo de Clapton.
Álbuns como 'Back Home' (2005), mais pesado, e 'Clapton' (2010) já delineavam com clareza a nova investida jazzistica de EC. Esta proposta chegou ao auge, quando EC se juntou a Wynton Marsalis e sua banda, para shows ao vivo que resultou no brilhante 'Play the Blues', um dos melhores álbuns de 2011!

Neste seu novo trabalho, 'Old Sock', EC faz uma mescla de canções que lhe caem bem aos ouvidos. Nada radical, porém o foco aqui passou a ser a  harmonia, o vocal, o trabalho em conjunto, a música, enfim, e não as guitarras!
Claro que Mr. Clapton não dispensa seus solos, mas eles soam deveras contidos.

Sua escolha de repertório varia de clássicos dos anos 30, como 'The Folks Who Live on the Hill' de Hammerstein e 'Goodnight Irene' de Lead Belly, passando por country-music, com a bonita 'Born to Lose', composta em 1943, e chegando a um território bem conhecido de EC, o reggae de Peter Tosh em 'Till Your Well Runs Dry'.


Há convidados importantes no disco: Taj Mahal compôs, toca banjo e faz harmonia com Clapton na música de abertura 'Further On Down the Road', também em ritmo de reggae. Seu amigo J.J. Cale, parceiro do disco 'The Road to Escondido' em 2006, volta a acompanhar Clapton em 'Angel', uma canção sua de 1981.
A parceria mais importante porém, foi com Paul McCartney, que acompanha o vocal de EC em 'All of Me', além de tocar baixo acústico, os dois super contidos.

Surpresas no repertório? Acho que não. Talvez 'Still Got the Blues' de Gary Moore, tocada de forma emocional, mas ao mesmo tempo austera. Ela tem um belo arranjo de cordas, e um órgãozinho maneiro tocado por Steve Winwood.
 Gostei muito de 'Your One and Only Man' de Otis Redding, na qual EC se solta mais, mas sempre com o reggae em vista.
Canções novas? Apenas duas. Ambas de seu 'aluno' Doyle Bramhall II: 'Gotta Get Over', muito legalzinha, com Chaka Khan acompanhando nos vocais e 'Every Little Thing' (não é a dos Beatles)!!

Mr. Eric Clapton encerra os trabalhos com outro standard: 'Our Love is Here to Stay' de George Gerhwin, deixando claro que este será o seu caminho daqui pra frente, até a aposentadoria, que, segundo ele, será daqui a dois anos apenas.


Tudo pode mudar! Como EC está sempre evoluindo, podemos também esperar mudanças significativas de uma hora para outra! As capas externas e internas do álbum sugerem uma eterna e inexorável mudança do tempo. Clapton pensa em sua música e em si mesmo deste mesmo jeito? Pode ser!

Atualmente, Clapton encontra-se em plena turnê norte-americana, e já está se preparando para a 4ª edição do 'Crossroads Guitar Festival 2013', em 12 e 13 de abril no Madison Square Garden, já com lotação esgotada. Este festival que acontece de 3 em 3 anos, tem toda sua renda destinada para 'Crossroads Foundation'. Esta ONG bancada por EC auxilia os ex-viciados em drogas e álcool.

Vida longa ao 'slowhand'!!!      



terça-feira, 2 de abril de 2013

Who Breaks a Butterfly on a Wheel?




Ultimamente com a onda dos 50 anos dos Stones a pleno vapor, me deixei contaminar por esta febre.
 Em 2010 eu já havia lido a antológica auto-biografia de Keef, chamada 'Vida'.
No início do ano passado passei os olhos pelo interessante livro 'Under Their Thumb' de Bill German, um relato bem legal de um fã que vivenciou a 'stonemania' dos anos 70 e 80.
Pouco tempo atrás terminei a auto-biografia de Ron Wood, que se não foi uma maravilha como a de Keith, tem muita curiosidade incrustada naquelas páginas, e mostra o brincalhão Woodie, exatamente como eu o imaginava: um festeiro de primeira linha!

Um outro livro chamou minha atenção nos últimos dias, e o estou devorando como se fosse um chocolate de Páscoa! Trata-se de 'Encurralados - Os Stones no Banco dos Réus' (Madras, 2012), de Simon Wells.
Como podemos ver pelo título, o livro trata dos problemas (que não foram poucos) dos Stones com a justiça.

Começando a ter que prestar contas a Lei em 1964, por urinarem do lado de fora de um posto de gasolina, até os sérios problemas de Keith com a heroína, o livro não é apelativo, e mostra com clareza como os caras foram perseguidos, principalmente nos anos 60, por forças reacionárias, determinadas a vê-los atrás das grades.
O ponto alto da pesquisa de Wells, nos leva a famosa festa realizada em 'Redlands', casa recém comprada por Richards, em fevereiro de 1967.


Ninguém havia programado uma festa, mas a ocasião serviria para o já iniciado Keef, apresentar o LSD para seu parceiro Mick Jagger, e então eles se tornariam - era o que se esperava - pessoas mais próximas.
Além de Keef e Mick, que trouxe sua namorada Marianne Faithfull, quem também apareceu foi o marchand Robert Fraser, amigo da dupla. Quem não poderia faltar também, era o fotógrafo Michael Cooper, amigo de Fraser, e que se tornaria íntimo de Keith. Cooper imortalizou imagens da ocasião - principalmente de Keith na praia - e depois também seria obrigado a clicá-los algemados!!
 Brian Jones e sua ainda namorada Anita Pallenberg, foram barrados, após Keith ir buscá-los em casa, e presenciar outra de suas famosas brigas! Ela logo trocaria Brian por Keef!
Robert Fraser trouxe seu mordomo particular, chamado Mohammed Jajaj, e outro penetra foi um jovem conhecido por Nicky Kramer, que quase não abriu a boca durante a reunião festiva, e depois atrairia muitas suspeitas.
De longe, o furão mais chamativo e simpático, era o canadense David Schneiderman, mais conhecido nos EUA como o 'Rei do Ácido', que havia conhecido Keith em Los Angeles, e agora se infiltrara no mundo dos Stones em Londres. Entre os amigos, comentava-se que um dos objetivos maiores de Schneiderman na Inglaterra, era o de 'batizar' os reservatórios de água potável inglesa com seu produto alucinógeno!


O tal encontro que começara no sábado por volta da meia-noite, com os caras apenas relaxando com maconha, haxixe, e outros afins, pegaria fogo no dia seguinte, com passeios na beira da praia, música a todo volume o dia inteiro (incluindo The Who e 'Blonde on Blonde' de Dylan), e viagens com o ácido lisérgico.
Outros visitantes que surgiram no domingo à tarde, incluíam o beatle George Harrison e sua esposa Pattie, além de seu assessor Tony Bramwell.
Após o passeio na praia, Marianne Faithfull, que na época iniciava relacionamento com Jagger, resolveu tomar um banho. Como ela havia esquecido de trazer outra muda de roupa, ela se enrolou em uma colcha toda forrada de pele. E desta maneira, vestida somente com a tal colcha - mas parecendo um casaco de pele - desceu para a sala para usufruir do restante da festa. Este incidente ficaria famoso, inclusive tendo sido criado um boato infame de que além de nua, Marianne também estava 'portando' uma barra de chocolate 'Mars' em uma parte íntima de seu corpo, barra esta que Mick estaria degustando!

O que ninguém no local sabia, era que a polícia havia sido avisada por jornalistas do diário 'News of the World', que estava rolando uma 'drug party' - ou festa a base de narcóticos - na mansão. O jornal queria assim vingar-se de Mick Jagger, que os processava por calúnia.
Coincidência ou não, Harrison e Pattie, saíram da casa pouco antes das 20.00 hrs, quando um batalhão policial, munido de um mandado de busca, invadiu pacificamente a mansão de Keef.
Moral da história: em uma revista completa na casa e nos hóspedes dela, acharam-se algumas substâncias proibidas.
 Mick, tinha um frasco de benzedrina com 4 comprimidos esquecidos no bolso, desde uma viagem ao exterior onde eles eram permitidos e Robert Fraser, foi flagrado com uma pequena quantidade de heroína. Os dois, além de Keith que era o dono da casa, e, supostamente permitia o uso de drogas em sua residência, foram dias mais tarde indiciados e levados à juri. Schneiderman foi revistado, mas uma maleta que portava, não!
Todos, é claro, seriam julgados por um tribunal hiper conservador, que queria torná-los um exemplo para os jovens do Reino Unido.
 Jagger, Richards e Robert Fraser foram condenados a prisão e multados.
Eles chegaram a ser fotografados algemados uns aos outros, com Jagger tentando forçar um sorriso, mas completamente apavorado.
Durante sua curta estadia vendo o sol nascer quadrado, Jagger compôs '2000 Light Years From Home' e 'We Love You', mostrando seu desespero e solidão.


Marianne Faithfull, não foi acusada no tribunal, mas foi citada como uma certa 'Madame X', que circulava praticamente nua pela festa, provavelmente sobre o efeito de hipnóticos. A imprensa só precisou somar 2 + 2 pra descobrir quem era a tal Madame X, e no dia seguinte fotos de Marianne, embora não citada abertamente como a  Madame, estampavam a primeira página de vários diários ingleses.

A dúvida que ficou foi de quem os 'entregou' pro 'News of the World'.
Nick Kramer, mesmo agredido por seguranças dos Stones, dias depois, negou ser o dedo-duro. O 'Rei do Ácido' Schneiderman, (que portava sempre a tal maleta com todo tipo de substâncias proibidas), sumiu dois dias depois da festa, tendo deixado a Inglaterra apressadamente, com um de seus vários passaportes falsos. Keith, em sua biografia, diz ter certeza que foi seu motorista na época, chamado 'Patrick', quem os denunciou.

Após recorrer da sentença, Mick e Keith seriam soltos após alguns dias sob fiança (altíssima), e mais tarde venceriam um recurso em alta instância. Fraser, por portar uma droga pesada, pagou o pato e ficaria preso por alguns meses!

Um fato que ajudou muito a defesa de Jagger e Richards, foi o editorial do 'The Times', um dos jornais mais conceituados de toda a Inglaterra. Seu editor chamado William Rees-Mogg, apesar de também conservador, não achou justa a sentença de Jagger.
 Ele escreveu o editorial 'Who Breaks a Butterfly on a Wheel'? (Quem Submete uma Borboleta à Roda do Suplício?), o título vindo de um verso do poema 'Epistle to Dr. Arbuthnot', de Alexander Pope, poeta do século XVIII.
Rees-Moog, discorreu no editorial, sobre a incoerência de uma pena exemplar para um delito pequeno, apenas porque os acusados eram famosos! A repercussão foi enorme!
Batalha ganha, os Stones seguiram em frente, mas a perseguição continuaria pelos anos seguintes. A vítima seguinte seria Brian Jones!

O poema de William Blake que abre os trabalhos do livro, serve de epitáfio para os problemas dos Stones:


                               O JARDIM DO AMOR

                                Deitei-me à margem do rio
                                   Onde o amor dormia;
                                      Cujo lamento frio
                                Pela relva gemia e gemia.

                            Para os campos e desertos rumei,
                           Onde cardos e desolação encontrei,
                           Que me contaram como ludibriados
                           Foram expulsos e à solidão relegados.

                                Segui para o Jardim do Amor;
                                  E vi o que jamais avistara;
                                Uma Capela erguida no centro
                                 Do gramado onde eu brincara.

                                    Portões fechados encontrei,
                                  "Não entreis", lia-se na entrada.
                               Então ao Jardim do Amor me voltei,
                                   E às doces flores que ostentara.

                                     Mas repleto de sepulturas o vi
                                     Com lápides em vez de flores;
                                       E padres de negro vagavam,
                               Sufocando com espinhos meus ardores.