Total de visualizações de página

sábado, 29 de dezembro de 2012

Porque o Vinil?




Em meados dos anos 80, eu tinha uma vasta coleção dos então chamados LP (Long Play). Eu fui criado na década de 60, em que minhas irmãs, juntamente com nossos primos e primas que vinham de Porto Alegre e Rio Grande, se reuniam na casa de meus avós, para, numa eletrola daquelas antigas, que era um móvel por si só, ouvir os últimos lançamentos da música.
A preferência musical deles, é claro, era a 'Jovem Guarda'. Os discos de Roberto e Erasmo Carlos, Eduardo Araújo e Wanderléa, estavam sempre entre os mais ouvidos. Lá em casa numa vitrolinha portátil, elas também ouviam Beatles! Lembro muito bem de uma audição em Compacto Simples (sim, também existia os CS (single) e Compactos Duplos (EP), com duas músicas de cada lado do single) da canção 'Hey Jude', e que já na época me parecia muito longa! Bem, eu tinha apenas 9 anos de idade!


Voltando pros anos 80, minha coleção de vinis, como falei, tomava espaços cada vez maiores de meu pequeno quarto.Quando em 1987, comprei a novidade que todo mundo comentava - um aparelho de CD (Cd Player) - não levava muita fé, mas fui seduzido pela praticidade do formato (você não precisava virar o disco) e pelo pouco espaço necessário para guardar os CDs. Além, é claro, do término do então chato 'chiado na agulha'! Depois vim a saber que estes chiados, eram causados principalmente pela baixa qualidade dos vinis fabricados nos anos 80 - a indústria da música já estava pensando somente no CD -, e em princípio curti aquele silêncio entre as músicas!

Contra o CD havia a dificuldade durante um certo tempo de se conseguir os lançamentos do mercado, mas isto logo foi superado. O preço também era um empecilho e tornava proibitivo você adquirir muitos exemplares.
Além disso, outras duas questões começaram a me incomodar na mídia CD.


Como sabem os meus amigos, sou fã dos Beatles, e os CDs lançados em 1987 da banda, aqui no Brasil, eram uma verdadeira piada, só que de mau-gosto!
O som abafado, não remasterizado, e com um stereo completamente artificial, me deixou decepcionado. Sei que muita gente, principalmente os mais jovens, não reclamaram, porque estavam conhecendo a música dos Beatles naqueles CDs, mas quem conhecia o som da banda em vinil, não engoliu aquela edição.
 Álbuns como 'Rubber Soul', principalmente, me soaram muito mal! As canções 'Drive My Car' e 'If I Needed Someone', com o tal 'stereo fabricado', não se tornaram audíveis para mim!
É óbvio que o som do CD foi aperfeiçoado com o tempo, e, finalmente em 2009, os Beatles remasterizados em CD, chegaram para corrigir esta falha.
Outra coisa que sempre me incomodou no CD, era o fato de que ele na verdade era uma miniatura do LP, inclusive a capa. Então você perdia muito da arte original das capas, que num tamanho muito menor, não tinha o mesmo efeito. Sem falar no fato de você ter de ler com uma lupa o nome das canções. Vieram, sim, há algum tempo as edições de luxo, remixadas e remasterizadas, embaladas em grandes caixas, com enormes booklets, e isto também melhorou a qualidade visual (embora muitas delas com preços proibitivos).


Quem ganhou espaço com tudo isso foi o formato digital. A maioria dos jovens passou a 'baixar' as músicas, e o CD passou quase a ser um objeto decorativo nas prateleiras das lojas. Sinceramente, não pelo ato de fazer o download da canção, mas muito mais pelo fato, de você não ter toda a capinha original, e as informações contidas nela, o CD 'pirata' ou as 'cópias' como chamam, nunca me fez a cabeça!
Eu continuo preferindo a obra original do artista que quero ouvir, e não músicas ou álbuns 'baixados'. Paga-se um preço caro, mas para quem é fã, tenho certeza de que vale a pena. Além do mais, comprando o original, você valoriza muito mais a obra de seus ídolos.

Então, atualmente, tenho uma coleção de CDs, quatro vezes maior que de vinis. Além, de como já falei, a facilidade da audição ser uma das qualidades do CD, acabei  me desfazendo nos anos 90 de mais de 200 vinis por falta de espaço.
Mas eis que o vinil volta a ganhar força lá fora! Com uma qualidade de deixar babando os aficcionados por música dos velhos tempos!
Agora temos relançamento de obras de artistas 'top' em vinil de 180 grs.! Um vinil pesado e de alta qualidade. Você já acha nas melhores lojas do Brasil estes LPs importados. Outro segmento que ganha força a cada dia, é o de vinil usado, em que você encontra verdadeiras pérolas do gênero, se tiver tempo e paciência para garimpar.


Artistas como Bob Dylan e Paul McCartney - para citar só dois - lançaram seus últimos trabalhos em vinil, além de CD e DVD. Estes trabalhos muitas vezes são transformados em vinil 'duplo' para não comprimir todas as canções em apenas um vinil, e perder qualidade sonora. Sim, o preço é salgado, por enquanto, mas a tendência, com certeza é de que com a demanda cada vez maior, ele baixe.

Esta semana recebi a caixa de vinis 'The Beatles'. São todos os seus 13 álbuns de estúdio (mais o Past Masters) remasterizados em vinil, além de um enorme livro de capa dura. Edição definitiva, sem dúvida, das gravações originais da maior banda que o planeta já ouviu. A caixa pesa mais de 10 kgs, para se ter ideia. Agora o som..... Sai de baixo! Seu 'toca-discos', tem de estar em forma, claro! Sua agulha - você consegue repô-la no mercado - também! O resto é só a qualidade musical desta mídia, que está voltando para ficar!

Vou começar a procurar espaço....







quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

25 Anos de 'Cloud Nine'




No início de 1987, George Harrison voltava de um período de retiro. Ele ficara 5 anos sem gravar, dando atenção a família, e a seu maior hobby, a jardinagem!
Poucos estavam preparados naquela época para um álbum como 'Cloud Nine', que lançado em novembro daquele ano chegou ao topo das paradas com o single 'Got My Mind Set on You'! Mas ele foi muito mais que um single. Sugiro ao caro leitor que faça uma audição deste disco agora que completamos 25 anos de seu lançamento. Tenho certeza que vocês descobrirão sempre coisas novas brotando da genialidade de George, Eric, Elton John, Ringo, etc...  


                                Cloud Nine – George no paraíso*


Após um início de carreira solo arrasador, que incluíram o álbum triplo “All Things Must Pass” e o show beneficente para Bangladesh, George Harrison entrou num período típico de inferno astral.
Em 1973, sua esposa Pattie o trocou pelo amigo de longa data, Eric Clapton. No ano seguinte, ele tentou excursionar pelos Estados Unidos, mas fracassou. George tinha decidido mudar o arranjo da maioria das músicas, e o público não aceitou esta mudança. Além disso, ele estava com um problema crônico na voz que atrapalhava seu desempenho vocal.
Tempos depois, George reencontrou a alegria de viver nos braços da mexicana Olivia Arias e, após ser pai de Dhani em 1981, resolve retirar-se do show bizz.
Seu último álbum seria o medíocre “Gone Troppo” de 1982.
Depois de cinco anos de aposentadoria, aproveitados para meditar, viajar e aprender noções avançadas de jardinagem, George sentiu que era hora de voltar aos estúdios.



Com o ânimo renovado e inspirado pela vida feliz que levava com Olivia e o pequeno Dhani, George faz parceria com Jeff Lynne, ex- Electric Light Orchestra, que iria tocar baixo, guitarra , teclados e co-produzir o álbum com Harrison. Na bateria, o amigo de sempre Ringo Starr dá as cartas, junto com o talento do músico de estúdio brilhante e sempre requisitado Jim Keltner. Para o piano, além de outro amigo, Gary Whright, o grande destaque foi a participação de Elton John, considerado como um ‘tio’ por Harrison. Para auxiliar George nos solos de guitarra, Eric Clapton também se fez presente.


Com este time de craques bem entrosados, Harrison entra no estúdio particular de sua casa, em Friar Park, em janeiro de 1987, para as gravações que se estenderiam até março.

Ao admirarmos a bela capa de ‘Cloud Nine’, já temos uma pista de qual seria a tônica do álbum: George posa com uma guitarra ‘Gretsch’ anos 50, que ele tocava nos áureos tempos antes de ser famoso. Essa guitarra seria perdida e anos depois, recuperada por George. Ele nos mostrava, assim, que queria resgatar o ritmo dos velhos tempos, mas com uma roupagem totalmente nova.

A canção que inicia os trabalhos é a faixa-título Cloud Nine, posicionando sem preâmbulos o ouvinte sobre qual seria a base do disco – as afiadíssimas guitarras de Clapton e o vocal inconfundível de Harrison de volta a velha forma.
O rock alegrinho de Fish on the Sand, segura bem o ritmo do disco enquanto a balada Just for Today é Harrison em um de seus melhores momentos como compositor e cantor.
Uma parceria de George com Jeff Lynne, This is Love, também se destaca no lado A, em que o grande atrativo acaba sendo uma composição de George sobre os velhos tempos dos Beatles, a antológica When We Was Fab.
Harrison, que sempre relutou em recordar aqueles tempos em que a banda reconhecidamente era a melhor do planeta, compôs uma música resgatando aquela época sem ser nostálgica e conseguindo criar uma atmosfera anos 60  sem soar antiga.



Devil’s Radio, o rock mais forte do álbum abre o lado 2, mostrando um estilo de tocar guitarra que lembra o grande ídolo de George, Carl Perkins.
A simplicidade e pureza de Someplace Else, mais uma balada romântica de George, não nos deixa esquecer que não era apenas Paul McCartney que sabia compor músicas lentas na fase Beatle de suas carreiras.
Finalmente, quem rouba o show é uma cover de uma música dos anos 50, Got My Mind Set On You, que lançada em single chegou ao primeiro lugar na América. Sem dúvida, foi uma grande e merecida surpresa para Harrison ter mais uma vez uma canção interpretada por ele liderando as paradas.

A previsão - e esperança - de todos nós era a de que George se entusiasmasse com o sucesso do álbum e retomasse de maneira mais efetiva sua carreira solo, compondo e lançando mais discos.
Não foi o que aconteceu.

Em 1988, ele ainda se reuniria a Bob Dylan, Tom Petty, Jeff Lynne e Roy Orbison e formaria o supergrupo de astros Traveling Wilburys, tendo relativo sucesso em dois álbuns lançados no intervalo de três anos.
Estimulado por Clapton, Harrison faz algumas apresentações no Japão em 1991, com a participação do próprio Clapton e sua banda. George não parecia muito animado, mas relembrou seus sucessos antigos e várias músicas do tempo dos Beatles. Estes shows seriam eternizados no cd duplo ‘Live in Japan’.



Após estas apresentações, George silenciou novamente. A partir de então, seu principal passatempo e verdadeira paixão passou a ser a jardinagem.
Simultaneamente quando a produtora de cinema de Harrison, a ‘Handmade Films’ abre falência, ele participa junto a seus ex-parceiros Ringo Starr e Paul McCartney do projeto “Anthology’, resgatando a memória dos Beatles para os jovens dos anos 90.

Por melhor que tenham sido todos esses trabalhos posteriores de George Harrison nenhum deles chegou perto do criativo e ousado mergulho no passado – mas com um olho no futuro – de “Cloud Nine”. 


*Texto Escrito para o livro 'Alto & Bom Som - Ruidos, Chiados e Pinceladas Musicais'.



terça-feira, 27 de novembro de 2012

Stones 50!!!


 
                       

                                                    Like a Rolling Stone –  Shine a Light*

                   Quando aqueles garotos de Richmond se encontraram na parada do ônibus descobriram que tinham algo em comum: o amor pelo blues e a idolatria a figuras como  Howlin' Wolf,  John Lee Hooker, Chuck Berry e Muddy Waters.
Foi assim, curtindo esses caras, que Mick Jagger, Keith Richards e Brian Jones – que depois incorporaram Charlie Watts e Bill Wyman à banda – iniciaram, junto com os Beatles, uma nova era na música popular contemporânea.
          No início, os Stones "copiaram" o estilo dos blueseiros norte-americanos. Nada para se envergonhar. Seu primeiro single - Come On, composto por Chuck Berry e lançado em junho de 1963, não emplacou.
 Em 1964, com a ajuda dos Beatles, alcançam as paradas com a canção I Wanna Be Your Man, de Lennon & McCartney.
Porém, pouco a pouco, eles foram criando seu estilo próprio, influenciados, principalmente, por Brian Jones, indiscutivelmente o mais fanático por blues na banda e que não admitia um disco sem suas raízes.


 Brian era o instrumentista mais completo dos Stones, sempre se sentindo à vontade na guitarra, harpa, sitar ou saxofone, com destaque para sua harmônica, que criava um clima especial nas gravações. Seus solos, nos primeiros álbuns da banda, são perceptíveis em quase todas as faixas. Nessa época, Brian liderava a escolha de repertório do grupo, quando Mick e Keith ainda não compunham pra valer.
          Segundo reza a letra de uma canção de Muddy Waters, ‘pedras que rolam não criam limo’ – daí a inspiração do nome da banda. Com esse mantra em mente, os Stones entraram  na onda psicodélica dos anos 60, mudando seu estilo e quebrando a cara com o disco “Their Satanic Majesties Request”. Reconhecendo o desastre, os caras voltaram correndo para o blues, que os tinha feito mais conhecidos - e mais ricos - que seus ídolos.

Com “Beggar's Banquet”, os Stones tentaram voltar às origens, mas o mal já estava feito, e Brian Jones, que tinha lutado contra a mudança de rumo na banda, e estava enfraquecido mental e fisicamente pelo consumo de drogas e prisões, deixa o grupo. Um mês depois, o músico foi encontrado morto boiando em sua piscina.


Este efeito da saída de Brian - mesmo com a guitarra tecnicamente brilhante de Mick Taylor entrando em cena - nunca foi compensado.
 Mick e Keith, também enfrentando transtornos com a Justiça, decidem esquecer os problemas promovendo um concerto gratuito de despedida da turnê americana em Altamont.
A decisão de deixar a segurança a cargo dos Hell's Angels - um grupo de motoqueiros conhecido pela selvageria – trouxe um resultado desastroso. A gangue – contratada por toda a cerveja que conseguisse beber – simplesmente não parou de bater no público durante a apresentação e até mataram um fã, enquanto um Jagger, apavorado, cantava Under My Thumb e pedia paz.
 Os anos 60 terminavam de forma trágica naquele dezembro de 69. As imagens ficariam para a posteridade no filme “Gimme Shelter”.

          Os anos 70 começam trazendo um novo alento ao grupo, com o inspirado “Sticky Fingers”, de 1971, e o mega-sucesso em single Brown Sugar. O fantástico “Exile on Main Street”, que se seguiu, gravado na França, encerra a boa fase. 


De meados da década de 70 em diante, os Stones lançaram álbuns  desiguais. “It's Only Rock'n'Roll” tentou apontar uma saída onde não havia. “Black and Blue” foi menos bem recebido, mas era um álbum eclético e com muitas qualidades.
A recuperação total veio com “Tatoo You”, de 1981, uma resposta criativa aos punks de plantão, álbum no qual Ron Wood, que substituíra Mick Taylor em 1975, finalmente dá o ar de sua graça e parece um Stone de verdade.
          A partir dessa fase, cada álbum de estúdio é acompanhado logo a seguir por uma turnê e um disco ao vivo, como se fosse um souvenir do concerto.  Manias da maior banda de rock em atividade!
  Destaque dessa fase é “Steel Wheels”, de 1989, disco rockeiro, blueseiro e baladeiro. Aliás, é deste disco a música Blinded by Love, em que Mick tenta ensinar a nós, pobres mortais, sobre as armadilhas do amor. Mas, pelo visto, ele próprio não aprendeu muito, se lembrarmos de Luciana Gimenez...


      Sobra pouco pra comentar dos Stones dos anos 90. Finalmente vieram ao Brasil e satisfizeram a vontade de milhares de sedentos fãs stoneanos pelos 20 anos de atraso.
Bill Wyman saiu da banda, mas parece que ninguém sentiu falta... Já Charlie Watts, quem diria, o baterista amante do jazz tornou-se o mais aplaudido nos concertos do grupo.
Keith finalmente resolveu seus problemas com drogas. Ron Wood tem se dedicado a pintar e parece ter herdado o gosto pelas drogas de Keith e por ninfetas de Jagger... Finalmente, Mick... Bem, além de produtor de cinema, mega-empresário e playboy, Mick Jagger ainda gosta de cantar nas horas vagas.


Neste cenário surge Martin Scorsese - diretor do antológico “O Último Concerto de Rock”, show de despedida do grupo The Band, em 1978, e, mais recentemente, de “No Direction Home”, de Bob Dylan – para, com seu habitual estilo frenético, comandar Mick e seus camaradas.
Scorsese logo se dá conta que terá um páreo duro com Jagger, e é divertido assistí-los negociando desde o palco das apresentações – que Mick não gostou – até o track-list, que o Stone insistia em não fornecer.

Alternando entrevistas de época e imagens da turnê do grupo em 2006, com destaque para músicas do álbum Exile on Main Street, Scorsese acerta a mão ao nos fazer sentir parte do que está acontecendo. Assim, desfilam temas clássicos como Jumpin’ Jack Flash, All Down The Line, Loving Cup, com a participação de Jack White (um tanto desafinado).


Temos também o direito discutível de presenciar a introdução da banda por ninguém menos que Bill Clinton, e é indisfarçável o constrangimento da banda ao ser apresentada ao ex-presidente norte-americano e seus convidados nos bastidores.

Um dos pontos altos do DVD é a entrada do setentão Buddy Guy na arena, e sua participação em Champagne & Reefer, um tributo da banda ao blues que eles tanto amavam. Guy, inspiradíssimo na guitarra, deixa seus alunos Keith Richards e Ron Wood espantados, e Mick faz um belo acompanhamento na harmônica.  Uma pena ter sido censurado no DVD o ‘apelido carinhoso’ com que Jagger saudou Guy, audível apenas no cd.


Richards, como em toda apresentação da banda, tem direito ao spotlight por alguns momentos, e não decepciona, em versões caprichadas de You Got The Silver e Connection, e num diálogo hilariante com a galera.


Um espetáculo à parte é a iluminação dos shows e os movimentos de câmera de Scorsese, que não permite sentirmos o tempo passar durante as duas horas em que desfilam as obrigatórias Sympathy For The Devil (com Mick entrando por uma porta lateral junto ao público), e Start Me Up, a levada country Far Away Eyes (com grande solo de steel-guitar de Ron Wood) e a surpreendente Live With Me com Christina Aguilera pegando junto nos vocais com Jagger.
A banda que acompanha os rapazes é, como sempre, competente: Darryl Jones no baixo (presente desde a saída de Wyman da banda, mas não considerado um membro do conjunto), Chuck Leavell nos teclados (afiadíssimo), Bernard Fowler, Lisa Fischer e Blondie Chaplin nos vocais de apoio e Bobby Keys, companheiro desde a década de 60, comandando os metais.
É impossível não se emocionar quando, ao final de Satisfaction, Keith Richards, de joelhos, beija sua guitarra, e acompanhamos a banda aos bastidores onde a câmera de Scorsese se afasta lentamente do teatro e nos mostra uma Nova York toda iluminada ao som de Shine A Light.

A sensação que fica é a de que Martin Scorsese conseguiu rejuvenescer a banda, e não devemos nos surpreender se vierem mais 45 anos de Rolling Stones pela frente!
E se a pergunta for até onde os Stones irão, a resposta parece ser que sempre haverá uma luz iluminando o caminho!


* Texto escrito para o livro 'Alto & Bom Som' em agosto de 2008. 
50 anos de rock, não é para qualquer um!












quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Bergman Revisitado!



A distribuidora nacional 'Versátil' que se especializou em filmes clássicos europeus, particularmente os do diretor sueco Ingmar Bergman, finalmente lançou no Brasil em DVD e Blu-ray, o filme 'Fanny & Alexander' de Bergman.
Originalmente uma série para a TV, esta obra de arte também foi lançada nos cinemas em 1982. O lançamento da Versátil tem três opções. A versão da TV de 320 minutos, a versão do cinema de 188 minutos, e uma versão "definitiva", que contém ás duas versões e ainda os documentários 'Diário de Uma Filmagem' (110 mins.), 'Bergman Dá Adeus ao Cinema' (59 mins.) e 'Uma Tapeçaria Bergmaniana' (39 mins.).
Este filme já se tornou clássico no lançamento, em 1982, quando levou as estatuetas do Oscar de 'Filme Estrangeiro', 'Figurino', 'Fotografia' e 'Direção de Arte'!
Provavelmente o melhor filme de Bergman - há quem prefira 'Morangos Silvestres', 'Gritos e Sussurros', 'Persona' ou mesmo 'O Sétimo Selo' - ele se situa na Suécia do começo do século XX, em que uma família burguesa tradicional sofre mudanças bruscas com a morte de seu patriarca.
Todos os filmes de Bergman tem como principal característica lembranças familiares de sua infância, mas este sem dúvida é o mais pessoal e autobiográfico.


Bergman foi criado em uma família em que seu pai, um austero pastor protestante, o punia severamente por qualquer deslize. Em 'Fanny & Alexander', após perder o marido, a mãe das crianças, casa-se com um bispo, tão cruel e despojado que só poderia ser uma cópia do pai de Bergman, segundo sua ótica. Aliás, a situação toda é vista pelos olhos de uma criança, no caso o menino Alexander, em antológica interpretação do garoto Bertil Guve. A mãe dos dois, a atriz Ewa Fröling, também é destaque do longa, assim como os atores bergmanianos Erland Josephson e Gunnar Björnstrand (em seu último papel no cinema).

A fotografia, como em quase todos os filmes de Bergman a partir dos anos 60, é de Sven Nykvist, que transforma o universo de Bergman, normalmente frio e de cores escuras e pesadas, em um arco-íris de cores vivas.
 Sim, a mensagem final é otimista. Talvez por ser um de seus últimos trabalhos, Ingmar Bergman não quis pular obstáculos ou deixar assuntos inacabados.
Apesar de tudo, a vida é bela, parece ser a mensagem, mesmo com alguns fantasmas aqui e acolá.


Revi este 'Fanny & Alexander' pela décima-quarta vez e o que me veio na cabeça é a imensa falta que Bergman faz ao cinema. Motivo mais do que suficiente para começar a rever seus filmes desde o início! É uma maneira de matar a saudade do melhor diretor de cinema de todos os tempos!


quarta-feira, 31 de outubro de 2012

The Song Remains the Same!




Talvez 'o som não continue o mesmo', mas aquele Gigantinho lotado certamente pensou que sim! Robert Plant, com todo seu carisma e sua voz ainda 'quase a mesma', subiu ao palco ás 21.40 hrs, e durante todo o show levou ao delírio a galera presente ao ginásio.
Como todos já sabiam, não era mais um show de puro rock. Pintou muitos ritmos diferentes. African Music, psicodelismo, e, claro, o som do Led Zeppelin, mesmo transformado para ainda caber no gogó de Mr. Plant!
'Whole Lotta Love' (seguida da cover de "Who Do You Love'), 'Friends', 'Black Dog' e 'Going to California' são exemplos clássicos de que o vocalista da maior banda de hard-rock ainda reverencia seu passado! E não poderia ser diferente. Havia fãs de todas as idades presentes no Gigantinho, e que sem dúvida sairíam decepcionados se não pintasse o som do Led. Pro meu gosto a melhor sacada foi o blues de 'Spoonful', de Willie Dixon, tratado de maneira certeira e eficaz pela banda. Tudo bem, o lado mais leve e acústico prevaleceu. Plant privilegiou o álbum 'Led Zeppelin 3', pegando mais leve, e de sua carreira-solo talvez as melhores tenham ficado de fora, mas Plant também vive o momento!


Senti falta da "Big Log', imaginei uma cover de 'If I Were a Carpenter', e alguns mais saudosistas queriam ouvir 'Stairway to Heaven', mas aí já seria demais.
No final do show, um tradutor amigo de Plant, informou que um amigo dele estava completando 60 anos em novembro, e pediu para que todos entoassem o 'Happy Birthday' em português, enquanto Plant era filmado por outro amigo. A galera participou legal, e Robert Plant emendou o final do espetáculo com a clássica 'Rock and Roll'.
Penso que seria impossível exigir mais deste senhor de 64 anos! O que ficará na minha memória foi que assisti a um show eclético, com a banda ao mesmo tempo sendo competente e ousada. Após 1.30 hrs de show saí do ginásio com os agudos de Robert Plant ainda ecoando na cabeça!  


sexta-feira, 26 de outubro de 2012

A História de Astrid e Stuart!




Talvez a parte menos conhecida da saga dos Beatles - sua passagem por Hamburgo e a saída de Stuart Sutcliffe da banda - ganhou as páginas de uma graphic novel, escrita pelo alemão Arne Bellstorf.

Eu já havia comentado dois posts abaixo um pouco sobre as turnês dos Beatles em Hamburgo. Mas se você quiser saber toda a histórinha de amor que rolou entre Astrid Kirchherr e Stu, você tem que levar prá casa o livro de HQ 'Baby's in Black' (8Inverso, 2012)!

A apresentação do livro - são 200 e poucas páginas - é muito legal. Você pode até escolher a cor da arte da capa. Amarela, azul ou vermelha? Fiquei com a vermelha, por motivos óbvios!
 Os desenhos de Arne remetem ao clima soturno e pesado da Reeperbahn dos anos 60, e, sim, às fotografias da época de Astrid Kirchherr. A HQ é toda desenhada em preto & branco, com um traço bem simples, o que ás vezes confunde o leitor, porque Klaus Voormann, o ex-namorado de Astrid, fica parecido com Stu (sem óculos).
O que salta aos olhos, porém, são os diálogos, que cumprem com eficiência seu papel de mostrar o que rolava na Hamburgo de 60/62.
Fiquei orgulhoso ao saber que meu amigo, o santamariense, Márcio Grings, fez o posfácio deste trabalho! Como ele escreve, em uma de suas sacadas, sempre inteligentes, "Há rock nesta HQ".


Você parece sentir todo o clima do Kaiserkeller, do Indra.... Não se espante se você ficar um pouco surdo com o barulho da música e com os gritos dos alemães, lembre-se que você está lendo (ouvindo) também sobre os Beatles em sua encarnação mais roqueira e barulhenta! Os punks seriam piada perto deles em 1961!
A tradução é de Augusto Paim - que já havia trabalhado em uma graphic novel alemã sobre Johnny Cash - e de Cássio Pantaleoni.
Acho que ficou faltando - propositadamente - uma nota sobre o autor, Arne Bellstorf, para acompanharmos melhor seu trabalho.
Estávamos carentes de um trabalho desse nível, que fizesse justiça aos primeiros anos dos caras, mas mais ainda, este livro fica como uma homenagem a personagens importantes e desconhecidos do grande público, como Astrid, Klaus Voormann, Stu e Jurgen Vollmer, que ajudaram a fazer a história da melhor banda que o mundo já ouviu!
        



segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Cartas de John Lennon!




Quem disse que cartas estão fora de moda? Ao menos neste caso não estão não!

Hunter Davies, jornalista e escritor inglês autor da única biografia autorizada dos Beatles, passou 10 anos de sua vida pesquisando sobre a correspondência de Lennon, e chegou a um resultado mais do que satisfatório!
'The John Lennon Letters' ('As Cartas de John Lennon', Planeta, 2012) está pintando por aqui.

Davies fez este belo trabalho de pesquisa junto a amigos, conhecidos, parentes e pessoas totalmente desconhecidas, que tiveram a honra de receber uma carta, um cartão postal, um rascunho, ou até um bilhete de John. Inclua-se nisto até uma lavanderia! Dificilmente John escrevia algo, sem colocar um desenho anexo, o que torna as cartas por si só, um objeto de arte lennoniana!
John Lennon, é notório, sempre foi o mais letrado dos Beatles. Tinha a gostosa mania de escrever e desenhar bastante. Seus livros 'In His Own Write' (1964) e 'A Spanniard in the Works' (1965), (ambos publicados num volume único pela Editora Brasiliense aqui no Brasil, com o título de 'Um Atrapalho no Trabalho' nos anos 80, com a transcriação única do poeta Paulo Leminsky), deram uma mostra do talento de John nas letras. Talento esse que era inspirado em Lewis Caroll, Tennyson e Browning, entre outros poetas e escritores favoritos de Lennon. Esses dois livros são best-sellers até os dias de hoje, e a nova geração costuma estudar as letras (e as músicas dos Beatles) nas universidades americanas.


As cartas são divididas por fase. Desde a primeira, quando John tinha 10 anos, e mandou um agradecimento por um presente de Natal a sua tia, passando por dedicatórias, cartas para seu pai Freddie, da estada na India, em 68, das disputas judiciais pela Apple e suas brigas com Paul, seus anos politizados nos EUA, até um último autógrafo escrito num pedaço de folha, na tarde de 8 de dezembro de 1980.
Enfim, mais um 'produto beatle' de primeira! Enjoy!!!






quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Um Beatle No Paraíso!




Pintando aqui no Brasil o relançamento em DVD do filme 'The Magic Chirstian' (Um Beatle No Paraíso).
Este filme dirigido pelo escocês Joseph McGrath, na realidade não tem nada a ver com os Beatles. Tem claro a participação de Ringo Starr (Youngman), que desenvolvia cada vez mais seu gosto pela telona.
Além disso, a trilha sonora do longa contém a canção 'Come and Get It' de Paul McCartney, interpretada pela banda inglesa contratada da Apple, a Badfinger!
Macca soube que o filme estava sendo rodado em 1969, e fez a demo desta canção em menos de 01 hora, sózinho no estúdio. Depois levou a canção para a Badfinger que se dispos a gravá-la mudando-a e adaptando-a ao seu estilo. McCartney não concordou, eles poderiam gravá-la, mas sem mudar um acorde sequer. E assim foi feito, e a canção se tornou o primeiro grande sucesso da banda!
A versão demo de Paul (não parece demo) pode ser apreciada no 'Anthology 3' dos Beatles.


Quanto ao filme em si, apesar da atuação sempre hilariante de Peter Sellers, parece que ficou faltando algo. Sellers interpreta um multi-milionário que 'adota' Ringo, e sai pelo mundo demonstrando o poder do dinheiro. Pessoas de todas as classes e atividades são subornadas descaradamente.
Talvez um filme bem apropriado para nosso atual momento político!

A comédia tem participações especias de Raquel Welch (linda), Roman Polanski, Chistopher Lee e Yul Brynner (este irreconhecível).

Enfim, um belo programa pra um dia chuvoso e com uma pipoca do lado!




segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Os Beatles em Hamburgo!*



Há 50 anos os Beatles começavam a conquista do planeta. Ainda sem que o mundo soubesse, os primeiros passos para uma revolução na música e nos costumes se iniciava em Hamburgo, na Alemanha.




No início dos anos 60, a vida não estava fácil para os aspirantes a músicos profissionais chamados John Lennon, Paul McCartney e George Harrison. Depois de muitas idas e vindas, seu grupo de rock’n’roll reduzira-se apenas aos três. A banda que havia sido fundada por John nos anos 50, com o nome de ‘Quarrymen’, e que depois passaria a se chamar ‘The Beatles’, ainda não se tornara conhecida em sua cidade natal. Paul, George e John eram guitarristas. Eles tinham dificuldades para conseguir um baixista e, principalmente, um baterista fixo para a banda. Finalmente eles descobrem Pete Best que, apesar de tímido, tinha um belo kit de bateria. Ficava faltando solucionar o problema do baixista, e John teve uma ideia.
Ele tinha um colega no Liverpool Art College, chamado Stuart Sutcliffe, que além de brilhante desenhista, também curtia um bom rock’n’roll. Neste momento, Stu participou de sua primeira exposição coletiva e teve seu quadro vendido. Com uma razoável quantia em dinheiro no bolso, e sem saber o que fazer com ela, Stu foi estimulado por Lennon a comprar um contrabaixo elétrico e entrar para a banda. John achava que, com o tempo, Sutcliffe aprenderia a tocar.

                                                                                                               Stu



                                                Os Beatles estavam completos
  


Surge neste momento uma oportunidade nova para a banda. Eles foram contratados por Bruno Koschmider, um alemão dono de clubes noturnos para tocar em Hamburgo, na Alemanha. O grupo partiu entusiasmado, mas Koschmider os instalou nos fundos de um cinema estilo decadente, em um quarto sujo e úmido, onde dividam beliches entre si, e o banheiro do cinema, com os espectadores. O clube onde eles se apresentariam chamava-se Indra e não passava de uma boate degradante de strip-tease. Eles mal cabiam no palco que estava caindo aos pedaços. Tudo isso no bairro mais barra-pesada de Hamburgo, o St. Pauli, e na rua dos cabarés e prostíbulos da cidade, chamada de Reeperbahn.


Mesmo assim, os rapazes não se intimidaram. Seus shows começaram a ficar famosos na área. Antecipando o movimento punk em pelo menos uma década e meia, os Beatles pegavam pesado no palco. Todos bebiam, fumavam e comiam enquanto tocavam. John sentia-se livre para extravasar seu lado rockeiro. Durante os shows, ele provocava o público alemão, e o show continuava, entre garrafas voando e brigas homéricas na plateia. O repertório era todo anos 50, e os rockões iam de Elvis a Chuck Berry, de Carl Perkins até Jerry Lee Lewis, passando por baladas românticas cantadas por Paul. Os Beatles começaram a atrair mais a atenção dos clientes da Reeperbahn. Com isso, tiveram sua chance de tocar no Kaiserkeller, um local mais adequado e menos violento que o Indra. Infelizmente, a polícia descobriu que George era menor de idade, e ele foi mandado de volta para casa, junto com Paul e Pete Best, que foram acusados de vandalismo.

                                                                     O amor e a tragédia de Stu
  


Em 1961, os rapazes voltariam. Desta vez, tocariam também no Top Ten, e no Star Club, os dois melhores clubes daquela parte da cidade. Eles se tornaram a grande atração local.

Certa noite, após sair da casa da namorada, Klaus Voorman, estudante de arte, que pertencia ao grupo dos ‘exis’ ou existencialistas, a turma mais ‘cool’ e intelectual, ouviu uma música que vinha de um clube próximo. O som era diferente de tudo que Klaus já ouvira antes, e ele resolveu entrar. Voorman ficou hipnotizado com o que viu e ouviu! Na noite seguinte, Klaus trouxe sua namorada, a fotógrafa Astrid Kirchherr, que sentiu o mesmo impacto ao ouvir os Beatles. Logo eles se tornaram amigos dos caras.

                                                                                     Astrid e Gibson Kemp

Impressionada com o estilo cru de sua música, suas performances selvagens e de suas roupas – todos vestidos de couro preto –, Astrid ficara também surpresa com o carisma e a personalidade diferente dos cinco rapazes e queria fotografá-los. São desta fase as primeiras fotos históricas dos Beatles em estado bruto!

No lado musical, McCartney começou a enxergar problemas na banda. Stu não progredia no baixo. Inseguro, ele tocava de costas para o público. Após uma briga no palco, Sutcliffe resolveu deixar a banda. Ele começara novamente a se interessar pela pintura, e com o estímulo de Astrid – que se apaixonara por ele –, decidiu dedicar-se totalmente a arte de sua formação.

Era hora dos Beatles voltarem para Liverpool. Stuart ficou com sua amada Astrid na casa de seus pais. A partir desta data, Paul assumiu o baixo, com seu talento e competência.


Em 1962, eles se tornaram a banda mais conhecida de Liverpool e região, mas uma última turnê a Hamburgo já estava agendada para abril daquele ano. John achou que era uma ótima oportunidade para rever Stu. Quando chegaram ao aeroporto de Hamburgo em 11 de abril, os rapazes só viram Astrid esperando por eles. As notícias eram terríveis. Stuart Sutcliffe morrera no dia anterior, de hemorragia cerebral. Já fazia algum tempo que ele se queixava de fortes dores de cabeça. John Lennon ficou completamente chocado com a perda do amigo, mas seguiu em frente. Após apresentações que levaram os alemães ao delírio, a última temporada em Hamburgo chegava ao final!

A partir daquele momento, os Beatles queriam – e conseguiriam – o mundo!



*Publicado no Diário de Santa Maria em 29/09/2012.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A Viagem Mágica dos Beatles!


  


   Na esteira do relançamento agora em novembro do filme 'Magical Mystery Tour', - que terá direito a exibições especiais em telonas pelo mundo afora do filme restaurado, além de uma edição especial de luxo, incluindo dvd, blu-ray (com cenas extras) e um enorme livreto, - comento aqui alguns aspectos que tornaram esse filme feito para a TV ao mesmo tempo um fracasso comercial e um sucesso 'cult'.          
       
  
O ano era 1967, estávamos no auge do ‘verão do amor’ e ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’ bombava nas rádios e nos alto-falantes de quase todo o planeta. Em agosto, após várias internações, o empresário dos Beatles, Brian Epstein é encontrado morto por uma overdose de anti-depressivos.
Desorientados após perderem seu descobridor e homem de confiança, os Beatles apostam no trabalho e resolvem seguir com os planos de um filme para a TV. 

Mergulhando de vez no psicodelismo, a ideia de Paul McCartney era fazer um filme sem roteiro. O projeto partia de ideias simples mas ao mesmo tempo avançadas para a época.

Nos finais de semana dos anos 40 e 50 em Liverpool, eram comuns as viagens de ônibus sem um destino já traçado. As pessoas compravam uma passagem e iriam provavelmente ser levadas a algum balneário. A aventura ficava mais engraçada e excitante porque elas nunca sabiam o local exato para onde iriam.
Paul inspirou-se nesses passeios de infância para projetar a ‘misteriosa viagem mágica’ dos Beatles.
Eles lotariam um ônibus de amigos e colaboradores e sairíam pelo interior da Inglaterra com uma câmera na mão, decididos a filmar tudo o que rolasse no caminho.


As filmagens foram complicadas desde o início, com a imprensa e fãs seguindo o ônibus em carros e motos, prontos a registrar qualquer momento da banda com suas câmeras indiscretas.
O filme começa com Ringo Starr - de longe o melhor ator dos quatro - acompanhando sua tia Jessie, gorda e chata (Jessie Robins, fantástica no papel)  até um ônibus que deveria partir para algum lugar desconhecido.  Lá dentro a festa fica animada. John e George sentam lado a lado e Paul – o único beatle ainda solteiro – tem o privilégio de sentar ao lado de uma bela passageira (Maggie Wright).

Surgem diversos personagens bizarros, como anões, mágicos e malucos naquele cenário apertado e sufocante em que acabam sendo inseridas cenas pioneiras de clips durante a viagem.
Paul é filmado na França numa manhã fria de inverno, saltitando ao som de ‘The Fool on the Hill’ como se fosse um eremita dândi dos anos 60.
São intercaladas também imagens dos 4 Beatles e seu roadie, Mal Evans, vestidos como magos e tentando fazer com que coisas mágicas acontecessem aos viajantes. Infelizmente, pouca coisa aconteceu.

Num dos melhores momentos, o sargento recrutador (Victor Spinetti, grande ator, falecido recentemente), tenta convencer todo o bando a se alistar para servir a Rainha, sem sucesso.

George Harrison, faz sua participação baseada num fato real. Quando estava em Los Angeles em 1966, ele alugou uma mansão chamada ‘Blue Jay Way’ nas colinas da cidade e ficou esperando seu amigo e assessor de imprensa da banda, Derek Taylor, que se perdeu no ‘fog’ da cidade e não encontrava a casa. O bonito clip nos mostra um George sentado em posição de ioga e meditação, enquanto imagens em 3D passam pela telinha.


Talvez o momento mais engraçado tenha sido o proporcionado por John Lennon. Na improvisação geral que norteava os trabalhos, John contou a Paul que tinha tido um pesadelo na noite anterior e queria filmá-lo. O sonho consistia em John vestido de garçom e servindo macarrão à tia gorda de Ringo, com uma pá de pedreiro. Toneladas de macarrão eram servidos no prato da tia Jessie, o que acabou virando um pesadelo para ela mesmo.

Outra cena ‘mágica’, é a entrada de todos os passageiros homens dentro de uma pequena tenda, que acaba se transformando em um clube masculino, onde rola um strip-tease ao som da ‘Bonzo Dog Band’.

Em um dia particularmente complicado, o ônibus mágico ficou preso em uma ponte no interior, causando um enorme tumulto e o cancelamento das filmagens. Todos foram acomodados em estalagens e hotéis. Paul e Ringo descobriram o pub mais agitado do lugar e foram dar um passeio no local, sendo logo reconhecidos. Segundo reza a lenda, após umas e outras, Paul sentou-se ao piano e passou a noite tocando todos os pedidos dos freqüentadores do bar, negando-se a tocar apenas ‘Yellow Submarine’.     

Apesar de contrariado com a ideia do projeto, John compôs a exótica ‘I Am the Walrus’, especialmente para o filme, em que os rapazes vestem máscaras de animais, e tocam ao ar livre num campo de aviação abandonado, deixando os espectadores curiosos sobre qual era o objetivo da banda nesse clip. Provavelmente a resposta fosse: nenhum! Cada um chegaria a suas próprias conclusões. 


Outra cena esquisita, é uma corrida cheia de trapaças em torno do campo de aviação, em que os membros da viagem competem entre si, com todo o tipo de veículos. O vencedor acaba sendo Ringo, com o ônibus da viagem mágica.

A cena final pelo menos não deixa a desejar. Os Beatles em estilosos fraques brancos, descem uma escadaria ao estilo ‘E o Vento Levou’, ao som de ‘Your Mother Should Know’, uma musiquinha de salão de baile dos anos 30. Ao final dessa escada eles são recebidos por 160 membros de um grupo de dança e por meninas da Força Aérea Britânica. Nem todo filme para TV tinha um epílogo tão espetacular assim.

O verdadeiro pesadelo para os Beatles, – e para McCartney em particular – começou depois das filmagens. Pouco havia sido feito para sincronizar som e imagem, e foi um trabalho exaustivo para Paul até acertar tudo com os engenheiros de som.
O filme, que havia sido rodado em setembro e outubro, agora estava com o prazo estourado para ser exibido pela BBC antes do Natal.
Quando todos pensaram que os problemas tinham terminado, a BBC implicou com uma cena. Era um interlúdio romântico da tia Jessie com o personagem George, um fotógrafo, em que eles se beijam na beira da praia.
Mesmo evidenciando um grande preconceito da BBC contra a terceira idade, a cena foi cortada! Ela só apareceria anos depois, quando o filme foi restaurado para o formato VHS.


 ‘Magical Mystery Tour’ acabou tendo sua estreia no dia 26 de dezembro de 1967 no Reino Unido. 
Além da péssima escolha da data para o lançamento, logo depois do Natal, o filme de 1 hora de duração, havia sido rodado em technicolor e poucos telespectadores possuíam TV a cores naquele tempo. Quem assistiu em preto e branco ficou decepcionado pois o filme não tinha o mínimo apelo sem cores. Havia até uma cena em que um bonito céu azul brilhante com algumas nuvens era mostrado enquanto o ônibus seguia viagem ao som da instrumental ‘Flying’. Sem cores, ninguém entendeu aquelas imagens que pareciam um cinza desbotado.
O filme foi considerado um fracasso para os padrões dos Beatles, e Paul McCartney foi obrigado a defendê-lo em público durante várias entrevistas para TVs e jornais.

Muito tempo depois, quando apresentado à cores nos EUA, ele recebeu créditos, como um ’road movie’ despreocupado, um filme ‘cult’ e como uma comédia non-sense que influenciaria muita gente.
Steven Spielberg, no início de sua carreira o elogiava muito. Peter Fonda e Dennis Hopper, utilizaram ideias dele para o ‘Sem Destino’ e o grupo Monty Python seria outro que beberia dessa fonte.

 A trilha sonora  seria lançada nos EUA em formato de LP naquele dezembro de 67, e além da faixa-título e das já citadas, o lado B foi completado com hits da banda como ‘All You Need Is Love’, ‘Hello Goodbye’ e ‘Penny Lane’. As vendas foram acentuadas.

Apesar do sucesso tardio do filme e da trilha, o que marcou ‘Magical Mystery Tour’ foi sua estreia.
Pela primeira vez as pessoas souberam que os Beatles não eram infalíveis!



terça-feira, 21 de agosto de 2012

Uivo!! Por Eric Drooker!






No início dos anos 80, quando a febre da geração 'beat' finalmente me atingiu, parti em busca de alguns trabalhos de Kerouac, Ginsberg e Burroughs.
'On the road' foi lido rapidamente, 'Naked Lunch', nem tanto. O poema 'Uivo' de Ginsberg, foi um dos que voltei a ler frequentemente.
Agora que On the Road virou filme, me deu vontade de reler o 'Uivo', mas desta vez numa apresentação mais moderna. 
Eric Drooker, americano de Manhattan, conheceu Ginsberg em 1988, e logo sua colaboração 'Poemas Iluminados' ganharia vida. O sucesso chamou a atenção dos grandes estúdios que pediram a Drooker para fazer o trabalho gráfico que resultaria no longa 'Howl'(2010)!




Impressionante o traço de Drooker, nesta graphic novel, em colaboração com a poesia de Ginsberg!

O livro é dedicado, "aos fodidos anônimos
                                   & miseráveis sofredores
                                  & hipsters de cabeça feita
                                       de todos os lugares..."

Sempre curti muito a parte dedicada a Moloch, que começa assim:

                      'Que esfinge de cimento e alumínio arrebentou
                                  seus crânios e devorou os cérebros
                                  e a imaginação'?


Boa pergunta,Ginsberg!!