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sábado, 28 de julho de 2012

Os Segredos de Hunter S. Thompson





Curtindo muito a semi-auto-biografia de Hunter S. Thompson.
Thompson, para quem ainda não conhece, foi um jornalista americano, conhecido por popularizar o estilo 'gonzo' de jornalismo.
O gonzo, nada mais é do que a interferência do próprio jornalista na matéria que está escrevendo. No caso de Thompson, ele interferiu, e, muitas vezes, virou a personagem principal de suas próprias matérias.
O exemplo mais eloquente, foi uma matéria que Thompson foi fazer para o 'The Nation' sobre a gangue de motociclistas 'Hell's Angels'. Hunter acabou passando mais de ano convivendo com os motociclistas, e após, a matéria acabou virando livro, publicado em 1966, 'Hell's Angels' (L&PM, 2010).
Thompson teve sorte de escapar com vida de seu 'trabalho'. O relacionamento com os Angels chegou ao fim, quando Hunter, em um de seus porres frequentes, cometeu o deslize de afirmar para um Angel que sua moto era mais veloz que a deles.
'Medo e Delírio em Las Vegas' (LP&M, 2010), publicado em 1971, é provavelmente seu trabalho mais conhecido. Nele, Thompson narra sua viagem para cobrir uma convenção nacional de tiras, em Las Vegas. O problema foi que Thompson, atravessou o país, em um carro literalmente cheio de todo o tipo possível e imaginável de drogas. Além, é claro, de um estoque monumental de cerveja e rum.
O assunto do congresso, era justamente o combate as drogas, e Hunter e seu advogado (tão louco quanto ele), compareciam ao seminário completamente chapados. Muito estranhamente, os dois conseguiram se safar. Eram tratados como 'tiras exóticos'. Hunter só foi embora quando detonou toda a grana do patrocinador da matéria em bebidas, drogas, e hotéis de luxo.




'Rum: Diário de um Jornalista Bêbado' (L&PM, 2011), foi seu primeiro trabalho, mas o último a ser publicado. Nele, Hunter conta o tempo que passou em Porto Rico trabalhando em um jornal local, e diga-se de passagem que Thompson morou até no Rio de Janeiro. Este livro foi transportado para o cinema, com Johnny Depp - grande amigo de Hunter - no papel do jornalista gonzo (The Rum Diary, 2011).


Em 'Reino do Medo', publicado em 2003, (Companhia das Letras, 2007) , a tal quase auto-biografia de Hunter S. Thompson que estou lendo, o cara conta de tudo um pouco. Seu fascínio pelas drogas, sua fixação em armas de fogo poderosas, mas mais do que tudo, ele demonstra o amor por seu país.
Democrata convicto, Thompson, chegou a concorrer ao cargo de Xerife, em sua cidade do Colorado, sendo derrotado por pouco. Foi amigo do candidato democrata a presidência George McGovern, e lutou com todas as suas forças contra o envolvimento dos EUA na guerra do Vietnã.
 Seu maior trauma, foi quando cobriu a convenção democrata em Chicago, em 1968, e viu os guardas espancarem quem estivesse na frente. Ele nunca se recuperou disto! 
O livro também inclui matérias suas, publicadas em jornais, e comentários da imprensa sobre essas matérias e principalmente sobre o protagonista principal - o próprio 'gonzo', é claro.
Thompson soube aproveitar a vida! Quando as coisas ficaram difíceis - ele fez uma cirurgia na coluna que não teve sucesso -, Hunter resolveu que era hora de parar de vez. Não foi surpresa! Todos sabiam que 'vida de aposentado' não combinava com ele.
Hunter apenas se fechou em seu escritório, em fevereiro de 2005, sacou uma 'Smith & Wesson 645', e explodiu os miolos.
A vida continua em seus livros!





sexta-feira, 13 de julho de 2012

'Sopa de Cabeça de Bode' - Stones!



Aproveitando o friozinho, que dá vontade de tomar sopa, e o 'Dia do Rock', resolvi falar um pouco sobre o álbum 'Goats Head Soup' dos Rolling Stones.
Considerado muitas vezes, um trabalho menor da banda, penso que ele foi subestimado.
O problema é que este disco se encaixou em uma fase fantástica dos Stones. Espremido entre o pesado e exótico 'Exile on Main Street' (1972) e o clássico 'It's Only Rock'n'Roll' (1974), este trabalho foi avaliado na época como 'pra baixo' e confuso.

Os Stones após seu exílio no sul da França de 71/72, eram considerados uns párias. Ninguém os queria como hóspedes. Para fugir do fisco inglês, e se manter juntos, eles teriam que ser criativos.
A Suiça, um dos poucos países que concordou com a presença de Keith Richards, logo se tornaria um lugar maçante para o guitarrista, que ainda vivia uma fase, digamos, agitada em sua carreira.


A solução veio através da música. Naquele final de 1972, novos ritmos vinham sendo escutados atentamente com ouvidos de lince das campinas por Mick & Keef. O reggae, que começava a flexionar seus músculos, com os primeiros álbuns de Bob Marley, chamou a atenção da alta cúpula stoniana.
Assim, a Jamaica foi um lugar menos estranho do que se podia imaginar para o séquito dos Stones se instalar.
Na capital, Kingston, a banda descobriu um estúdio em condições e logo convidaram seus amigos Nicky Hopkins, Billy Preston, Ian Stewart, Bobby Keys, Jim Horn, e cia, para o início dos trabalhos.

Desde junho de 1969, Mick Taylor havia assumido o posto de segundo guitarrista da banda, em substituição, ao agora falecido Brian Jones. Com seu talento natural, Taylor modificou totalmente o enfoque das canções da dupla Jagger & Richards. Agora haveriam solos de guitarra. O disco 'Sticky Fingers' de 71, já havia dado uma bela amostra da competência de Taylor. Se em 'Exile...' Keith optou por um som mais pesado, e atirar em todas as direções, agora em 'Goats...', Taylor teria mais espaço para atuar.


O grande sucesso do álbum, que muita gente acha que só pintou em single, foi a canção 'Angie'.
Segundo a lenda, Mick Jagger e David Bowie, compuseram juntos esta música, na cama, inspirados por Angela Bowie! Verdade ou não, ela é certamente uma das melhores baladas dos Stones, com direito a um piano matador tocado por Nicky Hopkins (e não Mick Taylor, como alguns pregam), Taylor só a tocou em um clip, e ao vivo, quando Nicky não acompanhava os Stones.

'Dancing with Mr. D.' e principalmente 'Doo Doo Doo Doo Doo (Heartbreaker)', também se sobressaíam como aspirantes as paradas de sucesso, mas não eram nem de longe as melhores faixas do álbum.
Este posto é dividido por duas canções quase obscuras. 'Coming Down Again', uma das melhores criações de Richards, é sofrida e surpreendente, com seu vocal espectral. 'Winter', também com o piano de Nicky Hopkins, e a guitarra de Taylor babando, fez com que Mick Jagger elevasse o nível de seu trabalho vocal, e o arranjo de cordas da música, arrasou.


Não podemos esquecer também de '100 Years Ago', soando como um momento raro de coesão da banda,  e com um belo 'approach' de Billy Preston. A harmônica de Jagger se destaca em 'Silver Train', que traz o piano de Ian Stewart, e 'Hide Your Love' é descartável.

Talvez o que de melhor a banda produzia na época possa ser apreciado em 'Can You Hear the Music'. Esta canção sintetiza, como nenhuma outra, a fase dos longos e belos solos (de Taylor), e a quase 'jam session', que se iniciara em 71 com canções como 'Can't You Hear Me Knocking', e principalmente 'Moonlight Mile', e duraria até 74 com os petardos 'Fingerprint File' e 'Time Waits for No One'.
Esta última, aliás, foi um dos motivos da saída de Mick Taylor da banda. Taylor queria os créditos da canção, como compositor, - certamente por seus longos solos e improvisações - ao lado de Mick e Keef, mas não foi atendido.
Com a partida de Taylor, encerrava-se, talvez, a melhor fase da banda. Nunca mais os Stones ousariam tanto dentro de um estúdio de gravação.


Pra encerrar 'Goats Head Soup' - que fome -, o rock tradicional dos Stones se fez presente. Só que como sempre, de maneira provocante. A simples e eficiente 'Star Star', ficaria muito mais conhecida pelo jargão stoniano, 'star fucker', do que por qualquer outra coisa. Nem todos os álbuns de rock, tinham um final tão triunfante!
A produção do álbum ficou a cargo de Jimmy Miller, pela última vez. Sua associação com os Rolling Stones que começara no 'Beggar's Banquet' de 68, e passara pelos melhores momentos da banda, chegava ao final. Miller, foi mais um daqueles tantos que não segurou a barra das drogas. Afinal, junto com os Stones, isto não era coisa fácil mesmo de se conseguir.


A capa do disco também foi controversa. Ray Lawrence desenhou e o famoso David Bailey clicou, a pedido de Jagger, uma foto em que os Stones apareceriam com um tipo de 'máscara mortuária', como se já tivessem partido desta pra uma melhor!
Não, os Rolling Stones não estavam mortos! E se estamos falando deles hoje, no Dia do Rock, 39 anos após 'Goats Head Soup' e 50 anos depois do primeiro single da banda, é um sinal de, no mínimo, muito talento, persistência e criatividade. Ou não?




sábado, 7 de julho de 2012

Brian Jones no Marrocos!





Era uma vez o verão de 1968, quando revoltas estudantis varriam o planeta. A 'Primavera de Praga' também já deixara sua marca na mente dos ocidentais. Os Beatles já haviam revolucionado a música com 'Sgt. Pepper's', e preparavam o 'White Album'! Bob Dylan estava sumido! Elvis estava gordo, mas ainda não tanto!
Os Stones o que faziam? Eles preparavam com cuidado um álbum - que viria a se chamar 'Beggars Banquet' -  que poderia revitalizar a banda após o fiasco de 'Their Satanic Majesties Request'.
Naquele verão, Mick Jagger e Keith Richard, praticamente descartaram Brian Jones como um integrante vital do grupo.
A rusga era antiga. Brian, inicialmente havia sido o líder. Pouco a pouco ele foi perdendo espaço dentro da banda principalmente por não compor. Keith e Mick se uniram, compunham o que lhes vinha na cabeça e levavam as canções prontas ao restante da banda. Se Charlie Watts e Bill Wyman não se importavam, Brian foi acumulando ressentimento.



Em primeiro lugar, Brian queria os Stones como uma banda de blues. Os outros rapazes, apesar da evidente influência dos negros americanos, agora não se incomodavam em levar o som dos Stones em outras direções. Brian lutou contra isso, mas perdeu!
Além de ter perdido seu espaço no grupo, Jones também perdeu sua mulher.
Em 1967 durante uma viagem ao oriente, Brian teve uma crise de asma, que o levou a ser hospitalizado. Keith, estava lá, mas preferiu consolar Anita Pallenberg, mulher de Brian, à continuar a cuidar do amigo. Resultado: quando saiu do hospital, Brian já encontrou Anita vivendo com Keith!

Não que Brian Jones fosse algum tipo de 'santo', muito pelo contrário. Ele já havia passado por vários relacionamentos, antes dos Stones. Tinha 6 filhos, todos homens, todos ilegítimos e gerados por seis mulheres diferentes. Quando encontrou Anita, uma atriz italiana, jovem e sexy, que ninguém sabia de onde havia saído, Brian pirou por ela.



O problema era que Jones não era pirado só por ela. Suas pirações incluíam doses industriais de bebida, drogas de todos os tipos, para às quais ele tinha pouca resistência, e um apetite sexual incontrolável.
Quando a polícia anti-drogas resolveu implicar com os Stones, Jones foi o primeiro a ser preso. E o seria várias vezes. Isto foi a gota d'água! Brian nunca mais seria o mesmo.

Se você colocar na balança a perda de Anita, as prisões, e o caráter esnobe da dupla Jagger & Richards, talvez o fardo tenha sido pesado demais para Brian.
Seu nível de concentração nas gravações baixou a um nível alarmante. Antes um músico eclético e inovador, agora ele se contentava em tocar percussão, ou até mesmo a dormir ou 'viajar' no estúdio.

Quando ele resolveu tirar férias em julho de 68, o amigo Brion Gysin o levou ao Marrocos. 
Lá, Brian ouviu flautas e cornetas que datavam de 4 mil anos atrás. Ele ficou enfeitiçado! 
Na pequena aldeia de Jajouka, Jones fez questão de gravar os músicos locais.

Gysin conta que a aparição de Brian em Jajouka correspondeu a chegada de um ET! Os habitantes se reuniram em torno dele, e o tocavam como se ele fosse um ser de outro mundo. Devemos lembrar que Brian Jones possuía uma vasta cabeleira loura, e se vestia como um hippie de verdade. Longas túnicas, cetins bufantes e esvoaçantes, faziam parte de sua vestimenta normal. Para quem nunca tinha visto um ocidental 'normal', imaginem topar com Brian Jones?



Brian curtiu o lugar. Foi-lhe oferecido um banquete. A especialidade do local era fígado de cabra, assado na hora! Todos viram o animal se encaminhar para ser abatido. Um calafrio percorreu os presentes. Com sua franja branca caída sobre os olhos, a cabra se parecia muito com Brian!
Enquanto saboreava o fígado, Brian comentou com Brion Gysin: "é a mim que estão devorando"! 
Quem sabe uma premonição?
Após passar a noite em Jajouka, na manhã seguinte eles partiram para Tânger, onde no hotel, Jones passou o dia ouvindo as gravações, como se estivesse em transe.
De volta a Londres ele levou a música marroquina até Keith e Mick. A receptividade não foi a esperada.

Quando Brian morreu um ano depois, em 1969, Jagger finalmente resolveu fazer algo com as fitas do amigo. Ele negociou com gravadoras e elas viraram disco em 1971, levando a música de Jajouka a um reconhecimento universal.

Não é um som fácil!! Escutei pela primeira vez estas gravações em 1990, e deste então volto a elas regularmente, tentando uma melhor assimilação. Tem algo a ver com música indiana, mas me parece mais profunda. Flautas, cornetas, percussão, coral, tudo se mistura em uma energia que sugere um enlevamento, uma prece.



'Brian Jones Presents The Pipes of Pan at Jajouka', soa para mim, como o epitáfio de Brian Jones, já que ele não deixou canções de sua autoria, e não fez gravações solo.

No dia 03 de julho fez 43 anos que Lewis Brian Hopkin-Jones deixou este planeta.
Jim Morrison, que partiu exatamente 2 anos depois de Brian, lhe dedicou esta poesia quando soube de sua morte:

"Piscina de manteiga quente
    Onde fica Marrakesh
    Debaixo das cataratas
    a fúria da tempestade
onde os selvagens caíram
    ao fim da tarde
    monstros do ritmo

Deixaste o teu
    Nada
para rivalizar c/
    O silêncio

Espero que tenhas partido
    Sorrindo
Como uma criança
Em busca dos retalhos perdidos de um sonho..."