Desenho de Paulo Chagas
Rubber Soul, o álbum dos Beatles que começou uma mudança radical na música e no comportamento do Fab Four, completa 45 anos de idade neste dia 03 de Dezembro!
Sempre curti este disco como o primeiro dos grandes álbuns dos caras. Gosto muito dos anteriores, especialmente o 'With The Beatles', mas aqui eles começam a falar sério pra valer!
Deixo aqui mais um texto escrito para o 'Alto & Bom Som'!!
Rubber Soul – Os Beatles falando sério
Em 1965, os Beatles
estavam no auge do fenômeno que ficou conhecido como Beatlemania. O Fab Four continuava fazendo turnês exaustivas pelos EUA e
Europa e tinha acabado de atuar em seu segundo filme, “Help!” – que teve a
trilha sonora composta pelo quarteto de Liverpool.
Com tudo isso
rolando, John e Paul começam a imaginar um novo tipo de música. Eles estavam
cansados de compor e tocar sempre as mesmas baladinhas no estilo I wanna hold your hand. Os garotos também
estavam saturados dos shows, em que mal eram ouvidos pela plateia, mais
interessada em gritar.
Surge, assim, a ideia de terminar com as turnês e se dedicar
aos estúdios de gravação.
Bob Dylan foi certamente uma grande influência
nessa época. John, particularmente, absorvia a poesia de Dylan e a interpretava
à sua maneira. As letras começariam a querer expressar outros sentimentos além
de She loves you.
Rubber Soul foi o primeiro passo nesse sentido. Nele, aparecem as
primeiras composições mais sérias dos Beatles – exceção feita às anteriores Help (pela letra) e Yesterday (pela melodia), gravadas também em 65 – e arranjos mais
elaborados.
John, particularmente
inspirado, oferece duas pérolas neste álbum: a confessional Nowhere Man, falando de como ele se
sentia perdido apesar de todo o sucesso profissional, e a antológica In My Life, em que ele faz um ‘passeio’
nostálgico em sua mente, lembrando de tudo que deixou para trás. O tema seria
ainda mais desenvolvido em Strawberry Fields Forever,
com reminiscências da sua cidade natal. Estas duas não fariam feio em nenhum álbum dos Beatles.
Paul atravessava um
momento complicado, profissional e sentimental.
John vinha compondo muito mais nos últimos álbuns e, inclusive, foram
dele as duas músicas- título dos dois filmes da banda. Paul sentia que estava
perdendo terreno para o parceiro.
Seu relacionamento
com a atriz Jane Asher, que iniciara em 1963 – ele até
se mudou para a casa dos pais dela – estava abalado.
Jane, uma pessoa
muito independente, não abria mão de sua carreira no teatro e cinema, e o que
Paul mais queria - como todo inglês do norte - era uma esposa e mãe dos seus filhos.
Pelo menos duas
canções do álbum exprimem estes problemas no relacionamento dos dois: You Won’t See Me, com um belo trabalho
vocal de McCartney, e I’m Looking Through
You, marcada por um bonito órgão tocado por Ringo, e uma letra bem direta
para Jane, reclamando que ela “não era mais a mesma.”
George Harrison, que
sempre sofreu com o pouco espaço destinado às suas canções, surge com duas
grandes músicas: If I Needed Someone,
com uma guitarra inspirada e um arranjo originalíssimo a cargo do mestre George Martin. Think For Yourself chama a atenção pelo
vigor da interpretação de George e pela marcação do baixo com fuzz de
Paul.
Outra composição
interessante é Michelle, em que McCartney usa
todo seu talento para melodias fáceis, porém inesquecíveis, e onde ele
acrescenta belos versos em
francês. Michelle é
hoje a segunda música mais regravada por outros artistas em todos os tempos, só
ficando atrás de Yesterday!
Norwegian Wood, de John, inova ao apresentar o trabalho de sitar,
de Harrison, que estava estudando o instrumento de
cordas indiano com Ravi Shankar e começava a se aprofundar em tudo
relacionado à cultura oriental, o que viria a influenciar os Beatles no futuro próximo. John, nessa música, relata um caso
extraconjugal, mas foi composta de uma maneira que sua esposa não entendesse.
A primeira canção do
álbum, Drive My Car, já sugere
mudanças principalmente na melodia e nos arranjos que os Beatles estavam
acostumados a produzir. Os rapazes sempre curtiram muito música negra americana
e da gravadora Motown. Nessa música, o baixo de Paul é inspirado na canção Respect, de Otis Redding, com um belo
complemento de Harrison na guitarra. George sempre comentou que esta foi uma das poucas músicas que Paul trouxe para o estúdio sem estar com o arranjo pronto na cabeça. Assim, todos puderam dar uma pequena contribuição nessa composição de McCartney.
Ringo Starr sempre
foi fã de música country e, para abrir o lado B, ele comparece com What Goes On, parceria com John e Paul,
em que pode desenvolver seu talento vocal. Apesar do pouco alcance de sua voz,
Ringo tinha muitos fãs e era sempre importante que ele cantasse ao menos uma
música por disco.
The Word é um belo exemplo da utopia da contra-cultura vigente na
época, além de ser obviamente uma referência à maconha que lhes tinha sido
apresentada por Dylan. John e Paul fazem uma bela harmonia vocal.
A canção que encerra
o álbum, Run For Your Life, seria uma
daquelas que mais tarde – depois de conhecer Yoko - John renegaria, alegando
que, naquele tempo, ele era machista. Na verdade ela soa meio deslocada neste
disco. Foi a primeira a ser gravada para o álbum e não deveria ter feito parte
dele.
A capa de “Rubber
Soul” nos mostra uma foto dos Beatles com aparência cansada, clicada por Robert
Freeman. O efeito distorcido, segundo Freeman é um reflexo das mudanças pelas
quais os Beatles estavam passando no momento.
O título, de acordo
com John Lennon, foi ideia de Paul e seria um trocadilho, algo como ‘Alma
Inglesa’!
O álbum foi lançado
em dezembro de 1965 e teve uma recepção calorosa dos fãs, apesar da sonoridade
mais complexa.
“Rubber Soul” abriria
as portas para novas experimentações e, a partir de 1966, os rapazes
desistiriam de vez das turnês e logo depois voltariam
toda sua atenção para o estúdio. Se, por um lado, essa atitude garantiria
inovações fantásticas nos seus próximos trabalhos, por outro, seria decisiva
para o final da própria banda.
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