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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Loki?



"Se eles tem três carros, eu posso voar
Se eles rezam muito, eu já estou no céu".


Foi com a 'Balada do Louco' que eu conheci Arnaldo Baptista, tecladista e baixista dos Mutantes, e na época marido de Rita Lee.
Impossível medir a importância desta banda para a música popular brasileira. Basta dizer que eles revolucionaram tudo, desde o som até a maneira de se vestir. Era como se fossem os Beatles tupiniquins! Isto tudo num tempo que o máximo de ousadia era a 'Jovem Guarda', com Roberto, Erasmo, Wanderléa e companhia. Tudo bem, vou livrar o 'tremendão' porque ele curtia muito uma guitarra elétrica!


Depois de alguns trabalhos inesquecíveis como 'Mutantes e seus Cometas no País do Baurets' e 'A Divina Comédia' que traziam as deliciosas 'Ando Meio Desligado', 'Quem tem Medo de Brincar de Amor' e a já citada 'Balada do Louco', Arnaldo, Sérginho Dias ( seu irmão guitarrista) e Rita Lee terminaram com a primeira encarnação da banda.
Além do relacionamento difícil de Arnaldo e Rita, que acabariam se separando, o grande problema era a direção musical que os dois irmãos queriam dar à banda. Era algo totalmente diferente, nada comercial e mais para o lado do rock progressivo. Rita Lee queria apenas fazer sucesso comercial. E fez muito, como provam seus discos dos anos 80.
Arnaldo tentou continuar com os Mutantes, mas também não durou muito sua afinidade musical com Sérgio e os músicos Dinho na bateria e Liminha no baixo.




Finalmente, ele resolve gravar um trabalho solo. Ele surgiu em 1974 como uma pequena obra-prima chamada 'Loki'? Pela tristeza e quase insanidade das letras, e até por uma instrumentação fantástica, este álbum merecia um melhor reconhecimento, e merece ainda hoje em dia uma releitura mais aprofundada.
 Do rock até a música romântica, do samba até o progressivo, Arnaldo passeia por todos esses estilos com dignidade. As letras dão uma pequena pista de como andava o emocional do 'loki' em 'Uma Pessoa Só' ou 'Vou Me Afundar na Lingerie', mas a banda valvulada - uma de suas maiores bandeiras, Arnaldo detestava a amplificação transistorizada - e graças principalmente aos seus teclados e arranjos (alguns do maestro Rogério Duprat), não deixam o clima do álbum cair na pieguice. 'Cê Tá Pensando Que Eu Sou Loki'?, talvez a melhor canção do disco, mostra Arnaldo com muito bom humor, dando uma aula de ritmo e sarcasmo aos caretas em geral. 'Desculpe' e 'Te Amo Podes Crer', também se destacam e mostram o lado mais frágil de Arnaldo.




Bem, depois deste trabalho, Arnaldo Baptista rodou muito por aí, e praticamente nada gravou até o final da década. Em 1980, ele resolveu voltar aos estúdios, e desta vez como um de seus ídolos, Paul McCartney, ele queria fazer tudo sózinho. 
Nasce assim o 'Singin' Alone', álbum lançado em 1981, com Arnaldo desta vez alternando canções em inglês ao seu repertório. Talvez o nível tenha caído, talvez a cabeça de Arnaldo já não estivesse legal, mas 'Jesus, Come Back to Earth' é antológica, assim como a piradíssima 'Bomba H Sobre São Paulo' e as divertidas 'Cowboy' e 'Corta Jaca' cumprem seu papel.
No fim achei que faltou um pouco de gogó pro Arnaldo neste disco, quando ele procurou se soltar, a voz faltou, sem falar no seu sotaque paulistinha do interior que atrapalhou um pouco. Não se pode ter tudo!


Pouco tempo depois do lançamento deste álbum, Arnaldo foi internado numa clínica psiquiátrica em Sampa, de onde 'voou' do terceiro andar em circunstâncias misteriosas. Após muito tempo em coma, Arnaldo se recuperou. Vive hoje no interior de Minas, já lançou mais um álbum: 'Let It Bed', e continua defendendo as válvulas e as guitarras Gibson Les Paul!
O Homem também tem bom gosto!!!


"Cê tá pensando que eu sou loki, bicho?
Eu sou velho, mas gosto de viajar..."


Eu também, Arnaldo!   

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