Total de visualizações de página

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

'IMAGINE' - 44 ANOS!

          Este pequeno texto, analisando o álbum 'Imagine' de John, foi escrito para o meu livro 'Alto & Bom Som', em 2009. Recordando hoje os 44 anos de um grande álbum! 



                                    Imagine – Nuvens utópicas 


Em seu último trabalho gravado em sua terra natal, antes de partir para os EUA , John Lennon resolveu baixar o tom do discurso.
Tendo exorcizado seus fantasmas no álbum anterior, o catártico John Lennon/Plastic Ono Band’, Lennon retorna com um álbum mais harmônico e bem arranjado. Desta vez, o produtor Phil Spector recebeu carta branca para acrescentar cordas e violinos às canções.

  
Após conseguir controlar o uso de drogas, o relacionamento de John com Yoko atravessava uma ótima fase, e isto se refletiu no álbum.
Com seus ideais intocados após a campanha do bed-in pela paz mundial, a dupla resolveu compor um hino a esta causa.
Give Peace a Chance tinha sido uma pálida mostra do que John podia fazer, mas da próxima vez ele não erraria a mão.

Imagine iria se transformar na música mais conhecida, mais cultuada e mais amada do ex-Beatle. Seu nome virou sinônimo de paz, justiça e liberdade. Até hoje, ela continua atual e existem milhares de versões pelo mundo afora. Se John Lennon ficou marcado por alguma música, com certeza foi Imagine.

Outro grande sucesso do disco foi a balada Jealous Guy, que remontava ao tempo da meditação transcendental na Índia com o Maharishi Mahesh Yogi, em 1968.
 John à havia iniciado após ouvir uma leitura do Maharishi e colocou o título provisório de Child of Nature. Como os outros Beatles não se interessaram, John a deixou de lado, só retornando aos trabalhos depois da separação do grupo.
Nesta música, assim como em várias outras, surge a inconfundível guitarra de George Harrison, convidado de honra do álbum.


John trabalhou em Imagine com vários amigos e músicos de primeira linha, o que contribuiu para o som redondo do álbum. O line-up básico foi Nicky Hopkins no piano, Klaus Voormann no baixo e Alan White na bateria, além de participações especiais do saxofonista King Curtis e dos bateristas Jim Keltner e Jim Gordon.

Podemos sentir um remake do álbum anterior nas composições I Don’t Wanna Be a Soldier Mama, I Don’t Wanna Die e Gimme Some Truth, em que John solta a voz pra valer, seguido por um arranjo poderoso de guitarra.
John e Yoko dividem os créditos pela balada Oh My Love, que demonstra o quanto eles ainda estavam apaixonados.

Um dos grandes momentos do álbum é a rascante How Do You Sleep? – com um soberbo solo de slide de Harrison -, que tinha como alvo ninguém menos que o ex-parceiro Paul McCartney.
Durante a difícil e turbulenta separação dos Beatles, John nunca engoliu que  McCartney tivesse sido aquele que anunciou oficialmente o final da banda. Lennon começaria a hostilizar Paul publicamente, criticando suas canções e o seu álbum de estreia.
McCartney revidou de maneira mais sutil, através da música, com a canção Too Many People, lançada no início de 71.
Nesta canção, Paul comenta sobre 'gente' que ‘prega um discurso, mas segue outro caminho na vida privada’ e aconselha as pessoas a ‘não deixar que lhe digam o que fazer...’


John parece ter entendido o recado e retalhou de maneira mais direta. How Do You Sleep?, entre outros ataques a Paul, sugere que ‘a única música que você fez foi ‘Yesterday’ – referindo-se a canção super-famosa do parceiro no  tempo dos Beatles.     
A letra de 'How Do You Sleep?', segundo a lenda, seria ainda muito mais ofensiva a Paul com as contribuições de Yoko e do empresário Allen Klein, mas o chapa Ringo Starr, que se achava presente no estúdio, conseguiu impedir John de colocar tudo no papel.
Felizmente, logo depois, as coisas se acalmaram e Paul compôs para John a canção Dear Friend, em que sugere uma trégua no conflito entre os dois.

Nada melhor do que terminar o álbum de forma mais amistosa, e John o fez de maneira impecável em How?, uma de suas mais belas composições até então, e a deliciosa Oh Yoko!, mais uma declaração de amor a sua inseparável esposa e companheira.


Chegava ao fim aquele que, provavelmente, foi o álbum mais acessível do ex-Beatle. Com ele, ficou provado que Lennon não era apenas aquele rockeiro duro, sagaz e incapaz de cantar uma bela balada.
Ainda naquele ano, John comporia o clássico natalino Happy Xmas (War is Over), lançado em single e que chegaria aos quatro cantos do mundo como mais uma mensagem de paz do casal Lennon.
Tempos difíceis os esperavam na América, mas na metade de 1971, John e Yoko tinham o mundo a seus pés.


                                                                                            Agosto de 2009 

quinta-feira, 16 de julho de 2015

CAT STEVENS/ YUSUF




                                                             TALENTO NATURAL


Vou combinar com vocês que apesar de ele ter se convertido ao Islã em 1977, e trocado seu nome para Yusuf Islam, ainda gosto de chamá-lo de Cat Stevens, seu nome artístico, ou simplesmente CAT!
Sem dúvida um dos maiores compositores ingleses dos anos 60/70, Steven Demetre Georgiou, filho de pai grego e mãe sueca, completa 67 anos neste 21 de julho.


Cat era aquele tipo de artista de quem você poderia comprar um disco de olhos fechados. Desde seu primeiro álbum, em 1967, chamado 'Matthew and Son', em que a faixa título e 'I Love My Dog', emplacaram nas paradas, sua carreira foi uma das mais bem sucedidas do show biz!

Não pense, porém, que Cat se contentava com o sucesso fácil. Álbuns como 'Mona Bone Jakon' (1970), são já uma amostra de suas preocupações com o mundo consumista e superficial que o inglês já detestava naquela época.
Neste mesmo ano de 1970, ele lança 'Tea for the Tilerman', provavelmente seu mais acessível trabalho, em que desfilam algumas de suas melhores canções. A música 'Father and Son' se tornou um clássico instantâneo, unindo gerações.

Sempre evoluindo, em 1971 Cat vem com 'Teaser and the Firecat', disco em que suas preocupações com a paz mundial, em uma época extremamente conflituosa, ficavam mais fortes. A canção 'Peace Train', virou seu hino à paz, até os dias atuais. Outro destaque é 'Morning Has Broken', testemunha do perfeccionismo musical de Cat.

Em 1973, Stevens se saiu com um álbum muito diferente. Dispensando o produtor de longa data Paul Samwell-Smith, e sua banda habitual, ele descobriu que sua maior influência era a música negra, e não o rock. Como ele havia morado algum tempo no Brasil, para fugir do imposto de renda britânico, ele entitulou o disco de 'Foreigner'. Ali não havia nenhuma música comercial, e o que deixou seus fãs de cabelo em pé, era que o lado A era composto de uma única canção: 'Foreigner Suite', com seus mais de 18 minutos.

'Buddha and the Chocolate Box' (74), é mais dinâmico em sua essência, e o hit 'Oh Very Young', deu aos fãs um pouco do que eles esperavam.
 Ele já não dava a mínima para o sucesso, mas em 1976, Rod Stewart lança o álbum 'A Night on the Town', em que a música 'The First Cut is the Deepest', antiga composição de Stevens, rouba o álbum, e emplaca nas paradas. Todos queriam ouvir novamente o 'velho Cat', mas ele já está noutra!

 Seu último álbum da fase Cat Stevens foi 'Izitso', lançado no início de 1977. Um belíssimo adeus do iluminado Mestre aos seus fãs ocidentais.
No ano de 1978, ele ainda lançaria 'Back to Earth', mas as canções já não tinham nada a ver com o antigo Cat!


Depois de sua conversão, Yusuf silenciou durante muitos anos, Sendo entrevistado uma vez ou outra, quando ficamos sabendo que ele havia casado. Suas declarações também foram desastrosas, ele mesmo reconheceria depois, sobre a pena de morte imposta pelo Islã ao escritor Salman Rushdie.

Como sua vida deve ter se tornado um tanto monótona, digamos assim, parece que Yusuf, começou aos poucos a compor novamente. Em 2006, finalmente, um novo disco de Yusuf (Cat) seria lançado.
'An Other Cup', mostra que o velho sábio não perdeu seu talento nem sua voz. Ele até ressuscitou o antigo sucesso 'Don't Let Me Be Misuderstood', praticamente se apropriando da canção.
'Roadsinger' de 2009 e o mais recente 'Tell'em I'm Gone', nos mostram um artista ainda sensível, sem radicalismos, e o que é muito importante: disposto a voltar a gravar e fazer turnês.

Grande Cat. Grande Yusuf!!





terça-feira, 23 de junho de 2015

QUEM FOI O 5º BEATLE?



                                              O BEATLE QUE NÃO FOI RECONHECIDO



Este é um papo manjado entre os beatlemaníacos. Quem foi o quinto beatle? Ele realmente existiu?



Hoje, Stuart Sutcliffe estaria completando 75 anos. Ele é um forte concorrente ao cargo honorário de 'quinto beatle', pois fez parte da banda até 1962, tocando baixo. Grande amigo de John Lennon, Stu entrou para os Beatles graças a insistência deste. Seu forte não era a música. Ele era na verdade um grande artista, e seus quadros valorizaram muito após sua morte. Deixaremos então Stu na 'lista de espera'.




Talvez o candidato mais viável a este posto, por ter 'descoberto' o talento deles, seja o empresário Brian Epstein. McCartney, que nunca foi muito amigo dele, disse uma vez: "se existiu um quinto beatle, ele foi Brian". É verdade. Epstein tirou os caras de um porão úmido e decadente, os orientou a como se portar num palco, e buscou contrato com gravadoras para que finalmente eles pudessem gravar um disco. Foi trabalho duro, mas Brian venceu a batalha. No entanto, seu pouco tino para os negócios, faria os Beatles perder muito dinheiro, principalmente em negociações de royalties. O contrato para a trilha sonora de 'A Hard Day's Night', também foi uma piada, com os Beatles arrecadando muito menos do que deveriam.
Enfim, Brian aguarda no primeiro lugar na nossa 'lista de espera'.




Tenho certeza que muitos votos iriam para o produtor George Martin.
Martin, que trabalhava no selo Parlophone, da EMI, em 1962, quando Epstein foi lhe mostrar umas demos de um grupo de Liverpool, imediatamente enxergou alguma coisa naqueles rapazes. Porém, no início, Martin ficava procurando por um cantor principal (que poderia ser Paul ou John na opinião dele), e o grupo de apoio. George custou a se dar conta que o forte da banda era o todo.
Martin foi essencial nas primeiras gravações, mostrando como funcionava um estúdio para os garotos, e tendo a humildade necessária, para depois de um certo tempo, deixar os caras à vontade nas gravações. Sua presença seria menos necessária com o tempo. Somente quando começaram as brigas internas, Paul foi buscar novamente o velho maestro para unir o grupo. Ele fica de nº 2 na fila.




Pouco conhecido do grande público, mas um cara que fez muito pelo som dos Beatles, é o engenheiro de som Geoff Emerick.
Geoff começou seu trabalho com os rapazes em 1965. Seu antecessor Norman 'Hurricane' Smith, queria se tornar produtor, e foi transferido para outra banda que estava começando: Pink Floyd!
Os Beatles lucraram muito com a chegada de Emerick. 'Rubber Soul', com a ajuda de Geoff, já mostra uma banda bem mais madura e dominando os estúdios. Ele insistiu com Paul para que usasse o baixo Rickenbacker, no lugar de seu tradicional Hofner, o que aumentou em muito o peso de músicas como 'Paperback Writer', por exemplo. Com o tempo, o trabalho de Emerick só aumentou com os rapazes, mas ele foi suficientemente talentoso para acompanhar a evolução da banda. Ele merece um crédito enorme pelos 'truques' de estúdio dos Beatles. Forte concorrente ao posto.




Podemos citar também os amigos dos caras, desde a época em que começaram, e que os acompanharam até após o final da banda. Deste grupo, se destacam de cara Mal Evans e Neil Aspinall.
Mal era o gigante simpático, antigo leão de chácara do Cavern, e depois roadie dos rapazes. Na verdade ele foi muito mais que roadie. Ele estava presente em todas as gravações, pronto tanto para ir buscar um chá, como para tocar um pandeiro. No final da banda, Mal chegou a se aventurar como produtor da banda Badfinger.




Neil era o motorista do grupo nos primeiros tempos. Amigo leal de Pete Best, primeiro baterista dos
caras, Neil quase largou o grupo quando Best foi chutado do conjunto em favor de Ringo Starr. Aspinall acabou ficando, e graças a seu talento como contador, a gravadora 'Apple' dos Beatles foi recuperada nos anos 90.

Sem dúvida temos que falar de Pete Best, o primeiro baterista da banda. Pete, não era na verdade grande amigo de nenhum dos outros do grupo, então sua saída pouco antes do início do sucesso dos Beatles, não foi uma surpresa. Seu talento como músico também era questionável.



 
Alguns chegaram a votar em Billy Preston, como 5º beatle. Sinceramente, não concordo. Billy, apesar de seu enorme talento, e de proporcionar um clima mais agradável nas fatídicas sessões do projeto 'Get Back/Let It Be', não participou assiduamente da banda. Aliás, Paul vetou qualquer maior participação dele como integrante perpétuo da banda.
Preston fica na reserva.

Para um diagnóstico final, devo dizer que todos os citados acima, contribuíram de uma maneira ou de outra para que os Beatles atingissem os seus objetivos. Uns mais, outros menos. Penso que colocar um 'quinto beatle' no grupo, mesmo oficiosamente, desmereceria o trabalho dos quatro. Lembro de um Paul McCartney magoado citando um artigo que dizia: 'Sgt Pepper's, o melhor trabalho de George Martin'.  "Pera aí, vamos devagar", disse o Macca, "o George ajudou, mas chamar 'Pepper's de um álbum dele é demais".
Para concluir, um sábio ditado popular: não se mexe em time que já ganhou!    

segunda-feira, 1 de junho de 2015

SGT. PEPPER'S - 48 ANOS.


                                          Sergeant Peppers 

                                    48 ANOS DE UMA REVOLUÇÃO



            Era uma vez um verão inglês da contracultura, há 40 anos. Na esteira do movimento beatnik dos anos 50, os sixties se transformaram no palco de manifestações da juventude contra valores da cultura ocidental, configurando um tipo de crítica anárquica que revolucionou nosso modo de ver o mundo. Este caldeirão, que apenas prenunciava o Maio de 68, a Primavera de Praga e o Festival de Woodstock, também encontrava John Lennon, Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr um tanto diferentes. Alguns anos antes, os Beatles explodiram como grande fenômeno da comunicação de massa do século XX, mas haviam abandonado os palcos e a histeria das fãs para se dedicarem integralmente ao trabalho em estúdio.
            Muito desta nova orientação se demarcava em Revolver (1966), que já soava um tanto esquisito e diferente para os padrões da época. Foi então que, em 1o de junho de 1967, os Beatles surpreenderam o mundo com uma verdadeira revolução. Sgt Pepper´s Lonely Hearts Club Band era lançado como a primeira experiência de disco conceitual e que seria bastante imitada nos anos seguintes. De fato, Sgt Pepper´s não deve ser considerado apenas um disco, mas a fiel expressão de uma época. Foram 129 dias de gravações, provavelmente os dias mais inventivos e revolucionários da história do rock.
            Quarenta anos depois, a atualidade desta obra permanece intacta. Sua resistência ao tempo revela, a cada audição, novos elementos que provocam a sensibilidade. A concepção do álbum começou um pouco antes, mais precisamente no final de 1966, quando os Beatles gravaram o compacto Penny Lane/Strawberry Fields Forever, duas canções tão marcantes na carreira do quarteto de Liverpool que fariam por merecer integrarem o Sgt Pepper´s.
            A ideia do novo disco era engenhosa e jogava com elementos de farsa e de ironia com o culto às celebridades marcante na cultura da mídia. Os Beatles agora trocariam de identidade e se tornariam a banda de um suposto “Sargento Pimenta”. A partir deste momento e até seu final, em 1970, os rapazes de Liverpool seriam uma banda de estúdio, buscando os limites de sua criatividade e explorando ao extremo os poucos recursos tecnológicos da época (o disco foi gravado em quatro canais).
            Qualquer pessoa que tenha comprado Sgt Pepper´s Lonely Hearts Club Band lembrará para sempre suas primeiras impressões ao segurar aquela capa multicolorida e cheia de enigmas, onde os Beatles figuram ao centro, caracterizados com os fardões da banda imaginária, tendo ao fundo ícones da cultura midiática, como Jonny Weissmuller, Mae West, Marlon Brando e Shirley Temple, além de pensadores como Marx e Jung. O impacto visual da capa de Pepper´s é apenas o prenúncio do que vem a seguir, quando convidamos o leitor para uma audição comentada, música por música.



Sgt Pepper´s Lonely Hearts Club Band
            Paul McCartney teve a ideia para o álbum quando voava dos Estados Unidos para a Inglaterra. Nomes esquisitos para conjuntos estavam na moda, e Paul imaginou que os Beatles poderiam trocar suas identidades e se transformarem na “Banda dos Corações Solitários do Sargento Pimenta”. A música anuncia o show que está para começar.

With a Little Help from my Friends
            A música é interpretada por Ringo Starr e está interligada com a abertura. A universalidade dos temas se sobressai, aparecendo neste caso a amizade. Nela, é apresentado um certo “Billy Shears”, alter-ego do baterista dos Beatles. Composição de Paul, com uma “pequena ajuda” de John Lennon.

Lucy in the Sky with Diamonds
            A famosa canção de Lennon tem as iniciais LSD e foi interpretada na época como apologia às drogas. Mais tarde, John explicou que se baseou em um desenho do filho Julian, então com cinco anos, que teria retratado uma colega de escola chamada Lucy voando no céu e rodeada por estrelas que parecem diamantes.

Getting Better
            Música de Paul, inspirada em frase que o baterista Jimmy Nichol, que substituiu Ringo quando este ficou doente em turnê de 1964, repetia sempre. Quando perguntavam a Jimmy como estavam as coisas ele respondia “estão melhorando”. Quando ouviu a gravação de Paul, um sarcástico Lennon chegou a dizer: “não poderia estar pior”.

Fixing a Hole
            Paul compôs esta música após consertar o telhado de sua casa na Escócia. Também se refere aos fãs mais exaltados que faziam ponto em frente à sua residência. No dia da gravação, McCartney conta que um sujeito bateu à sua porta dizendo que se chamava Jesus. Paul o levou ao estúdio para apresenta-lo aos colegas: Este é Jesus. “Ele se comportou bem”, lembrou Paul mais tarde, “e nunca mais vimos Jesus”.

She´s Leaving Home
            Uma das mais belas baladas de McCartney, conta a história de uma adolescente que não se sentia mais amada pelos pais e resolve fugir de casa. Paul conta que era uma jovem com o mesmo tipo de solidão de Eleanor Rigby, outra de suas personagens imortalizada na célebre gravação de Revolver (1966). Um tema de época, a rebeldia associada à saída da casa dos pais e à recusa dos valores da família.

Being for the Benefit of Mr. Kite
            Lennon tinha um quadro antigo na parede de sua casa sobre uma apresentação de circo, criando uma atmosfera de espetáculo para a musica, que contou com brilhante trabalho de produção de George Martin, e do engenheiro de som, Geoff Emerick.

Within You Without You
            George Harrison, enfim ele, aparece em sua única canção no álbum. A marca é a influência da cultura e música orientais, que influenciavam George desde 1965. É o único Beatle nesta gravação. Os demais músicos são indianos.

When I´m Sixty-Four
            A melodia foi composta por Paul quando tinha apenas 16 anos. McCartney concebeu a letra em 1966, quando seu pai completou 64 anos. Detalhe: McCartney tem 64 anos hoje, quarenta anos depois de Sgt Pepper´s. Sobressalta o tema do amor e do companheirismo, capazes de sobreviver ao envelhecimento. Uma pérola.

Lovely Rita
            Música inspirada no que seriam as equivalentes americanas das “fiscais da zona azul”. Paul ficou sabendo que elas existiam nos Estados Unidos e as homenageou, fazendo-as parecer sexy, apesar da maioria das pessoas não concordar.

Good Morning Good Morning
            Canção de Lennon feita a partir de um anúncio de sucrilhos na TV. John era o Beatle que mais gostava de televisão e de jornais, tendo diversas vezes buscado inspiração em propagandas para suas composições.

Sgt Pepper´s (Reprise)
            A faixa-título agradou tanto que os Beatles decidiram por uma reprise. Paul, com seu estilo prático de compor, adaptou a letra para agradecer antecipadamente aos fãs pelo sucesso do álbum. Coisa que eles nunca duvidaram.

A Day in the Life
            Esta é a reunião de duas músicas distintas. A parte principal é de John, incluindo o relato do acidente fatal e o enorme tapa-buracos em Blackburn, dentre outras notícias lidas no jornal durante o café da manhã. Paul contribui com a parte do rapaz atrasado, que tem início com um despertador. Enfim, uma música sobre um dia normal na vida das pessoas, mas que o talento Beatle transformou em pura arte.

Epílogo
            E então, gostaram? Então é só voltar ao início e curtir tudo outra vez. Boa viagem.


                                                               Maio de 2007 

 Escrito em parceria com Rogério Koff

sexta-feira, 28 de março de 2014

Beatles at the Movies!

                                               



                                                             CENAS DA LONGA ESTRADA


O ano deveria ser 1966, e eu lembro de atravessar a praça Saldanha Marinho, com minhas irmãs para assistir a um filme no cine Independência. Bem, não era qualquer filme, era o segundo filme dos Beatles, chamado ‘Help!’.
Estranhamente isto ficou na minha memória, e algumas cenas do longa também, como a casa de quatro portas, em que os Beatles ‘moravam’, e a cama de John Lennon em um buraco no piso. O anel preso no dedo do Ringo, que dava vida ao roteiro do filme, também não esqueci.
Ao rever este filme dias atrás, as cenas todas voltaram como num passe de mágica. Os Beatles caminhando sobre ás águas, esquiando nos Alpes austríacos, no calor escaldante das Bahamas, no Palácio de Buckingham, e o mais importante: as canções que eles fizeram para o filme.

A canção-título foi a primeira música realmente séria dos Beatles. Lennon confirmou depois que estava mesmo pedindo socorro naquele tempo. Era sua fase de ‘Elvis gordo’, e ele estava inseguro com sua vida profissional. Apesar do sucesso da banda, talvez ele preferisse parar com tudo aquilo e tentar seguir apenas como escritor. Nessa época ele já havia publicado o livro ‘In His Own Write’, com grande alarde por parte da imprensa.

Sua via pessoal também não ia nada bem. Ele fora o primeiro dos Beatles a se casar. A namorada Cynthia engravidara em 1962, o que fez John imediatamente arrumar os papéis para o casamento. A pedido do empresário dos Beatles, Brian Epstein, o casamento de John e Cynthia foi mantido em segredo. Em abril de 1963 nasceria Julian, seu primeiro filho. Um ano depois Lennon não podia mais ficar em casa devido as exaustivas turnês e aos compromissos com gravações e filmes. Quando havia um tempo livre, ele deixava claro que não se adaptaria a vida doméstica. Cynthia e o pequeno Julian precisavam de um marido e de um pai. John Lennon era um ídolo mundial do rock!
Esta relação conflituosa, se refletiria em canções como ‘Help’, ‘I’m a Loser’ e 'Nowhere Man’.

O filme ‘Help!’ também foi veículo para uma grande composição de George Harrison, chamada ‘I Need You’. George estava namorando a modelo Pattie Boyd, que ele conhecera durante as filmagens do longa-metragem anterior, ‘A Hard Day’s Night’. Vivendo uma fase sentimental tranquila, além de continuar progredindo profissionalmente, Harrison conseguiu transmitir tudo isso em sua música. Durante as filmagens de ‘Help!’, ele também teria seu primeiro contato com a música indiana - em uma cena do filme, músicos indianos se apresentam em um restaurante – e logo George conheceria o músico Ravi Shankar que durante algum tempo lhe daria aulas de cítara. Esta novidade sonora seria imediatamente transposta para a música dos Beatles. No álbum seguinte, Harrison já dominava os acordes básicos da cítara para fazer um belo solo em ‘Norwegian Wood’.


 Nesta fase da banda, outra forte influência começava a aparecer: Bob Dylan. O poeta americano foi apresentado aos Beatles ainda em 1964, e em seu primeiro encontro, ele lhes sugeriu que fumassem uma erva vinda direto do âmago da mãe-natureza: a maconha.
Durante as filmagens de ‘Help!’, Lennon confessaria mais tarde, que era quase impossível a comunicação com a banda. Os carinhas estavam sempre viajando. Como John comentou: “Nós fumávamos maconha no café da manhã”. Além da erva, Dylan também conseguiu inspirar os rapazes em algumas baladas. Particularmente John, em ‘You’ve Got to Hide Your Love Away’, é bastante influenciado por Dylan, seja nos violões, no ritmo da canção e até mesmo nos vocais. Outro exemplo é ‘It’s Only Love’, que fez  parte do lado B do álbum.
Porém, se Bob Dylan protagonizou alguma influência nos Beatles, eles também o fizeram com o bardo americano, apresentando-lhe a guitarra elétrica. Nunca mais o som de suas baladas seria o mesmo depois dessa troca de experiências.

Se Lennon tinha problemas, seu parceiro Paul McCartney também não ficava muito atrás. Desde que se mudara para Londres em 1963, Paul começara a namorar a atriz de teatro e cinema Jane Asher, então com apenas 17 anos. Jane vivia com sua família em Wimpole Street, numa residência vitoriana de 3 andares. Ali, McCartney foi apresentado a um estilo de vida de classe alta que era inalcançável para um rapaz da classe trabalhadora vindo do norte. O pai de Jane, o Dr. Richard Asher, era um médico especialista em doenças mentais, sendo reconhecido nacionalmente, e já tendo escrito vários livros sobre o assunto. Sua mãe, era a senhora Margaret, de raízes nobres, e professora de música. Suas aulas se davam no porão da casa, onde por coincidência, o produtor dos Beatles, George Martin, estudara oboé.
Os irmãos de Jane também tinham aspirações artísticas. Peter, era ator e queria ser músico – e de fato faria relativo sucesso com a dupla apadrinhada por McCartney chamada Peter & Gordon. A irmã mais nova, Claire atuava em rádio-novelas.

No meio deste turbilhão profissional e artístico, Paul McCartney foi convidado a morar na casa, e se instalou no sótão em um pequeno cubículo, onde poderia gozar de certa privacidade para compor. O violão estava sempre embaixo da cama e havia um piano sem cauda no corredor.
 Vivendo com os Asher, Paul teve contato com o mundo paralelo das celebridades do teatro de Londres. Jane levava Paul a todas as peças dignas de nota, e o ajudou a desbravar o circuito underground londrino e a travar contato com a música de vanguarda. Teria início com essas incursões de McCartney, as ideias para as primeiras experimentações musicais dos Beatles.
O problema da relação com Jane, partia do princípio de que ela era independente demais. Jane Asher tinha sua própria carreira e não abriria mão dela, como as outras esposas dos Beatles fariam. De fato, o relacionamento dos dois não chegaria até o final da década de 60. Jane seguiria sua carreira no teatro e cinema, e também se tornaria uma empresária bem sucedida, do ramo de artigos para festas.
As músicas de Paul desse tempo, escancaram esse problema na relação dos dois. As brigas estavam começando a se tornar constantes e foram tornadas públicas em canções como ‘Another Girl’ e ‘The Night Before’, que faria parte da trilha de ‘Help!’.


Escondida no lado B, porém, está a obra-prima de Paul McCartney. Uma musiquinha chamada ‘Yesterday’, que havia chegado até ele em um sonho. Paul havia acordado cantarolando essa melodia, e na hora do café ela estava completa na sua mente. Tão pronta que ele imaginou que a música já existisse, e ficou muito tempo apresentando-a as pessoas e perguntando se não a conheciam. Ainda era apenas uma melodia por volta de 64, com o titulo de trabalho de ‘Scrambled Eggs’ [Ovos Mexidos] – a refeição de  McCartney naquele café da manhã. Paul só colocaria a letra definitiva durante férias com Jane em Portugal, já em 65, pouco antes das filmagens de ‘Help!’.

A canção segue como a mais regravada de todos os tempos. Apenas Paul e um quarteto de cordas participaram da gravação. A opção que parecia óbvia era que ela fosse lançada em single, mas Brian Epstein estremecia só de pensar em um single solo de Paul McCartney. A unidade da banda deveria ser preservada a qualquer preço, ao menos enquanto ele estivesse vivo. Tempos depois, ela foi lançada em single somente nos EUA, e foi direto para o primeiro lugar.

Duas canções de Lennon foram escolhidas para arrematar com chave de ouro a trilha sonora do filme. ‘You’re Going to Lose that Girl’ apresenta uma sonoridade intrincada do baixo de Paul, e uma guitarra solo extremamente bem definida por George, e os vocais de John e Paul não poderiam estar em melhor sintonia. ‘Ticket to Ride’ foi inovadora. Tanto na letra e no título obscuro de Lennon, quanto no ritmo quebrado da música. McCartney deve ter participado com alguns versos, além de tocar guitarra, mas sua maior contribuição foi a maneira pela qual Ringo Starr quebrava o ritmo da canção com sua bateria. Sem dúvida ‘Ticket to Ride’ foi uma das canções mais ousadas dos primeiros tempos da banda.

Os Beatles ainda tinham que completar o álbum com seu lado B. E este lado 'B' era um caso à parte!!! Além de  ‘Yesterday’ e ‘It’s Only Love’ havia outras pequenas jóias. Talvez a melhor tenha sido ‘I’ve Just Seen a Face’, com um McCartney  também inovando num ritmo acelerado, parecendo um country-rock acústico. Paul sempre disse que gostava muito dessa música pois os versos iam “saltando para a próxima estrofe”.

Falando em country, os Beatles, e Ringo Starr especialmente, fizeram uma bonita homenagem ao estilo, e a Buck Owens em particular, ao abrir o lado 2 com a balada ‘Act Naturally’, sucesso com Owens e seus Buckaroos nos anos 50. Apesar de que na época os americanos fossem incapazes de valorizar este tributo, décadas depois Buck Owens fez questão de fazer um dueto com Ringo nesta música, em um clip que entraria para a história do country americano.
O álbum é encerrado - como nos dois primeiros discos dos Beatles, com um rockão. A canção ‘Dizzy Miss Lizzy’ pode não ter sido tão poderosa em termos de sucesso quanto ‘Twist and Shout’ e ‘Money’, mas a música de Larry Williams nos mostra uma das pegadas mais ‘heavy’ da banda.

O filme ‘Help!’, não foi considerado tão bom quanto o anterior ‘A Hard Day’s Night’. Apesar da direção pulsante e frenética novamente de Richard Lester, ficou faltando algo. Provavelmente a realidade da vida cotidiana que seu antecessor mostrara, colocando os Beatles vivendo eles mesmo. A presença de estrelas do cinema como Leo McKern e Eleanor Bron, também pode ter deixado os rapazes inseguros. Como disse John, o enredo desta vez não tinha nada a ver com eles. Os garotos se sentiram artistas convidados em seu próprio filme.


‘Os Reis do Ié, Ié, Ié’, como ficou conhecido aqui no Brasil o primeiro longa-metragem dos Beatles, chamado ‘A Hard Day’s Night’, lançado em 1964, simplesmente havia revolucionado com o conceito de filme musical da época.
 Considerado hoje em dia até mesmo o precursor dos vídeos-clips e da MTV, este filme nos mostrava, em ritmo alucinante o que era ser um Beatle. De quartos de hotéis para carros, daí para shows ensandecidos de meia-hora, depois novamente para hotéis, viagens de trem em turnês pelo Reino Unido, sempre, claro, perseguidos por uma turba de fãs enlouquecidas.
O tempero do filme, só poderia ser canções de primeira. A abertura do filme com os Beatles no estúdio tocando ‘I Should Have Known Better’ já valia o ingresso.
A partir de uma das frases malucas de Ringo, Lennon se inspirou para compor o tema do filme. ‘A Hard Day’s Night’ é sem dúvida um dos muitos rocks poderosos da primeira fase da banda.     
O ‘homem das baladas’, como era conhecido Paul McCartney, comparece com uma daquelas suas canções de tirar o fôlego chamada ‘And I Love Her’, inspirada e dedicada a Jane Asher. Sua outra contribuição para o filme seria a sensacional ‘Can’t Buy Me Love’, com guitarras aceleradas e uma letra marcante. Esta canção foi um dos maiores sucessos da banda em single, e também foi eleita a favorita de cantores da pesada como Ella Fitzgerald, que a gravou numa cover inesquecível, deixando os Beatles orgulhosos.

Quem disse que Lennon não sabia compor baladinhas também? ‘If I Fell’ nos prova o contrário, quando John cerca a música de violões inspirados e capricha num vocal quase em uníssono com Paul.
No lado 2 do álbum, os destaques são ‘Things We Said Today’ e ‘Anytime At All’, ambas poderiam ter entrado tranquilamente na trilha sonora.


Foi graças a este filme, que pela primeira vez as personalidades dos Beatles, vieram à tona, sem dúvida um pouco buriladas pela direção, mas mesmo assim é interessante notarmos como eles ficaram estigmatizados por esta atuação na telona.
John, passaria a ser visto como o intelectual e perspicaz, de respostas rápidas e brilhantes. George como o rapaz quieto e tímido. Ringo seria o ‘palhaço’ da turma, sempre aprontando alguma. Aliás, Ringo Starr foi de longe o Beatle que se deu melhor nas filmagens. O diretor Richard Lester, sentindo seu carisma instantâneo, providenciou que a câmera grudasse no baterista, que roubava todas as cenas de que participava. Paul foi prejudicado por ter uma cena cortada na edição final. Sua imagem seria a do Beatle romântico e conquistador, mas sua cena, em que paquerava uma atriz, ficou longa demais, e novamente Brian Epstein objetou. McCartney não deveria ter mais destaque que os colegas. 
     
Com movimentos de câmera inovadores, e todo o charme da fotografia em preto e branco, ‘A Hard Day’s Night’, como ainda podemos perceber, não perdeu nem um pouco de sua mística. Ao revermos este clássico do cinema musical nos dias de hoje, sentimos que sua maior qualidade foi mostrar toda a autenticidade da música e da vida da melhor banda do planeta.

O contrato com a United Artists, negociado por baixo pelo instável Epstein, obrigava os Beatles a realizar mais dois filmes. Os rapazes que ainda viviam o clima louco da Beatlemania em 1965, não pretendiam trabalhar em outro longa tão cedo.
Quando as turnês terminaram e eles passaram a se dedicar integralmente as gravações, os Beatles analisaram vários roteiros para possíveis filmes, incluindo o de um livro de Tolkien chamado ‘O Senhor dos Anéis’. Seria interessante vermos o que os Beatles teriam feito com este roteiro. Outra tentativa foi com o roteirista e escritor ‘cult’ Joe Orton, que foi comissionado para escrever um roteiro para os rapazes, mas seu projeto que incluía elementos sexuais, adultério e assassinato chamado 'Up Against It', foi imediatamente vetado por Epstein.


Para cumprir seu contrato, finalmente os Beatles aceitam fazer uma pequena ponta em um desenho animado, não tendo grandes expectativas com o projeto. A história que girava em torno de um submarino amarelo, e fazia menção a várias canções da banda, emplacou um grande sucesso. O projeto em si, era revolucionário para 1968, e novas gerações de desenhistas começaram a se formar após assistirem ao filme.
‘Yellow Submarine’, foi dirigido por George Dunning e acabou tendo uma vida longa nas telas, passando no teste do tempo.
Para a trilha, os rapazes compuseram apenas quatro novas canções, incluindo o rock clássico com guitarras pesadas de Hey Bulldog, a brincadeira de Paul em ‘All Together Now’ com todos cantando e batendo palmas, e duas composições de Harrison: ‘It’s Only a Northern Song’ e a dissonante e visionária da época flower-power ‘It’s All Too Much’. O tema central, claro, era a canção ‘Yellow Submarine’ de Paul, composta em 1966 para Ringo cantar no álbum ‘Revolver’.


O produtor George Martin se encarregaria do restante da soundtrack, em que ele demonstraria toda sua capacidade como compositor e maestro.
No final do desenho, os Beatles ‘de verdade’ aparecem, saudando o público, e ao mesmo tempo procurando com uma luneta pelos malvados ‘azulões’. Sim, eles concordavam que a música era a salvação do planeta, e se colocavam na posição de guardiões da paz e do amor!

Os tempos difíceis chegaram, porém, e com eles vieram os desentendimentos profissionais e pessoais que já se encontravam em estágio avançado em janeiro de 1969, quando eles entram nos estúdios Twickenham, liderados por Paul McCartney, para um projeto que deveria resgatar a simplicidade e a eles mesmo enquanto banda de rock.
Os truques de estúdio de George Martin seriam dispensados, segundo Lennon, em favor de uma maior ‘honestidade musical’. Os ensaios seriam todos filmados, e para completar o projeto, a banda deveria fazer um show apoteótico em algum lugar exótico (aos pés do monte Everest, numa pirâmide no Egito, em um anfiteatro romano, ou navegando no rio Tâmisa).


Infelizmente nada deu certo. As filmagens de ‘Let It Be’, dirigidas por Michael Lindsay-Hogg, serviram apenas como um documentário de uma banda se desintegrando. McCartney parecia ser o único com disposição para encarar os ensaios, e sua cobrança incessante sobre os parceiros, só fazia piorar a situação.
Finalmente eles resolveram, como dizia o título do filme, ‘deixar tudo como estava’ e ir para casa. Faltava porém, o tal show ao vivo que se seguia aos ensaios. Sem outra ideia melhor, os Beatles subiram até a cobertura da Apple, onde no dia 30 de janeiro de 1969, se apresentaram juntos pela última vez.
Os felizardos acabaram sendo os transeuntes. Gente que saía do seu trabalho para almoçar, e vizinhos da Apple.
As canções desse período conturbado foram pouco trabalhadas, a produção que acabaria ficando a cargo de Phil Spector, deixou a desejar, mas elas eram no mínimo tão boas quanto ás dos álbuns anteriores.
McCartney sentindo que o fim estava próximo trouxe duas músicas que se tornariam marca registrada do final da banda. A faixa-título ‘Let It Be’, em que ele sonhou com sua falecida mãe, chamada Mary, o consolando, e ‘The Long and Winding Road’, muito apropriada para o final próximo da estrada para a banda.
Paul ainda teve tempo e disposição para tentar a parceria em duas músicas com John Lennon. Os vocais, no caso de ‘Two of Us’ e os créditos, no rockão ‘I’ve Got a Feeling’, duas das melhores sacadas do período.
O próprio Lennon, mais preocupado com sua nova musa, Yoko Ono, conseguiu energia suficiente para musicar os versos de ‘Across the Universe’, uma de suas poesias preferidas, e para recuperar o rock ‘One After 909’, que ele compôs com Paul no início da década.

A palavra final coube a Paul McCartney.


Assim como no último álbum da banda, em que seu verso “no fim, o amor que você recebe, é igual ao amor que você oferece” da canção ‘The End’, que inspirou milhões de pessoas, aqui novamente, tanto em ‘Get Back’ como em ‘Let It Be’ ele deixa uma mensagem de carinho e fraternidade.
Paul nos transmite a expectativa de que tudo poderia continuar da mesma maneira.

 Infelizmente, para os Beatles já era tarde.



quinta-feira, 28 de novembro de 2013

'New & Old' - Macca




Quando Paul McCartney se prepara para lançar um novo trabalho, a minha expectativa é de que ele sempre supere seu trabalho anterior. Sei, que como Eric Clapton, Bob Dylan, Paul Simon e tantos outros, o velho Macca não precisa provar mais nada. Mas ele carrega o peso de seu nome, e além de tudo, o enorme peso de ter feito parte - e liderado - os Beatles.
Paul já lançou coisas muito boas, e aqui cito 'Chaos and Creation...', 'Band on the Run', 'Tug of War', e inúmeros singles de sucesso no mundo todo.
Seus shows até hoje lotam estádios e praças nas mais diversas partes do planeta. Ele até se dá ao luxo de se apresentar ao vivo, de graça, nas ruas de Londres, Nova Iorque e Los Angeles!
Todos sabemos que dinheiro não é o seu problema! Macca está aí, gravando discos e se apresentando porque gosta.
O que sinto, é que seu nível de exigência consigo mesmo baixou muito após os Beatles. Apesar de todo o sucesso em carreira-solo, ele parece muito mais interessado em se divertir.
 Seu talento natural permite que ele faça jornadas ocasionais pela música clássica e experimental, sem se importar com as críticas.
Em 2012, por exemplo, ele realizou um sonho de gravar standards, em sua maioria lados B, que ouvia quando criança. Macca lançou um álbum ao estilo anos 40, o 'Kisses on the Bottom', e sem refinamentos tecnológicos.


Chega 2013, e ele resolve voltar aos estúdios de gravação para um álbum de inéditas, que seria o primeiro em 6 anos.
Em seus últimos álbuns de estúdio Macca trabalhou com dois produtores: David Kahne ('Driving Rain' e 'Memory Almost Full') e Nigel Godrich ('Chaos and Creation...').
Sempre achei que o estilo de Paul se adaptou perfeitamente ao de Godrich nos estúdios, mas parece que a personalidade dos dois não bateu, e houve conflitos nas gravações. Uma pena.
Com Kahne, ele parece ter mais liberdade, e talvez prefira isso, mesmo correndo o risco de auto-indulgência.
Para resolver o problema da produção (sempre o calcanhar de Aquiles de Macca), ele resolve então partir para várias opções.
'New' teve produção de Paul Epworth, Mark Ronson, Ethan Johns e Giles Martin, filho do eterno George Martin. É interessante notarmos que após a produção das faixas, em várias delas houve 'pós-produção' de Giles Martin e Paul! O que mostra que Paul confiou até 'por ali' em seus produtores, e depois levou o cara em que confiava mais, para uma lapidada geral!


Ronson, que se destacou como produtor de Amy Winehouse, assina a produção da faixa-título 'New', que se destaca de cara no álbum. Não vou compará-la aqui com nenhuma canção dos Beatles, não acho que seja o caso, mas o 'novo' aqui, soa 'velho', e isto não é uma crítica negativa.
Gosto também da canção 'Save Us', que abre os trabalhos sob a produção de Paul Epworth, que trabalhava com Adele. Sim, muito do que se reflete nesta música e na fase animada atual de Paul, ele deve a sua feliz vida doméstica. Seus pesadelos da época do casamento com a ex-modelo Heather Mills chegaram ao fim, e ele curte uma enorme sensação de paz ao lado da empresária Nancy Shevell.
Me bateu legal também a agitada 'Quennie Eye', lembrando um pouco os anos 60 e 70. 'Road', também produzida por Epworth, tem total inspiração no trabalho de Paul com Youth, no último álbum do 'The Fireman'.


Ethan Johns produz 'Early Days', uma bela recordação dos velhos tempos, sem soar nostálgica. Ethan é filho de Glyn Johns, famoso produtor dos anos 60 e 70. Glyn trabalhou em 'Let It Be' e no 'Red Rose Speedway' com Paul, e apesar de ter saído no meio de ambos os trabalhos, sua amizade com Paul perdurou.
Macca até comenta que gravou várias outras canções com a produção de Ethan Johns e que "mais cedo ou mais tarde, elas verão a luz do dia".
Chegamos então ao seu produtor de confiança, filho do velho comandante Martin.
Giles já vinha tendo experiência em trabalhos com os Beatles há algum tempo. Em 'Love', seu trabalho se destacou muito, e no disco 'Early Takes' de George Harrison, sua presença também foi importante.
Em 'New', Giles mostra do que é capaz. 'On My Way to Work', concorre seriamente ao título de melhor canção do álbum. É Paul em um de seus melhores momentos melódicos, com o apoio do acordeon de Wix, e das guitarras maneiras de Rusty Anderson e Brian Ray.
Destaco mais duas canções com Martin: 'Everybody Out There' e 'I Can Bet', ambas animadas e mostrando o porque de Macca ainda ser considerado um grande vocalista, apesar dos 71 anos.


Se você pensou que o álbum iria terminar sem a clássica balada 'McCartiana', se enganou. A faixa-escondida chamada 'Scared', traz aquele Macca intimista, ao piano, como todo mundo gosta. Um belo final, sem dúvida alguma.

Se você me perguntar se eu achei este trabalho o melhor "desde o Wings", como foi falado antes do lançamento, é claro que não posso concordar. O disco tem unidade, apesar da diversidade de produção. Tem mais unidade por exemplo que o 'Driving Rain', produzido por apenas uma pessoa. O álbum soa otimista, sim, o que já é uma grande qualidade.
O que falta então em 'New'? Talvez não falte nada, talvez eu esteja envelhecendo e esquecendo que o artista como Paul McCartney será sempre um ser inquieto, e que seu próximo passo será sempre uma incógnita, sempre tentando inovar. Talvez eu preferisse algo mais pesado e clássico ao estilo 'Chaos and Creation...', mas não vou 'discutir' com Macca!

Ele sempre será 'o cara'! O 'Velho e o Novo' no mesmo pacote!


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Eagles - Uma 'Grande' Banda Americana!





Assisti há poucos dias um dos melhores documentários musicais dos últimos tempos. 'History of the Eagles - Story of an American Band'.
Dirigido por Alison Elwood, disponível em DVD duplo ou blu-ray simples, este filme traça a saga de uma das melhores bandas do planeta.
Os Eagles foram responsáveis pela propagação mundial do estilo country-rock, que tinha Gram Parsons como maior expoente em 1971, ano em que a banda dava seus primeiros passos.
Os dois membros fundadores e elementos-chave do grupo eram Glenn Frey e Don Henley, que começaram cedo sua carreira musical, em Detroit e no Texas, respectivamente. Logo eles fariam parte da banda de apoio de Linda Ronstadt, e em seguida uniriam forças com Randy Meisner e Bernie Leadon e formariam o Eagles.
Do círculo de amigos da banda, fazia parte gente como Jackson Browne, ainda em início de carreira, J. D. Souther e Jack Tempchin, todos exímios compositores.
Frey, que morava no andar de cima de Browne, escutava suas composições dia após dia, e não foi muito tempo depois que Glenn veio com uma sobra de composição de Jackson, chamada 'Take It Easy'. Completada por Frey, ela viria a ser o primeiro sucesso da banda.


Nesta época, Glenn e Don Henley começaram a compor pra valer em parceria. Graças a Browne, o selo Asylum se interessou pelo som dos Eagles, e eles logo partiram para Londres para gravar aos cuidados de ninguém menos que Glyn Johns (Beatles, The Who).
A estreia em LP, com o álbum 'Eagles', pode ser considerada nada menos que sensacional. A repercussão na América foi enorme, e canções como 'Peaceful Easy Feeling' de Tempchin, 'Witchy Woman' e a já citada 'Take It Easy', estouraram nas rádios americanas.

Na minha percepção a cabeça-pensante da banda sempre foi Glenn Frey, o que o documentário deixa bem claro. Don Henley, era sem dúvida o gênio compositor e dono da melhor voz dos integrantes do conjunto. Seu vocal anasalado seria uma marca registrada dos americanos. Randy Meisner, egresso da banda Poco, além de grande baixista, conseguia um alcance de notas muito mais alta que seus parceiros de banda, o que o tornava também peça-chave dos Eagles. Bernie Leadon, era basicamente um guitarrista country, e defendia com unhas e dentes a permanência do grupo no sub-mundo do country americano.
Era inevitável um confronto com Glenn Frey, que queria a banda partindo para um som mais rock e pesado.
As discussões entre Frey e o produtor Glyn Johns também aumentavam. Johns não conseguia imaginar os Eagles como uma banda de rock.
Mesmo com as desavenças, eles partem novamente para a Inglaterra, onde gravam o segundo álbum chamado 'Desperado'.
Menos comercial que o anterior, 'Desperado' mesmo assim firmou a banda em um patamar superior a grande maioria das bandas americanas de country-rock da época. 'Doolin-Dalton', 'Tequila Sunrise' e a faixa-título foram os destaques, além da capa, com todos os membros da banda vestidos com trajes do 'velho oeste'.


No final de 1973 eles começam a preparar seu terceiro disco e Glenn tem a ideia de acrescentar um terceiro guitarrista (ele não gostava de solar nas faixas countries de Leadon), então entra em cena Don Felder, um guitarrista de recursos técnicos ilimitados.
Para este disco eles resolvem fazer outra mudança. Cansados de ter que ir a Londres, e das manias de Glyn Johns, eles contratam Bill Szymczyk como produtor.
O álbum 'On the Border' de 74, soa mais agitado que o anterior, contando com o grande sucesso 'Already Gone', além de 'James Dean', 'Good Day in Hell', a homenagem de Leadon a Gram Parsons em 'My Man' e outro mega-hit: 'The Best of My Love' de Henley, encerrando o disco.

É preciso dizer que por volta de 1975 os Eagles monipolizavam a indústria fonográfica americana. A gravadora esperava pacientemente um novo álbum da banda para poder fechar as contas no final do trimestre. Suas turnês eram grandiosas. Estádios lotados, ingressos esgotados, e muita loucura nos bastidores. O documentário dá uma ideia do que rolava nas apresentações do grupo.

Neste mesmo ano, eles surgem com 'One of These Nights', single e álbum que vendeu milhões de cópias, parecendo prenunciar a chegada da 'disco music'. Só que a banda ficou bem longe deste estilo.
'Lyin' Eyes' de Frey e 'Take it to the Limit' de Meisner confirmam que os Eagles ainda mandavam no pedaço.

Após 'One of These Nights' a tensão entre Frey e Leadon chega ao auge, e o último deixa a banda por não concordar com o estilo musical da banda.


Em 1976 eu comprei meu primeiro álbum dos Eagles. Foi a copilação 'Eagles - Their Greatest Hits 1971-1975'. Sem saber direito o que aquela banda tinha de diferente, cheguei a conclusão que era a simplicidade e suas letras diretas que os tornavam especiais.  
Aliás, este álbum tornou-se campeão de vendas do século XX. Nenhum outro disco vendeu mais que ele. Após uma disputa feroz com 'Thriller' de Michael Jackson e o 'One' dos Beatles, os Eagles levaram pra casa o título de disco mais vendido do século!

Naquele distante ano de 1976 surgiria outra canção diferente. Algo que talvez não fosse esperado por fãs da banda. 'Hotel California' foi outro dos maiores sucessos em vendas de todos os tempos. Virou sinônimo de Eagles, e umas das canções mais executadas em rádios.
A introdução da guitarra por Don Felder, combinada com a bateria e os vocais de Henley são inigualáveis.
Surge então o álbum 'Hotel California'  junto com a chegada de Joe Walsh na banda.
Apesar do sucesso de canções como 'New Kid in Town' e 'Wasted Time', acho que ali ficava claro que a banda estava no pico, e pronta para começar a descida.

No meio do ano de 1977, em uma apresentação ao vivo, Randy Meisner recusa-se a cantar no bis, pela milésima vez, a canção 'Take it to the Limit', o que causa mais um desentendimento com Glenn Frey. Comentou-se que os dois foram às vias de fato nos bastidores. Meisner resolve deixar o grupo e é substituído por Timothy Schmit.

Após uma pausa, eles lançam em 1979 'The Long Run', seu último álbum de estúdio dos anos 70. A recepção, foi como sempre positiva, e no ano seguinte o álbum duplo 'Eagles Live', chega ás lojas, resumindo com maestria as apresentações ao vivo, que eram sempre um momento mágico da banda.

O fato, porém, é que o Eagles não eram mais os mesmos. As brigas continuavam, e em outra delas Don Felder também se desentendeu com Frey por questões financeiras. O próprio relacionamento entre Henley e Frey havia se desgastado. Chegou a hora dos Eagles darem um tempo!

As carreiras-solo de Don Henley, principalmente, e de Glenn Frey, foram brilhantes. Na década de 80, canções como 'The End of Innocence' de Henley  e 'The One You Love' de Frey lideraram as paradas.

Após 14 anos eles resolvem voltar a tocar juntos para um especial da MTV, que se torna o álbum 'Hell Freeze's Over', de imenso sucesso.
Depois de mais algumas turnês, Don Felder deixa a banda após mais discussões com Frey.

Finalmente em 2007 a banda volta aos estúdios com Frey, Henley, Walsh e Schmit e saem de lá com o álbum duplo 'Long Road Out of Eden', que se não mostra para os mais jovens o que eles significavam nos anos 70, pelo menos é um disco competente de senhores de 60 e tantos anos que um dia revolucionaram a música country americana.