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quinta-feira, 28 de novembro de 2013

'New & Old' - Macca




Quando Paul McCartney se prepara para lançar um novo trabalho, a minha expectativa é de que ele sempre supere seu trabalho anterior. Sei, que como Eric Clapton, Bob Dylan, Paul Simon e tantos outros, o velho Macca não precisa provar mais nada. Mas ele carrega o peso de seu nome, e além de tudo, o enorme peso de ter feito parte - e liderado - os Beatles.
Paul já lançou coisas muito boas, e aqui cito 'Chaos and Creation...', 'Band on the Run', 'Tug of War', e inúmeros singles de sucesso no mundo todo.
Seus shows até hoje lotam estádios e praças nas mais diversas partes do planeta. Ele até se dá ao luxo de se apresentar ao vivo, de graça, nas ruas de Londres, Nova Iorque e Los Angeles!
Todos sabemos que dinheiro não é o seu problema! Macca está aí, gravando discos e se apresentando porque gosta.
O que sinto, é que seu nível de exigência consigo mesmo baixou muito após os Beatles. Apesar de todo o sucesso em carreira-solo, ele parece muito mais interessado em se divertir.
 Seu talento natural permite que ele faça jornadas ocasionais pela música clássica e experimental, sem se importar com as críticas.
Em 2012, por exemplo, ele realizou um sonho de gravar standards, em sua maioria lados B, que ouvia quando criança. Macca lançou um álbum ao estilo anos 40, o 'Kisses on the Bottom', e sem refinamentos tecnológicos.


Chega 2013, e ele resolve voltar aos estúdios de gravação para um álbum de inéditas, que seria o primeiro em 6 anos.
Em seus últimos álbuns de estúdio Macca trabalhou com dois produtores: David Kahne ('Driving Rain' e 'Memory Almost Full') e Nigel Godrich ('Chaos and Creation...').
Sempre achei que o estilo de Paul se adaptou perfeitamente ao de Godrich nos estúdios, mas parece que a personalidade dos dois não bateu, e houve conflitos nas gravações. Uma pena.
Com Kahne, ele parece ter mais liberdade, e talvez prefira isso, mesmo correndo o risco de auto-indulgência.
Para resolver o problema da produção (sempre o calcanhar de Aquiles de Macca), ele resolve então partir para várias opções.
'New' teve produção de Paul Epworth, Mark Ronson, Ethan Johns e Giles Martin, filho do eterno George Martin. É interessante notarmos que após a produção das faixas, em várias delas houve 'pós-produção' de Giles Martin e Paul! O que mostra que Paul confiou até 'por ali' em seus produtores, e depois levou o cara em que confiava mais, para uma lapidada geral!


Ronson, que se destacou como produtor de Amy Winehouse, assina a produção da faixa-título 'New', que se destaca de cara no álbum. Não vou compará-la aqui com nenhuma canção dos Beatles, não acho que seja o caso, mas o 'novo' aqui, soa 'velho', e isto não é uma crítica negativa.
Gosto também da canção 'Save Us', que abre os trabalhos sob a produção de Paul Epworth, que trabalhava com Adele. Sim, muito do que se reflete nesta música e na fase animada atual de Paul, ele deve a sua feliz vida doméstica. Seus pesadelos da época do casamento com a ex-modelo Heather Mills chegaram ao fim, e ele curte uma enorme sensação de paz ao lado da empresária Nancy Shevell.
Me bateu legal também a agitada 'Quennie Eye', lembrando um pouco os anos 60 e 70. 'Road', também produzida por Epworth, tem total inspiração no trabalho de Paul com Youth, no último álbum do 'The Fireman'.


Ethan Johns produz 'Early Days', uma bela recordação dos velhos tempos, sem soar nostálgica. Ethan é filho de Glyn Johns, famoso produtor dos anos 60 e 70. Glyn trabalhou em 'Let It Be' e no 'Red Rose Speedway' com Paul, e apesar de ter saído no meio de ambos os trabalhos, sua amizade com Paul perdurou.
Macca até comenta que gravou várias outras canções com a produção de Ethan Johns e que "mais cedo ou mais tarde, elas verão a luz do dia".
Chegamos então ao seu produtor de confiança, filho do velho comandante Martin.
Giles já vinha tendo experiência em trabalhos com os Beatles há algum tempo. Em 'Love', seu trabalho se destacou muito, e no disco 'Early Takes' de George Harrison, sua presença também foi importante.
Em 'New', Giles mostra do que é capaz. 'On My Way to Work', concorre seriamente ao título de melhor canção do álbum. É Paul em um de seus melhores momentos melódicos, com o apoio do acordeon de Wix, e das guitarras maneiras de Rusty Anderson e Brian Ray.
Destaco mais duas canções com Martin: 'Everybody Out There' e 'I Can Bet', ambas animadas e mostrando o porque de Macca ainda ser considerado um grande vocalista, apesar dos 71 anos.


Se você pensou que o álbum iria terminar sem a clássica balada 'McCartiana', se enganou. A faixa-escondida chamada 'Scared', traz aquele Macca intimista, ao piano, como todo mundo gosta. Um belo final, sem dúvida alguma.

Se você me perguntar se eu achei este trabalho o melhor "desde o Wings", como foi falado antes do lançamento, é claro que não posso concordar. O disco tem unidade, apesar da diversidade de produção. Tem mais unidade por exemplo que o 'Driving Rain', produzido por apenas uma pessoa. O álbum soa otimista, sim, o que já é uma grande qualidade.
O que falta então em 'New'? Talvez não falte nada, talvez eu esteja envelhecendo e esquecendo que o artista como Paul McCartney será sempre um ser inquieto, e que seu próximo passo será sempre uma incógnita, sempre tentando inovar. Talvez eu preferisse algo mais pesado e clássico ao estilo 'Chaos and Creation...', mas não vou 'discutir' com Macca!

Ele sempre será 'o cara'! O 'Velho e o Novo' no mesmo pacote!


2 comentários:

Debbie disse...

Que bela resenha, Eduardo! Devo dizer que estava bem curiosa em saber sua opinião sobre o "New", que venho curtindo muito, desde que comecei a ouví-lo, há umas duas semanas. O título do seu post acertou na mosca - o "New" tem uns toques "old" ("what's wrong with that?"), e bacana você dizer que isso não é uma crítica. Vou me arriscar a comentar algumas coisas que percebi curtindo o álbum, só porque penso que pra falar de música, a gente não precisa entender tanto quanto você, basta sentir? Ao contrário de você, comparei a canção "New" à "Penny Lane", desde a primeira vez que a ouvi. A "Queenie Eye" pra mim tem uns acordes de piano bem "Chaos and Criation". Igualmente, o piano da "Scared", canção linda, onde o Paul confessa seu medo quase adolescente de se declarar à Nancy, segundo ele mesmo disse em entrevista recente. Curto muito a "I Can Bet" e arrisco dizer que me soa Wings. O teclado que acompanha o solo de violão da "Looking at Her" (aos 1'59") me lembrou demais o da "I Am your Singer". Isso tudo não deixa de ser o "velho" no novo, não é? O álbum tá bem pra cima, sim, e a gente sente isso em canções como "Everybody Out There", a já mencionada " I Can Bet" e a "Appreciate" cujo solo de guitarra no final curto muito. Ah, e a "On My Way to Work", que impressiona e cativa com sua melodia tão bonita.
Bem, acho que é isso. Disco pra a gente curtir ainda por muito tempo. Que coisa boa esse "New & Old Macca"!

Eduardo Lenz de Macedo disse...

Este trabalho, ao contrário de outros do Paul me deixou curioso! Como eu disse, não acho que seja uma obra de arte, como 'Chaos...', também não é uma porcaria como "Press to Play' ou outros. Então, pelo menos o Macca me fez ficar em dúvida, o que já é alguma coisa... hehehe!
Obrigado pelos comentários, Debbie Macca!