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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

A Swinging London Ampliada


  
Na década de 60, Londres era o lugar certo para se estar. 
A partir de 1964 os Beatles dominavam a cena musical, estando no auge do fenômeno conhecido como ‘beatlemania’.
Em 65 o filme ‘Help!’ era lançado nos cinemas, causando mais um grande impacto visual dos garotos de Liverpool após o antológico ‘A Hard Day’s Night’.

Novas bandas britânicas começavam a aparecer. Os Rolling Stones tinham seu maior sucesso com ‘(I Can’t Get No) Satisfaction’, e seguiriam firme no encalço do ‘fab four’.
A lista de grupos que faria sucesso também incluía ‘The Kinks’, ‘The Who’, ‘The Animals’, e os ‘Yardbirds’.
A moda fazia história na cidade e artistas performáticos, além de pintores e fotógrafos vinham de todo o planeta aproveitar a nova onda londrina.  A artista plástica Yoko Ono era uma dos que chegavam a Londres e logo estaria fazendo seus ‘hapennings’ acontecerem.

 
O ‘Moody Blues’, era outra banda que após ficar conhecida por uma canção pop como ‘Go Now’, mudaria totalmente seu rumo e faria fama com seu álbum progressivo, ‘Days of Future Passed’.
O ‘Pink Floyd’, nos bons tempos de Syd Barrett, já dava seus primeiros passos nos estúdios de Abbey Road.
Os álbuns ‘Rubber Soul’ e ‘Revolver’ dos Beatles também seriam responsáveis por experimentações nunca antes imaginadas na música pop.
O virtuose do jazz, John Coltrane, quebrando todas as regras da sonoridade conhecida, explora novos horizontes musicais e deixa seguidores fiéis na metrópole, como o saxofonista Albert Ayler, o pianista Sun Ra e o vanguardista John Cage, que logo dominariam o ‘underground’ londrino.

 
Nessa época, Roman Polanski lançava seu terceiro longa-metragem, o cult-movie ‘Cul-de-Sac’ (Armadilha do Destino) e preparava as filmagens de uma paródia sobre vampiros.
No ramo teatral peças como ‘Loot’ de Joe Orton lotam os grandes palcos da cidade.
Outra atração era a recém-inaugurada  Indica Bookshop & Gallery, fundada pelo marchand John Dunbar, pelo escritor Barry Miles e pelo cantor e futuro produtor  musical Peter Asher, da dupla Peter & Gordon.
 Este mix de galeria de arte (no porão) e de livraria (no térreo), era apoiada financeiramente por Paul McCartney e seria ponto de encontro de intelectuais no final dos anos 60.
Reza a lenda, que foi nesse porão transformado em galeria de arte, onde Lennon encontrou Yoko Ono pela primeira vez em uma exposição da artista japonesa.


Uma pessoa que estava sempre presente no restrito círculo dos Beatles e dos Stones, era o também marchand Robert Fraser, que levaria até McCartney um quadro de uma maçã, pintado por René Magritte. Esta pintura seria o ponto de partida para a criação da Apple. 

Havia também os clubes e boates famosos, como o Ad Lib Club, situado no topo de um enorme prédio em Leicester Place, o Scoth of St. James em Masons Yard, muito próximo da Indica e a Bag O’ Nails  - em que Paul e Linda Eastman se conheceram - na Carnaby Street,  por onde circulavam os astros do rock britânico, além de figurinhas como o herdeiro da fortuna Guiness, Tara Browne e a cantora e atriz Marianne Faithfull.
Nesse mesmo período, Hugh Heffner, seguindo a legalização do jogo no Reino Unido, envia o empresário Victor Lownes para supervisionar a construção do ‘Playboy Casino’ em Londres.

 
A cidade também era uma meca dos grandes estúdios de gravação. Além de Abbey Road da EMI, também havia o Trident, um dos mais modernos e o Olympic Sound Studios, onde os Rolling Stones fariam a maior parte de seus discos.   
  
Nesse cenário, em 1966, Michelangelo Antonioni começa a filmar ‘Blow Up’ (Depois Daquele Beijo), seu primeiro longa em língua inglesa.
 Sem dúvida um dos filmes mais instigantes de seu tempo, ‘Blow Up’ nos conta a história de um dia na vida de um fotógrafo famoso na ‘Swinging London’. 

 
 Segundo se sabe, o personagem foi baseado no famoso fotógrafo ‘cockney’ David Bailey, que inclusive emprestaria seu estúdio para as filmagens.
O roteiro se baseou no conto ‘Las Babas Del Diablo’ de Julio Cortázar. O filme conta com atuações soberbas de Vanessa Redgrave, Sarah Miles e de David Hemmings como o protagonista principal.

 
Thomas é um fotógrafo de moda muito requisitado, mas esse seu trabalho o aborrece. Numa noite de sexta-feira ele passa a noite em um albergue para conseguir fotos impactantes de andarilhos, idosos sem teto e marginais, para um livro em que está trabalhando.
Temos a impressão de que todo o underground londrino desfila perante o fotógrafo e sua lente.
Ao sair do albergue pela manhã, ele tem um compromisso em seu estúdio com uma manequim famosa (Veruschka), que simula um ato de amor com a câmera. Sem dúvida uma das cenas mais sexy do cinema até então.


 Outras modelos aguardam pacientemente que Thomas apareça para fotografá-las, mas elas acabam tendo que ficar de olhos fechados, esperando. Enquanto isso, ele visita seu vizinho, um pintor que não sabe de onde vem a inspiração para seus quadros, e cuja esposa insatisfeita ( Sarah Miles) se insinua para Thomas.
Os diálogos são sempre reticentes, como convém a um bom filme de Antonioni, considerado o mestre da incomunicabilidade.


 Em um passeio em seu conversível equipado com rádio-amador, Thomas visita uma loja de antiguidades que deseja adquirir e acaba comprando uma hélice de avião. Ao deixar a loja, em uma agradável manhã de sábado, ele passeia em um parque bucólico, tirando fotos ao acaso, pensando no livro que precisa terminar.
Um casal namorando passeia pelo parque e Thomas fotográfa-os várias vezes. 


A mulher (Vanessa Redgrave), ao perceber que estão sendo clicados, deixa o parceiro e vai atrás de Thomas. Ela quer o filme, ele não concorda em entregá-lo, e  a mulher se afasta correndo.

 
Na tarde de sábado ele irá receber duas visitas. A da mulher fotografada que insiste em querer os negativos, e para isso tenta seduzi-lo ao som da trilha inspiradíssima de Herbie Hancock, e de duas ‘groupies’, que querem servir de modelo para Thomas.


Uma das aspirantes a modelo (Jane Birkin) protagoniza o primeiro nu frontal do cinema em uma cena de sexo à três com Thomas e sua amiga.

O fotógrafo continua curioso pelo interesse da mulher nas suas fotos e as amplia (blow up), para tentar descobrir o porquê de tanto interesse.
Após detalhada e longa análise, ele consegue distinguir uma mão segurando um revólver no meio das árvores do parque onde ele se encontrava pela manhã, e logo a seguir o corpo do homem de meia idade que estava com a mulher.

  
Thomas toma o rumo do parque já à noite e descobre o corpo do homem. Ao voltar para o centro da cidade ele localiza a mulher que queria os negativos e tenta falar com ela, mas à perde no meio da multidão.  
Seguindo o som de uma música distante, Thomas acaba entrando em uma espécie de clube onde quem toca é ninguém menos que o grupo Yardbirds.
A banda está tocando uma versão empolgada de ‘Stroll On’, presenciada por todos os tipos imagináveis de ‘malucos’ em modelitos da época.


Jeff Beck, com problemas em seu equipamento, acaba quebrando sua guitarra e a lança ao público, que finalmente acorda de seu ‘transe’ e disputa cada pedacinho do instrumento. Thomas acaba saindo com o braço da guitarra sem utilidade nenhuma, e o abandona no meio da rua.
Quando volta para sua casa-estúdio, ele descobre que ela foi arrombada. Seus negativos do suposto crime e as ampliações sumiram.
Sua vizinha aparece e ele comenta o ocorrido. Ela parece não entender e reconhece a única ampliação que sobrou como muito similar a um quadro de seu marido.
Thomas fica com dúvidas a respeito de toda a situação. O que ele realmente viu, e o que ele pensa que viu.


Finalmente, o fotógrafo decide esquecer o ocorrido. Segue para outro parque distante onde universitários simulam uma partida de tênis. Thomas interage com os estudantes, ‘ouvindo’ o som da raquete imaginária na bolinha. Quando ele vai buscar outra ‘bola perdida’ a câmera sobe e se afasta.
Nesse momento, acabam os negativos de Antonioni! 


5 comentários:

Debbie disse...

Belo "panorama" do que de fundamental ocorreu numa época e lugar fascinantes!!

Eduardo Lenz de Macedo disse...

Eu queria ter estado lá...

Debbie disse...

Eu também!!

brasil disse...

Quem viveu 60' sabe
Que a década emocionou
Tudo que aconteceu não cabe
No coração de quem amou
Foi nela que nasceu Beatles
Depois, o sonho acabou

Fui testemunha ocular
Daquela grande euforia
Na balada dos Beatles amei
Com a amada casei um dia
Com ela vieram os filhos
Com eles, muita alegria

.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.

Além dos Beatles muitos eventos artísticos, musicais, políticos, sociais, comportamentais e outros, marcaram 15 anos do fim da segunda grande guerra.
Tenho amigos bem mais jovens que declaram que gostaríam de ter vivido sua juventude nos anos 60's.
Eu iniciei a década com 13 anos. Nada tenho a reclamar.

Eduardo Lenz de Macedo disse...

Grande Paulo!! Valeu, amigo!