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domingo, 4 de março de 2012

Norman & Geoff!



Uma parte quase sempre subestimada de uma gravação é a engenharia de som. Não se sabe porque, mas o nome do engenheiro, geralmente aparece pequenininho no canto de um disco, onde todo o destaque vai para os músicos e o produtor!
Sabemos que sem o engenheiro seria impossível gravar, ou se conseguíssemos, o som certamente ficaria uma porcaria.
Os Beatles, por exemplo, sempre tiveram profissionais gabaritados trabalhando com eles, e essa foi sem dúvida, um das causas que os ajudaram a chegar ao topo.
Poderia citar alguns nomes de peso, como Phil McDonald e Chris Thomas que trabalharam no 'White Album' e 'Abbey Road', porém os dois nomes principais da saga de engenharia de som dos Beatles, quase todo mundo sabe, são Norman Smith e Geoff Emerick.

Norman, apelidado por John Lennon de 'Normal' Norman, foi o primeiro engenheiro deles. Trabalhou em sintonia com o  produtor George Martin desde o 'Please Please Me' até o 'Rubber Soul' em 1965.
De um estilo agitado e nervoso - tinha também o apelido de 'Hurricane' - Norman atravessou períodos de instabilidade junto dos rapazes, apesar de seu talento inquestionável atrás de uma mesa de som.
Quando ele não suportou mais as excentricidades dos Beatles em 65, foi promovido a produtor pela EMI.


A partir de 1967 ele faz amizade com outros rapazes ingleses, que também influenciariam todo o planeta. A banda chamada de Pink Floyd, estourou naquele ano com o álbum 'The Piper at the Gates of Dawn', ainda na fase com  o vocalista Syd Barret, produzido por Smith. Depois ainda viriam o 'A Saucerful of Secrets' e 'Ummagumma', com sua produção. Ainda na fase dos álbuns conceituais e psicodélicos, Norman produziu a banda Pretty Things e o surpreendente disco 'S. F. Sorrow', um marco do seu tempo. A especialidade de Norman sempre foram as cordas. Ele não admitia um trabalho em que violinos e violoncelos não atuassem de maneira efetiva.

Finalmente, Smith resolveu trilhar seu próprio caminho como protagonista. Após oferecer a Lennon, em 1971, uma canção ecológica - muito a frente do seu tempo - que havia composto, chamada 'Don't Let It Die', ele mesmo decidiu gravá-la.
Com o nome artístico de Hurricane Smith, este single foi lançado e chegou ao nº 2 no Reino Unido, e em seguida se tornou sucesso mundial. Smith lançou um álbum em seguida, e depois de algum tempo se aposentou, indo cuidar de um haras nas proximidades de Londres. 
Norman Smith faleceu em 2008 aos 85 anos de idade. 
Pouco antes de morrer ele publicou um livro com o sugestivo título de "John Lennon Called Me 'Normal'".


A partir de 1965, Geoff Emerick assume a engenharia dos Beatles. Com um estilo bem mais calmo que seu antecessor, Emerick também gostava de ousar mais como engenheiro. Canções como 'Paperback Writer' e 'Rain' já tinham seu dedo nas gravações.
Seu auge pode ter sido nos álbuns 'Sgt. Pepper's' e 'Revolver' em que processos cada vez mais intrincados de gravação, faziam com que os responsáveis pelos Beatles atravessassem madrugadas tentando descobrir o melhor som, o melhor take ou o melhor 'loop'.
Geoff, ganharia um prêmio Grammy por seu trabalho em 'Pepper', e a partir daí se formaria uma forte amizade com Paul McCartney, que suportaria o final dos Beatles.
Emerick continuou fazendo sucesso na carreira-solo de McCartney, especialmente em canções como 'Live and Let Die' e nos álbuns 'Band on the Run' (Grammy de melhor engenharia) e 'Tug of War'.
Outros de seus maiores trabalhos se desenvolveram em bandas como America, Supertramp, Nazareth e com Elvis Costello.


Em 2006, Emerick publicou o livro 'Here, There and Everywhere - My Life Recording the Music of The Beatles', que considero um dos mais belos trabalhos sobre como se davam as gravações da banda, e muito esclarecedor sobre as personagens envolvidas neste processo.
 Geoff detalha com clareza, por exemplo, como se deu a famosa gravação dos solos de guitarra da canção 'The End', a última dos Beatles. Paul a compôs e deixou um espaço em branco no meio da música, com o intuito de depois acrescentar algo. George Harrison ouviu a música, e decidiu que o melhor era acrescentar guitarras. Lennon pediu para solar desta vez. Estava acontecendo um impasse, pois Paul também queria solar em sua própria canção. John, que era o guitarrista menos dotado dos três, teve a ideia de que todos contribuissem com o solo, e McCartney não só abraçou a ideia de John, como sugeriu que os três solos fossem gravados ao vivo.
Dessa maneira, Paul insistiu que tinha uma inspiração para o solo de abertura, e Lennon disse que queria o último solo, sobrando o 'riff' do meio para George! Tudo gravado ao vivo pelo mestre Geoff Emerick.
Geoff continua sua carreira como engenheiro e produtor aos 65 anos de idade.


Um comentário:

Debbie disse...

Seu texto é um bonito e merecido destaque e reconhecimento do trabalho importante desses dois artistas! E, como você disse, muitas vezes substimado!
Muito legal conhecer um pouco da história deles!