Em 05 de Agosto de 1966 era lançado o álbum 'Revolver' dos Beatles! A experimentação e a revolução sonora dos rapazes que havia começado com 'Rubber Soul' em 1965 se intensificava! Novos caminhos musicais eram apontados por este disco, cuja importância na obra da banda é incomensurável.
No 'Alto & Bom Som', o 'Revolver' foi visto desta maneira:
Revolver
- Raízes Experimentais
Assim que 1966 chegou, os Beatles
resolveram que este seria o último ano das turnês mundiais.
Além de extremamente desgastados
com as seguidas viagens, os garotos sentiam que não estavam progredindo como
músicos devido à histeria nas apresentações, nas quais eles mal podiam ouvir a
si mesmos.
Outro motivo para esta decisão foi
a declaração de Lennon numa entrevista de que “os Beatles eram mais populares
do que Jesus Cristo”, que foi tirada do contexto e publicada em manchetes
garrafais nos EUA, ocasionando queima de álbuns da banda e até ameaças de
morte. A partir desse momento, sempre que eles subissem num palco, estariam
correndo risco de vida!
Os Beatles também tinham projetos
individuais naquela época. John já tinha lançado dois livros de contos e
participara do filme “How I Won the War”, deixando claro que necessitava dar um
tempo nos Beatles.
George, que em 1965 começara a se
interessar pela música indiana, estava cada vez mais absorto em seus estudos da
cultura oriental.
Paul, o único Beatle que ainda
morava em Londres – os outros compraram mansões nas proximidades da capital inglesa
– freqüentava o underground londrino e começava a curtir aquilo que seria
chamado de ‘Swinging London’, participando de apresentações performáticas, indo
a concertos de vanguarda, ouvindo gente como John Cage e Albert Ayler e fazendo
gravações caseiras de música experimental.
Quando, em abril, o s Beatles se
reuniram em Abbey Road
para o início das gravações de um novo álbum, todos tinham idéias novas e
estavam ansiosos para pô-las em prática.
George tem a honra de iniciar os
trabalhos com Taxman, marcada por um
solo de guitarra estilo indiano tocado por Paul. Harrison estava furioso com o
imposto de renda britânico, que levava uma bela fatia dos lucros da banda e
resolveu desabafar na música.
Paul, usando de toda sua
criatividade, inspirou-se na música barroca para compor Eleanor Rigby. A letra evoca a terrível solidão de uma mulher que
‘junta o arroz na saída da igreja após um casamento’. Paul sempre jurou que seu
personagem era fictício, mas anos depois foi encontrado um túmulo de uma certa Eleanor
Rigby no cemitério de uma igreja em Liverpool.
I’m Only Sleeping nos
apresenta um autêntico John Lennon reclamando das obrigações de ter que
levantar cedo em certos dias. Belo trabalho vocal, e produção perfeita de
Martin.
Harrison, que teve o recorde de três
músicas no álbum, surge com Love You To,
música de inspiração totalmente oriental, em que ele convida vários músicos
indianos para o acompanharem. George estava se afirmando como compositor.
Paul contribui com uma de suas
melhores músicas, Here, There and
Everywhere. Elogiada pelo próprio Lennon, esta canção tem tudo no lugar
certo, com grande contribuição no
arranjo de George Martin. Ela é uma declaração de amor a namorada de Paul na
época, Jane Asher.
McCartney também sabia fazer
músicas infantis, e Yellow Submarine
foi escolhida a dedo para o vocal de Ringo. Cheia de efeitos especiais e
instrumentos bizarros, ela acabaria se tornando um clássico Beatle e inspiraria
um desenho animado em 1968.
A inspiração para She Said She Said veio a Lennon durante
a turnê americana de 1965. Os Beatles se hospedaram numa mansão de Los Angeles,
onde ficaram cercados por seguranças e imprensa. Lá dentro, a festa estava
animada. Um dos convidados era Peter Fonda que, nos jardins da mansão, fazia
uma viagem de LSD - na época ainda uma substância legal - com John e George. O
papo corria solto até Fonda proclamar em ALTO E BOM SOM que “sabia como era estar
morto”, pois, certa vez, ele havia sido baleado e estivera em coma. John ficou muito
impressionado e não esqueceu essas palavras para compor a canção.
Paul se inspirou no ensolarado
verão de 1966 para compor Good Day
Sunshine, uma música alegre e inofensiva, com um bonito trabalho de piano e
baixo.
And Your Bird Can Sing,
com uma letra marota de John, faz os Beatles voltarem às raízes com um rock
muito bem feitinho.
For No One apresenta
McCartney compondo outra música com cordas, formando com Yesterday e Eleanor Rigby,
algo como uma trilogia.
Nunca se tinha visto uma banda de
rock apresentar este tipo de canção. Novos caminhos para a música estavam sendo
apontados por este álbum, e muita gente iria se aproveitar da inesgotável fonte
criativa dos Beatles.
John aproveita para fazer uma
homenagem a um médico de Los Angeles, na música Doctor Robert. Comentava-se que era o tipo de médico que tinha
sempre uma injeção pronta para qualquer tipo de problema...
George termina sua participação
com I Want to Tell You, que apresenta
um belo piano e baixo tocados por McCartney.
Got to Get You Into My Life é uma canção em que Paul, por incrível que pareça, demonstra seu
amor pela maconha! A sessão de metais é o ponto forte da música.
John, que andava interessado em
literatura não convencional, se inspirou no “Livro Tibetano dos Mortos” para
compor Tomorrow Never Knows, música
com distorções na voz e uso de loops – fitas caseiras gravadas ao acaso em que McCartney vinha
trabalhando - que exigiu muito de George Martin.
Com experimentações e novas
sonoridades, este álbum apontava para novos caminhos que os próprios Beatles
trilhariam.
Os Beatles resolveram ousar também
na capa do disco. Deixando de lado as fotos da banda, que foram usadas em todos
seus álbuns anteriores, eles pediram ao seu amigo de Hamburgo, o artista
gráfico Klaus Voormann, para desenhar a capa.
Voormann fez um brilhante desenho
dos quatro rapazes, intercalando com colagem de fotos, o que levou os Beatles a
mais uma vez serem pioneiros neste quesito na indústria fonográfica.
Estávamos em agosto de 1966 e “Revolver”
era lançado. Definitivamente o mundo não seria o mesmo depois dele!
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