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quinta-feira, 25 de agosto de 2011

J. D. Salinger - Uma vida enigmática!



 

 Um de meus livros de cabeceira sempre foi 'The Catcher in the Rye' [O Apanhador no Campo de Centeio]. Tive contato pela primeira vez com o trabalho de J. D. Salinger na década de 80. Logo procurei seus outros livros, e também devorei 'Nove Estórias' e 'Franny and Zooey'. 
Salinger foi uma pessoa única e enigmática. O herói [ou anti], Holden Caufield, me emociona até hoje quando retorno ao livro de Salinger. 
Vou ler esta biografia que Ricardo Silva comenta abaixo para entender um pouco mais do homem, além do mito. 

 
"Pouco se sabe sobre a vida de J. D. Salinger, autor de um dos livros mais importantes do século 20, O apanhador no campo de centeio. O último livro publicado pelo autor foi a compilação de duas novelas, Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira & Seymor – uma apresentação em 1965. De lá para cá, Salinger talvez tenha se tornado (ironicamente) o mais célebre escritor recluso de todos os tempos.

Saindo agora do forno a biografia Salinger – Uma vida , que tenta traçar um painel da história vivida pelo autor, ao longo do século passado. Nascido em 1919, Salinger era filho único de uma família judia abastada da Nova York de então. O autor, Kenneth Slawenski, desde o início do livro nos traz indicações de como a literatura salingeriana era autobiográfica. A começar por Holden Caulfield, o anti-herói de O apanhador e seu personagem mais icônico, que assim como seu autor, estudou num internato e tinha dificuldades nas matérias escolares padrões.

Kenneth retrata nessa primorosa biografia partes da vida de Salinger pouco comentadas como sua entrada para o 12º Regimento do Exército Americano durante a Segunda Guerra. Esse período obscuro de sua vida foi de fundamental importância em sua obra. Graças a ele Salinger nos brindaria com contos tão essenciais da literatura norte-americana como Um dia ideal para os peixes-banana e Para Esmé, com Amor e sordidez presentes no livro Nove estórias. Nesses contos, Salinger não retrata os horrores da guerra, mas traça um retrato psicológico caprichado de personagens que ainda sofre a influência dos fatos apavorantes da Segunda Grande Guerra. Salinger, como ficamos sabendo nessa biografia, passou por um dos piores momentos da Guerra, tendo no seu regimento o maior número de baixas.

O autor da biografia também relata o lado místico do escritor, que desde cedo se interessou pelo zen-budismo. Em sua dedicação em conhecer e estudar a filosofia oriental, Salinger acabaria se tornando um investigador profundo da religião, que pregava dentre outras coisas, o desapego e a falta de vaidade; duas características que acabaram influenciando tanto a vida profissional quanto pessoal do autor, assim como sua obra.

Ele acreditava na pureza como busca para um caminho espiritual e, por isso, criou tantos personagens jovens. Além de Holden, escreveu alguns contos e novelas curtas sobre a família Glass, uma família americana de pais artistas cujo os sete filhos são gênios precoces que se apresentam num programa de rádio, dentre eles Seymor – que ganhou uma novela só para si – sendo a representação máxima do iluminado.

Talvez o mais precioso dessa biografia seja o estudo da obra do escritor comparando-a com fatos íntimos de sua vida. Salinger criou personagens carismáticos e cativantes que preencheram as expectativas de milhares de jovens que até a criação de Holden não tinham um personagem literário com o qual pudessem realmente se identificar. Levando em consideração que até Elvis Presley e a invenção do rock na década de 50, o ideário jovem era um eterno limbo entre a infância e a fase adulta, Salinger foi um dos precursores da criação de uma literatura pop, em que um personagem fala de questões que dizem respeito à essa cultura específica. O apanhador é repleto de palavrões e gírias da época, além de vários temas controversos, dentre os quais eu destaco a eterna sensação de não-pertencimento do personagem.

Com quatro livros publicados, Salinger escreveu seu nome no panteão dos grandes escritores americanos do século 20, ao lado de nomes como John Updike e William Faulkner, ganhador do Nobel de Literatura, que à época do lançamento do  O apanhador no campo de centeio chegou a elogiar a obra e seu autor publicamente numa frase que resume bem o espírito do que foi a vida desse grande recluso: “Sua tragédia foi que quando ele tentou entrar para a raça humana, não havia nenhuma raça humana ali.”

Ricardo Silva é formado em Artes Cênicas pela Universidade Federal de Ouro Preto.


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