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quinta-feira, 29 de março de 2012

Joe Cocker - Coração e Alma!










Waters - Com o Muro ao Seus Pés







Quando os primeiros acordes de ‘In the Flesh’ soaram no Beira-Rio no dia 25 de março, domingo, eu ainda não tinha ideia do que esperar do show de Roger Waters.
Eu gostava do Pink Floyd, mas não muito, nunca fui fã de carteirinha. Como a maioria das pessoas, comecei a prestar atenção neles com o álbum ‘Dark Side of the Moon’ de 1972. Depois revi sua história desde os áureos tempos de Syd Barret e seus primeiros discos.


Quando Barrett pirou e foi obrigado a deixar a banda, Waters se encarregou de liderar os colegas Richard Wright, Nick Mason e o novo guitarrista David Gilmour em busca de um som diferente. E eles conseguiram. Após o famoso disco do ‘Prisma’, como ficou conhecido o ‘Dark Side...’, Roger Waters também foi decisivo no excelente álbum ‘Wish You Were Here’, fazendo um tributo a Barrett.


Chegamos então ao ‘The Wall’ álbum trabalhado por Waters em 1978. Ao se dirigir a plateia lotada do Beira-Rio, Roger comentou que em 1978 ele achava que ‘The Wall’ era sobre ele mesmo, mas que com o tempo viu que era sobre Jean Charles – o brasileiro assassinado por engano pela policia num metrô de Londres, a quem o show foi dedicado – e a muitas outras pessoas.
Do show em si, difícil falar. Se você não estava lá, perdeu um dos maiores espetáculos visuais de todos os tempos. Não apenas isso. O som estava perfeito, parecendo vir de todas as partes do estádio. Do avião abatido na primeira canção até o ‘javali voador’ quase no final, o muro se encarregou de destrinchar de maneira espetacular a ópera-rock de Waters!


Foi coisa de primeiro mundo. Não parecia ser apenas ‘efeitos especiais’, eu imaginei uma mega-tela de cinema, em que a banda ia sendo pouco a pouco engolida pelo muro.
‘Another Brick in the Wall’, claro, levou a multidão ao delírio. ‘Goodbye Blue Sky’ é linda, assim como ‘Hey You’. Gosto muito da ‘Comfortably Numb’, uma das poucas parcerias com Gilmour neste trabalho, mas não adianta escolher algumas músicas. O show tem uma unidade! Você tem que acompanhar tudo atentamente, e depois não adianta pedir bis, pois quando toca a última música do álbum, acaba o show.
O que ficou marcado para mim deste show e de Waters em particular, é seu extremo sentimento anti-bélico, - Waters perdeu seu pai na segunda guerra mundial -, sua luta contra as grandes companhias multi-nacionais, e sua notória descrença nos políticos em geral.

                                                                  Foto de Miguel de Macedo

O espetáculo em si, não vou esquecer tão cedo, mas Waters fez mais, ele transformou visual e som em mensagem, e isto é muito mais difícil de se fazer, mas também muito mais autêntico e prazeroso.
Saí de lá de alma lavada! 




segunda-feira, 26 de março de 2012

Waters, Roger!





Impossível descrever o espetáculo 'The Wall',  de Roger Waters, que assisti ontem à noite no Beira-Rio. Procurei não pesquisar nada no youtube antes do show, para não ter expectativas demais. Mas nada poderia me preparar para o que estava por vir!
Pra começar, Roger dedicou seu show a Jean Charles, - eletricista brasileiro morto em 2005 no metrô de Londres, ao ser confundido com um terrorista, - levando os presentes ao delírio e a emoção -, Waters se mostrou simpático e comunicativo, e aprendeu algumas palavras em português para se comunicar legal.


Eu diria que no mínimo o 'muro' roubou a cena! Sim, amigos, o muro era o próprio telão, e ali se desenvolveu a maior parte das ações desta ópera-rock.
Ainda estou em Porto Alegre para o show de Joe Cocker amanhã, então deixarei para me aprofundar mais sobre estes dois artistas quando voltar.




Só sei que fiquei orgulhoso de ter comparecido ao Waters, e também por meu filho Miguel poder ter apreciado algo que talvez ele nunca esqueça! A Sonia, minha esposa, comentou que foi o melhor show que ela já viu!
Eu confirmei uma suspeita antiga de que Roger Waters sempre foi a alma do Pink Floyd!
Sem mais, no momento!


P.S. Márcio, as camisetas fizeram sucesso!!!  



sexta-feira, 9 de março de 2012

George Martin - In Our Lives!



Uma pergunta que 'beatlemaníacos' em geral gostam de fazer, ou quem sabe de imaginar respostas para ela, é a seguinte: 'Quem foi o 5º Beatle?'
Não vou me abster de responder, até porque para mim a resposta é bem fácil. Nunca houve um quinto Beatle.
Sei que há votos para todos os que passaram pelo universo beatle, como o baterista da banda, que saiu pouco antes do sucesso estourar, chamado Pete Best! Não creio, que ele seria o 'quinto' pois ele foi substituído.
 Nessa mesma posição se encontra o amigo de Lennon e talentoso artista das telas (pintor) Stuart Sutcliffe, que deixou a banda em 1960 para seguir sua carreira e morar com sua noiva Astrid Kirchherr em Hamburgo, na Alemanha, e que dois anos depois morreria de hemorragia cerebral.
Ainda existem pretendentes a este posto do lado de fora dos holofotes. Muita gente acredita piamente que Brian Epstein, o empresário - na verdade ele era apenas gerente da loja de discos da família - que descobriu a banda num porão sujo de Liverpool, chamado 'The Cavern', seria este homem. 
Brian, de fato, merece uma menção especial, por acreditar na banda, e tentar de todas as formas possíveis que os rapazes chegassem ao reconhecimento mundial. Porém, Brian era excluído das gravações dos Beatles. Na única vez que se atreveu a dar uma opinião sobre um 'take', foi escorraçado por John, que lhe disse que "você é apenas o homem do dinheiro, o som é conosco."
Outros concorrentes muitas vezes citados, incluem o 'roadie', pau-pra-toda-obra, e antigo leão-de-chácara do Cavern, chamado Mal Evans. Um dos mais antigos amigos dos caras, o gigante Mal participou de tudo com eles, desde o início, mas sem dúvida seria um exagero rotulá-lo como integrante da banda.
Um participante da turma mais antigo que Mal, e ainda mais chegado era Neil Aspinall. Neil, era colega de escola de Pete Best, e começou como motorista do grupo. Com curso técnico de contador, quando a banda terminou, Neil continuou com sua profissão original, até ser chamado nos anos 90 para dirigir os negócios da recém reformulada 'Apple'. Aspinall cumpriu sua tarefa de maneira brilhante até recentemente, quando faleceu de câncer.




Eu disse que não existiu um quinto Beatle? A pergunta deveria ser: "Se tivesse existido um quinto Beatle, quem seria ele?"
Aí sim, me atrevo a responder que ele só poderia ser o seu eterno produtor George Martin!
Não tenho tempo nem espaço aqui para fazer uma devida homenagem a Martin, contando seu início de carreira e como ele se estabeleceu como produtor.
Deixo algumas curiosidades: Martin foi aluno de oboé de Margaret Asher, nos anos 50, mãe da futura namorada e noiva de McCartney, Jane Asher. Antes de começar a produzir os Beatles, George dirigia e produzia discos e atuações no rádio dos Goons - que incluíam Peter Sellers e Spíke Milligan - que os Beatles adoravam quando jovens.
Quando finalmente os rapazes conseguiram um contrato para gravar, o destino lhes apresentou George Martin!
Martin, era um perfeito cavalheiro inglês, e prestou atenção em todos os detalhes das personalidades dos membros da banda. Ele mais do que nunca queria conseguir um sucesso para sua gravadora Parlophone.
Porém, não a qualquer preço. Ele queria gente de talento. Em princípio desconfiado das composições originais de Lennon & McCartney, ele foi pouco a pouco sendo seduzido pelo material inovador dos rapazes. Eles em troca, foram adquirindo confiança para ousar mais.
Martin, isso é óbvio, ensinou todos os truques dos estúdios de gravação aos garotos. E eles aprenderam rápido.
Quando 'Revolver' surgiu em 1966, o jogo do rock e da música em geral,  já estava bem mais alto do que todos imaginariam alguns anos antes. Experimentações, instrumentos exóticos, ruídos do cotidiano, orquestras misturadas com sons de animais, tudo isso foi materializado pelos Beatles, e por Martin!
'Sgt. Pepper's' foi o auge das técnicas multi-funcionais dos Beatles, - particularmente de Paul, auxiliado por Martin, e pelo engenheiro de som Geoff Emerick.
Após a separação dos caras, George continuou sua carreira de produtor, com bandas como America, artistas do nível do guitarrista Jeff Beck, e do próprio McCartney para quem produziu 'Tug of War' e 'Pipes of Peace', entre outros trabalhos.
Martin também foi fundador da AIR, uma associação de produtores independentes da Grã-Bretanha. George havia deixado a EMI-Parlophone em 1966, mas continuara a produzir os rapazes de maneira freelance.
Ele chegou a construir um estúdio de gravação em Montserrat, nos anos 70, onde muita coisa de qualidade foi gravada, até ser destruído por um vendaval nos final dos anos 80.




Amigos, George Martin eu sei, é para muita gente uma pessoa quase desconhecida. Suas composições, que incluem um lado do disco 'Yellow Submarine', fizeram pouco para que ele recebesse os créditos que merecia, além de sua notória timidez, que sempre o atrapalhou.
Para quem quiser conhecer melhor seu trabalho, existem dois álbuns fantásticos: 'George Martin In My Life' de 1998, em que ele 'rege', amigos de sua longa carreira cantando canções dos Beatles. Estes amigos incluem Celine Dion, Jim Carrey, Phil Collins, Sean Connery e sim, 'As Meninas Cantoras de Petrópolis'. Pois é, nosso herói esteve por aqui nos anos 90, e em sua partida foi homenageado por esse coral, em pleno aeroporto. No disco elas cantam 'Ticket to Ride' de maneira emocionante.
O outro trabalho é uma copilação de toda sua vida de produtor, lançada pela EMI em 2001, com o título de 'Produced By George Martin - 50 Years in Recording'. Trata-se de uma 'box' sensacional com nada menos que 6 CDs, em uma embalagem de luxo e personalizada.
Para quem preferir ler - o ideal seria ouvir E ler - existem dois livros publicados pelo Mestre: 'All You Need is Ears' de 1979 (não publicado no Brasil), em que ele conta toda sua vida e seu trabalho na produção e 'Summer of Love - The Making of Sgt. Pepper' de 1994 (publicado no Brasil com o título de 'Paz, Amor e Sgt. Pepper' pela Relume & Dumará), contando as peripécias da gravação de um dos maiores álbuns de todos os tempos. Imperdível!!


Sir George Martin fez 86 anos este ano. Já faz alguns anos que ele vem sofrendo de uma surdez parcial, e agora encontra-se praticamente aposentado. Seu último trabalho foi o álbum 'Love' dos Beatles para o Cirque Du Soleil em parceria com seu filho Gilles Martin, que seguiu os passos do pai na produção.


A piada ficou por conta de Ringo Starr que quando soube que Martin tinha problemas de audição, disse: "George está surdo de um ouvido, ele agora só grava em Mono."


O reconhecimento veio por intermédio de seu amigo Paul McCartney:


'Day With George'


"You have had your white hair cut.
Your son resembles you closely.


Memories slip across
The even landscape.


Gauntlets of close-packed
Road cones,
Heading for the cool zone.


Hearing less, you still make
Plans to set the fiddle flying.
Voice colliding, notions stride
And stream bareback
Towards their home.


Let us eat our meal
Near sunlight
With white polystyrene
Apple juice,
Brown slices,
And small packets of
Butter wrapped in gold."      


Amém!


domingo, 4 de março de 2012

Norman & Geoff!



Uma parte quase sempre subestimada de uma gravação é a engenharia de som. Não se sabe porque, mas o nome do engenheiro, geralmente aparece pequenininho no canto de um disco, onde todo o destaque vai para os músicos e o produtor!
Sabemos que sem o engenheiro seria impossível gravar, ou se conseguíssemos, o som certamente ficaria uma porcaria.
Os Beatles, por exemplo, sempre tiveram profissionais gabaritados trabalhando com eles, e essa foi sem dúvida, um das causas que os ajudaram a chegar ao topo.
Poderia citar alguns nomes de peso, como Phil McDonald e Chris Thomas que trabalharam no 'White Album' e 'Abbey Road', porém os dois nomes principais da saga de engenharia de som dos Beatles, quase todo mundo sabe, são Norman Smith e Geoff Emerick.

Norman, apelidado por John Lennon de 'Normal' Norman, foi o primeiro engenheiro deles. Trabalhou em sintonia com o  produtor George Martin desde o 'Please Please Me' até o 'Rubber Soul' em 1965.
De um estilo agitado e nervoso - tinha também o apelido de 'Hurricane' - Norman atravessou períodos de instabilidade junto dos rapazes, apesar de seu talento inquestionável atrás de uma mesa de som.
Quando ele não suportou mais as excentricidades dos Beatles em 65, foi promovido a produtor pela EMI.


A partir de 1967 ele faz amizade com outros rapazes ingleses, que também influenciariam todo o planeta. A banda chamada de Pink Floyd, estourou naquele ano com o álbum 'The Piper at the Gates of Dawn', ainda na fase com  o vocalista Syd Barret, produzido por Smith. Depois ainda viriam o 'A Saucerful of Secrets' e 'Ummagumma', com sua produção. Ainda na fase dos álbuns conceituais e psicodélicos, Norman produziu a banda Pretty Things e o surpreendente disco 'S. F. Sorrow', um marco do seu tempo. A especialidade de Norman sempre foram as cordas. Ele não admitia um trabalho em que violinos e violoncelos não atuassem de maneira efetiva.

Finalmente, Smith resolveu trilhar seu próprio caminho como protagonista. Após oferecer a Lennon, em 1971, uma canção ecológica - muito a frente do seu tempo - que havia composto, chamada 'Don't Let It Die', ele mesmo decidiu gravá-la.
Com o nome artístico de Hurricane Smith, este single foi lançado e chegou ao nº 2 no Reino Unido, e em seguida se tornou sucesso mundial. Smith lançou um álbum em seguida, e depois de algum tempo se aposentou, indo cuidar de um haras nas proximidades de Londres. 
Norman Smith faleceu em 2008 aos 85 anos de idade. 
Pouco antes de morrer ele publicou um livro com o sugestivo título de "John Lennon Called Me 'Normal'".


A partir de 1965, Geoff Emerick assume a engenharia dos Beatles. Com um estilo bem mais calmo que seu antecessor, Emerick também gostava de ousar mais como engenheiro. Canções como 'Paperback Writer' e 'Rain' já tinham seu dedo nas gravações.
Seu auge pode ter sido nos álbuns 'Sgt. Pepper's' e 'Revolver' em que processos cada vez mais intrincados de gravação, faziam com que os responsáveis pelos Beatles atravessassem madrugadas tentando descobrir o melhor som, o melhor take ou o melhor 'loop'.
Geoff, ganharia um prêmio Grammy por seu trabalho em 'Pepper', e a partir daí se formaria uma forte amizade com Paul McCartney, que suportaria o final dos Beatles.
Emerick continuou fazendo sucesso na carreira-solo de McCartney, especialmente em canções como 'Live and Let Die' e nos álbuns 'Band on the Run' (Grammy de melhor engenharia) e 'Tug of War'.
Outros de seus maiores trabalhos se desenvolveram em bandas como America, Supertramp, Nazareth e com Elvis Costello.


Em 2006, Emerick publicou o livro 'Here, There and Everywhere - My Life Recording the Music of The Beatles', que considero um dos mais belos trabalhos sobre como se davam as gravações da banda, e muito esclarecedor sobre as personagens envolvidas neste processo.
 Geoff detalha com clareza, por exemplo, como se deu a famosa gravação dos solos de guitarra da canção 'The End', a última dos Beatles. Paul a compôs e deixou um espaço em branco no meio da música, com o intuito de depois acrescentar algo. George Harrison ouviu a música, e decidiu que o melhor era acrescentar guitarras. Lennon pediu para solar desta vez. Estava acontecendo um impasse, pois Paul também queria solar em sua própria canção. John, que era o guitarrista menos dotado dos três, teve a ideia de que todos contribuissem com o solo, e McCartney não só abraçou a ideia de John, como sugeriu que os três solos fossem gravados ao vivo.
Dessa maneira, Paul insistiu que tinha uma inspiração para o solo de abertura, e Lennon disse que queria o último solo, sobrando o 'riff' do meio para George! Tudo gravado ao vivo pelo mestre Geoff Emerick.
Geoff continua sua carreira como engenheiro e produtor aos 65 anos de idade.