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sexta-feira, 13 de julho de 2012

'Sopa de Cabeça de Bode' - Stones!



Aproveitando o friozinho, que dá vontade de tomar sopa, e o 'Dia do Rock', resolvi falar um pouco sobre o álbum 'Goats Head Soup' dos Rolling Stones.
Considerado muitas vezes, um trabalho menor da banda, penso que ele foi subestimado.
O problema é que este disco se encaixou em uma fase fantástica dos Stones. Espremido entre o pesado e exótico 'Exile on Main Street' (1972) e o clássico 'It's Only Rock'n'Roll' (1974), este trabalho foi avaliado na época como 'pra baixo' e confuso.

Os Stones após seu exílio no sul da França de 71/72, eram considerados uns párias. Ninguém os queria como hóspedes. Para fugir do fisco inglês, e se manter juntos, eles teriam que ser criativos.
A Suiça, um dos poucos países que concordou com a presença de Keith Richards, logo se tornaria um lugar maçante para o guitarrista, que ainda vivia uma fase, digamos, agitada em sua carreira.


A solução veio através da música. Naquele final de 1972, novos ritmos vinham sendo escutados atentamente com ouvidos de lince das campinas por Mick & Keef. O reggae, que começava a flexionar seus músculos, com os primeiros álbuns de Bob Marley, chamou a atenção da alta cúpula stoniana.
Assim, a Jamaica foi um lugar menos estranho do que se podia imaginar para o séquito dos Stones se instalar.
Na capital, Kingston, a banda descobriu um estúdio em condições e logo convidaram seus amigos Nicky Hopkins, Billy Preston, Ian Stewart, Bobby Keys, Jim Horn, e cia, para o início dos trabalhos.

Desde junho de 1969, Mick Taylor havia assumido o posto de segundo guitarrista da banda, em substituição, ao agora falecido Brian Jones. Com seu talento natural, Taylor modificou totalmente o enfoque das canções da dupla Jagger & Richards. Agora haveriam solos de guitarra. O disco 'Sticky Fingers' de 71, já havia dado uma bela amostra da competência de Taylor. Se em 'Exile...' Keith optou por um som mais pesado, e atirar em todas as direções, agora em 'Goats...', Taylor teria mais espaço para atuar.


O grande sucesso do álbum, que muita gente acha que só pintou em single, foi a canção 'Angie'.
Segundo a lenda, Mick Jagger e David Bowie, compuseram juntos esta música, na cama, inspirados por Angela Bowie! Verdade ou não, ela é certamente uma das melhores baladas dos Stones, com direito a um piano matador tocado por Nicky Hopkins (e não Mick Taylor, como alguns pregam), Taylor só a tocou em um clip, e ao vivo, quando Nicky não acompanhava os Stones.

'Dancing with Mr. D.' e principalmente 'Doo Doo Doo Doo Doo (Heartbreaker)', também se sobressaíam como aspirantes as paradas de sucesso, mas não eram nem de longe as melhores faixas do álbum.
Este posto é dividido por duas canções quase obscuras. 'Coming Down Again', uma das melhores criações de Richards, é sofrida e surpreendente, com seu vocal espectral. 'Winter', também com o piano de Nicky Hopkins, e a guitarra de Taylor babando, fez com que Mick Jagger elevasse o nível de seu trabalho vocal, e o arranjo de cordas da música, arrasou.


Não podemos esquecer também de '100 Years Ago', soando como um momento raro de coesão da banda,  e com um belo 'approach' de Billy Preston. A harmônica de Jagger se destaca em 'Silver Train', que traz o piano de Ian Stewart, e 'Hide Your Love' é descartável.

Talvez o que de melhor a banda produzia na época possa ser apreciado em 'Can You Hear the Music'. Esta canção sintetiza, como nenhuma outra, a fase dos longos e belos solos (de Taylor), e a quase 'jam session', que se iniciara em 71 com canções como 'Can't You Hear Me Knocking', e principalmente 'Moonlight Mile', e duraria até 74 com os petardos 'Fingerprint File' e 'Time Waits for No One'.
Esta última, aliás, foi um dos motivos da saída de Mick Taylor da banda. Taylor queria os créditos da canção, como compositor, - certamente por seus longos solos e improvisações - ao lado de Mick e Keef, mas não foi atendido.
Com a partida de Taylor, encerrava-se, talvez, a melhor fase da banda. Nunca mais os Stones ousariam tanto dentro de um estúdio de gravação.


Pra encerrar 'Goats Head Soup' - que fome -, o rock tradicional dos Stones se fez presente. Só que como sempre, de maneira provocante. A simples e eficiente 'Star Star', ficaria muito mais conhecida pelo jargão stoniano, 'star fucker', do que por qualquer outra coisa. Nem todos os álbuns de rock, tinham um final tão triunfante!
A produção do álbum ficou a cargo de Jimmy Miller, pela última vez. Sua associação com os Rolling Stones que começara no 'Beggar's Banquet' de 68, e passara pelos melhores momentos da banda, chegava ao final. Miller, foi mais um daqueles tantos que não segurou a barra das drogas. Afinal, junto com os Stones, isto não era coisa fácil mesmo de se conseguir.


A capa do disco também foi controversa. Ray Lawrence desenhou e o famoso David Bailey clicou, a pedido de Jagger, uma foto em que os Stones apareceriam com um tipo de 'máscara mortuária', como se já tivessem partido desta pra uma melhor!
Não, os Rolling Stones não estavam mortos! E se estamos falando deles hoje, no Dia do Rock, 39 anos após 'Goats Head Soup' e 50 anos depois do primeiro single da banda, é um sinal de, no mínimo, muito talento, persistência e criatividade. Ou não?




3 comentários:

almagro disse...

Grande remember, foi meu primeiro LP - inédito - deles, comprado c/meu primeiro déc.terceiro salário, rsrs, antes já tinha comprado alguns caça-níqueis tipo coletânea, da London Records, Star Star era, mesmo, o "rock" do bolachão.

Eduardo Lenz de Macedo disse...

Hehehe. O meu primeiro foi o "Black and Blue', aí comecei a voltar no tempo e garimpar tudo relativo aos caras... Grande Abraço!!!

Unknown disse...

'Agora HAVERIAM mais solos de guitarra'. Não. Corrige:'Agora HAVERIA...' Ótima resenha!