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sábado, 7 de julho de 2012

Brian Jones no Marrocos!





Era uma vez o verão de 1968, quando revoltas estudantis varriam o planeta. A 'Primavera de Praga' também já deixara sua marca na mente dos ocidentais. Os Beatles já haviam revolucionado a música com 'Sgt. Pepper's', e preparavam o 'White Album'! Bob Dylan estava sumido! Elvis estava gordo, mas ainda não tanto!
Os Stones o que faziam? Eles preparavam com cuidado um álbum - que viria a se chamar 'Beggars Banquet' -  que poderia revitalizar a banda após o fiasco de 'Their Satanic Majesties Request'.
Naquele verão, Mick Jagger e Keith Richard, praticamente descartaram Brian Jones como um integrante vital do grupo.
A rusga era antiga. Brian, inicialmente havia sido o líder. Pouco a pouco ele foi perdendo espaço dentro da banda principalmente por não compor. Keith e Mick se uniram, compunham o que lhes vinha na cabeça e levavam as canções prontas ao restante da banda. Se Charlie Watts e Bill Wyman não se importavam, Brian foi acumulando ressentimento.



Em primeiro lugar, Brian queria os Stones como uma banda de blues. Os outros rapazes, apesar da evidente influência dos negros americanos, agora não se incomodavam em levar o som dos Stones em outras direções. Brian lutou contra isso, mas perdeu!
Além de ter perdido seu espaço no grupo, Jones também perdeu sua mulher.
Em 1967 durante uma viagem ao oriente, Brian teve uma crise de asma, que o levou a ser hospitalizado. Keith, estava lá, mas preferiu consolar Anita Pallenberg, mulher de Brian, à continuar a cuidar do amigo. Resultado: quando saiu do hospital, Brian já encontrou Anita vivendo com Keith!

Não que Brian Jones fosse algum tipo de 'santo', muito pelo contrário. Ele já havia passado por vários relacionamentos, antes dos Stones. Tinha 6 filhos, todos homens, todos ilegítimos e gerados por seis mulheres diferentes. Quando encontrou Anita, uma atriz italiana, jovem e sexy, que ninguém sabia de onde havia saído, Brian pirou por ela.



O problema era que Jones não era pirado só por ela. Suas pirações incluíam doses industriais de bebida, drogas de todos os tipos, para às quais ele tinha pouca resistência, e um apetite sexual incontrolável.
Quando a polícia anti-drogas resolveu implicar com os Stones, Jones foi o primeiro a ser preso. E o seria várias vezes. Isto foi a gota d'água! Brian nunca mais seria o mesmo.

Se você colocar na balança a perda de Anita, as prisões, e o caráter esnobe da dupla Jagger & Richards, talvez o fardo tenha sido pesado demais para Brian.
Seu nível de concentração nas gravações baixou a um nível alarmante. Antes um músico eclético e inovador, agora ele se contentava em tocar percussão, ou até mesmo a dormir ou 'viajar' no estúdio.

Quando ele resolveu tirar férias em julho de 68, o amigo Brion Gysin o levou ao Marrocos. 
Lá, Brian ouviu flautas e cornetas que datavam de 4 mil anos atrás. Ele ficou enfeitiçado! 
Na pequena aldeia de Jajouka, Jones fez questão de gravar os músicos locais.

Gysin conta que a aparição de Brian em Jajouka correspondeu a chegada de um ET! Os habitantes se reuniram em torno dele, e o tocavam como se ele fosse um ser de outro mundo. Devemos lembrar que Brian Jones possuía uma vasta cabeleira loura, e se vestia como um hippie de verdade. Longas túnicas, cetins bufantes e esvoaçantes, faziam parte de sua vestimenta normal. Para quem nunca tinha visto um ocidental 'normal', imaginem topar com Brian Jones?



Brian curtiu o lugar. Foi-lhe oferecido um banquete. A especialidade do local era fígado de cabra, assado na hora! Todos viram o animal se encaminhar para ser abatido. Um calafrio percorreu os presentes. Com sua franja branca caída sobre os olhos, a cabra se parecia muito com Brian!
Enquanto saboreava o fígado, Brian comentou com Brion Gysin: "é a mim que estão devorando"! 
Quem sabe uma premonição?
Após passar a noite em Jajouka, na manhã seguinte eles partiram para Tânger, onde no hotel, Jones passou o dia ouvindo as gravações, como se estivesse em transe.
De volta a Londres ele levou a música marroquina até Keith e Mick. A receptividade não foi a esperada.

Quando Brian morreu um ano depois, em 1969, Jagger finalmente resolveu fazer algo com as fitas do amigo. Ele negociou com gravadoras e elas viraram disco em 1971, levando a música de Jajouka a um reconhecimento universal.

Não é um som fácil!! Escutei pela primeira vez estas gravações em 1990, e deste então volto a elas regularmente, tentando uma melhor assimilação. Tem algo a ver com música indiana, mas me parece mais profunda. Flautas, cornetas, percussão, coral, tudo se mistura em uma energia que sugere um enlevamento, uma prece.



'Brian Jones Presents The Pipes of Pan at Jajouka', soa para mim, como o epitáfio de Brian Jones, já que ele não deixou canções de sua autoria, e não fez gravações solo.

No dia 03 de julho fez 43 anos que Lewis Brian Hopkin-Jones deixou este planeta.
Jim Morrison, que partiu exatamente 2 anos depois de Brian, lhe dedicou esta poesia quando soube de sua morte:

"Piscina de manteiga quente
    Onde fica Marrakesh
    Debaixo das cataratas
    a fúria da tempestade
onde os selvagens caíram
    ao fim da tarde
    monstros do ritmo

Deixaste o teu
    Nada
para rivalizar c/
    O silêncio

Espero que tenhas partido
    Sorrindo
Como uma criança
Em busca dos retalhos perdidos de um sonho..."






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