Em 1969, quando o cineasta Roman Polanski se despediu em Londres de sua mulher Sharon Tate, que estava voltando para a América para dar a luz ao seu primeiro filho, ele notou que Sharon havia esquecido algo no carro. Era um livro de Thomas Hardy, chamado 'Tess of the D'Urbervilles'.
Polanski guardou consigo aquele romance, e quando poucos meses depois sua esposa foi assassinada, ainda abalado pela tragédia, ele passou a lê-lo seguidamente, a ponto de sabê-lo quase de cor.
Não foi surpresa portanto quando quase uma década depois Polanski conseguiu filmá-lo.
Nas palavras de Polanski: "Tess é a história da inocência traída num
mundo onde o comportamento humano é governado por barreiras de classe e
preconceito social. É também um estudo da casualidade. Todos os males na
vida de Tess são produtos fortuitos das pequenas coincidências - mas
importantes - que moldam nosso destino. Se não tivesse havido um
encontro casual entre seu pai e um pároco que lhe diz que ele tinha
sangue aristocrático nas veias, não haveria tragédia."
O filme se revelou de feitura dificílima, com problemas de produção, de logística e de cenários. Polanski prossegue: "Era muito importante achar o cenário
apropriado, um equivalente no século XX da Dorset do século XIX de
Hardy. Teríamos que assinalar a passagem do tempo e a mudança na própria
Tess por meio de uma mudança visível, quase palpável, das estações.
Depois de escolhido o local de filmagem rural, deveríamos filmar por um
ano afora, começando no início da primavera, atravessando o auge do
verão até as profundezas do inverno. Essa programação longa e pouco
usual resultaria inevitavelmente num filme muito caro."
Para a personagem principal, Roman trouxe uma amiga que ele conhecia já fazia algum tempo, mas completamente desconhecida do grande público: Nastassja Kinski, talvez somente conhecida por ser filha do veterano ator Klaus Kinski. Os outros papéis de destaque couberam a Peter Firth (Angel) e Leigh Lawson (Alec). O diretor de fotografia foi Geoffrey Unsworth (Superman), que morreria durante as filmagens.
"Em qualquer produção o 1º dia de filmagem
marca o estado de espírito e o andamento de todo o processo. É muito
importante achar a combinação certa de velocidade e precisão, de humor e
entusiasmo. A 7 de agosto, o 1º dia, levantei-me antes da aurora, abri a
janela do quarto do hotel e descobri que estava chovendo
torrencialmente.
Choveu o dia todo. A cena a ser filmada era aquela
na qual Alec dá a Tess um morango para comer (cena representada na primeira foto), num brilhante dia de verão. Assim, tivemos que levantar um
toldo de mais de cem metros, para manter a chuva longe do jardim de
rosas, da câmera e dos atores.
Apesar do tempo, a cena do jardim de
rosas aparece com uma qualidade luminosa e mágica de meio de verão, que
testemunha a extraordinária habilidade de Geoffrey Unsworth."
Roman continua: "Por
TESS ter levado tanto tempo para ser filmado nossa equipe desenvolveu
uma existência comunitária e um ritmo a seu próprio modo, com
nascimentos, mortes, casos de amor, divórcios, momentos de alta comédia e
de tragédia profunda. Nós éramos uma festa móvel, que viajava
desde a Normandia no meio do verão, através do outono e do inverno na
Bretanha, e de volta, novamente, a lugares que nos eram familiares há
meses.
Alguma coisa da atmosfera idílica daqueles meses pode muito bem estar refletida no próprio filme. Para mim, vindo depois da prisão em Chino, isso constituiu um episódio particularmente importante em minha vida e uma experiência extraordinariamente purificadora."
Alguma coisa da atmosfera idílica daqueles meses pode muito bem estar refletida no próprio filme. Para mim, vindo depois da prisão em Chino, isso constituiu um episódio particularmente importante em minha vida e uma experiência extraordinariamente purificadora."
TESS demorou mais de 1 ano para encontrar
distribuidor nos EUA, onde foi o filme mais calorosamente recebido da
carreira de Polanski até então, fez sucesso de público e crítica, com
várias indicações ao OSCAR.
Alguns interpretaram os infortúnios de Tess como um pedido público de desculpas de Polanski por sua 'transgressão' em Los Angeles, - o caso de assédio sexual ilegal que até hoje o atormenta - mas ele nunca admitiu isso. Ele não podia conceber que ele vitimasse deliberadamente uma mulher.
Alguns interpretaram os infortúnios de Tess como um pedido público de desculpas de Polanski por sua 'transgressão' em Los Angeles, - o caso de assédio sexual ilegal que até hoje o atormenta - mas ele nunca admitiu isso. Ele não podia conceber que ele vitimasse deliberadamente uma mulher.
Sua mãe e
Sharon, as duas mulheres que mais amou na vida, foram vítimas de
atacantes intencionais ( a mãe pelos nazistas e Sharon pelos assassinos de Manson), e suas personagens mais agradáveis são sempre
suas vítimas, como Carol em "Repulsa ao Sexo" e Rosemary (O Bebê de Rosemary) ou Evelyn
Mulwray em 'Chinatown'.
Com a dificuldade de achar distribuidores para TESS, Polanski pensou em se aposentar. Ele se sentia cansado e imaginava que não valia mais a pena perder anos de sua vida filmando. Ele se concentrou em atuar como ator e dirigir óperas. Roman representou Mozart durante vários anos em 'Amadeus' nos palcos.
Enquanto isso, ele encontrou tempo tb para escrever sua autobiografia, 'Roman'(1984).
Com a dificuldade de achar distribuidores para TESS, Polanski pensou em se aposentar. Ele se sentia cansado e imaginava que não valia mais a pena perder anos de sua vida filmando. Ele se concentrou em atuar como ator e dirigir óperas. Roman representou Mozart durante vários anos em 'Amadeus' nos palcos.
Enquanto isso, ele encontrou tempo tb para escrever sua autobiografia, 'Roman'(1984).
Talvez toda a essência do livro de Hardy não tenha sido assimilada por Polanski, mas sem dúvida este trabalho, com suas reconstruções minuciosas e figurinos perfeitos, merecem um lugar especial na filmografia do mestre.
2 comentários:
maravilha de texto meu caro macedo.
abraços.
Grande Guina.O que o POlanski comenta é de sua biografia, que aliás é muito boa. Abraços.
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