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sexta-feira, 14 de setembro de 2012

A Viagem Mágica dos Beatles!


  


   Na esteira do relançamento agora em novembro do filme 'Magical Mystery Tour', - que terá direito a exibições especiais em telonas pelo mundo afora do filme restaurado, além de uma edição especial de luxo, incluindo dvd, blu-ray (com cenas extras) e um enorme livreto, - comento aqui alguns aspectos que tornaram esse filme feito para a TV ao mesmo tempo um fracasso comercial e um sucesso 'cult'.          
       
  
O ano era 1967, estávamos no auge do ‘verão do amor’ e ‘Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band’ bombava nas rádios e nos alto-falantes de quase todo o planeta. Em agosto, após várias internações, o empresário dos Beatles, Brian Epstein é encontrado morto por uma overdose de anti-depressivos.
Desorientados após perderem seu descobridor e homem de confiança, os Beatles apostam no trabalho e resolvem seguir com os planos de um filme para a TV. 

Mergulhando de vez no psicodelismo, a ideia de Paul McCartney era fazer um filme sem roteiro. O projeto partia de ideias simples mas ao mesmo tempo avançadas para a época.

Nos finais de semana dos anos 40 e 50 em Liverpool, eram comuns as viagens de ônibus sem um destino já traçado. As pessoas compravam uma passagem e iriam provavelmente ser levadas a algum balneário. A aventura ficava mais engraçada e excitante porque elas nunca sabiam o local exato para onde iriam.
Paul inspirou-se nesses passeios de infância para projetar a ‘misteriosa viagem mágica’ dos Beatles.
Eles lotariam um ônibus de amigos e colaboradores e sairíam pelo interior da Inglaterra com uma câmera na mão, decididos a filmar tudo o que rolasse no caminho.


As filmagens foram complicadas desde o início, com a imprensa e fãs seguindo o ônibus em carros e motos, prontos a registrar qualquer momento da banda com suas câmeras indiscretas.
O filme começa com Ringo Starr - de longe o melhor ator dos quatro - acompanhando sua tia Jessie, gorda e chata (Jessie Robins, fantástica no papel)  até um ônibus que deveria partir para algum lugar desconhecido.  Lá dentro a festa fica animada. John e George sentam lado a lado e Paul – o único beatle ainda solteiro – tem o privilégio de sentar ao lado de uma bela passageira (Maggie Wright).

Surgem diversos personagens bizarros, como anões, mágicos e malucos naquele cenário apertado e sufocante em que acabam sendo inseridas cenas pioneiras de clips durante a viagem.
Paul é filmado na França numa manhã fria de inverno, saltitando ao som de ‘The Fool on the Hill’ como se fosse um eremita dândi dos anos 60.
São intercaladas também imagens dos 4 Beatles e seu roadie, Mal Evans, vestidos como magos e tentando fazer com que coisas mágicas acontecessem aos viajantes. Infelizmente, pouca coisa aconteceu.

Num dos melhores momentos, o sargento recrutador (Victor Spinetti, grande ator, falecido recentemente), tenta convencer todo o bando a se alistar para servir a Rainha, sem sucesso.

George Harrison, faz sua participação baseada num fato real. Quando estava em Los Angeles em 1966, ele alugou uma mansão chamada ‘Blue Jay Way’ nas colinas da cidade e ficou esperando seu amigo e assessor de imprensa da banda, Derek Taylor, que se perdeu no ‘fog’ da cidade e não encontrava a casa. O bonito clip nos mostra um George sentado em posição de ioga e meditação, enquanto imagens em 3D passam pela telinha.


Talvez o momento mais engraçado tenha sido o proporcionado por John Lennon. Na improvisação geral que norteava os trabalhos, John contou a Paul que tinha tido um pesadelo na noite anterior e queria filmá-lo. O sonho consistia em John vestido de garçom e servindo macarrão à tia gorda de Ringo, com uma pá de pedreiro. Toneladas de macarrão eram servidos no prato da tia Jessie, o que acabou virando um pesadelo para ela mesmo.

Outra cena ‘mágica’, é a entrada de todos os passageiros homens dentro de uma pequena tenda, que acaba se transformando em um clube masculino, onde rola um strip-tease ao som da ‘Bonzo Dog Band’.

Em um dia particularmente complicado, o ônibus mágico ficou preso em uma ponte no interior, causando um enorme tumulto e o cancelamento das filmagens. Todos foram acomodados em estalagens e hotéis. Paul e Ringo descobriram o pub mais agitado do lugar e foram dar um passeio no local, sendo logo reconhecidos. Segundo reza a lenda, após umas e outras, Paul sentou-se ao piano e passou a noite tocando todos os pedidos dos freqüentadores do bar, negando-se a tocar apenas ‘Yellow Submarine’.     

Apesar de contrariado com a ideia do projeto, John compôs a exótica ‘I Am the Walrus’, especialmente para o filme, em que os rapazes vestem máscaras de animais, e tocam ao ar livre num campo de aviação abandonado, deixando os espectadores curiosos sobre qual era o objetivo da banda nesse clip. Provavelmente a resposta fosse: nenhum! Cada um chegaria a suas próprias conclusões. 


Outra cena esquisita, é uma corrida cheia de trapaças em torno do campo de aviação, em que os membros da viagem competem entre si, com todo o tipo de veículos. O vencedor acaba sendo Ringo, com o ônibus da viagem mágica.

A cena final pelo menos não deixa a desejar. Os Beatles em estilosos fraques brancos, descem uma escadaria ao estilo ‘E o Vento Levou’, ao som de ‘Your Mother Should Know’, uma musiquinha de salão de baile dos anos 30. Ao final dessa escada eles são recebidos por 160 membros de um grupo de dança e por meninas da Força Aérea Britânica. Nem todo filme para TV tinha um epílogo tão espetacular assim.

O verdadeiro pesadelo para os Beatles, – e para McCartney em particular – começou depois das filmagens. Pouco havia sido feito para sincronizar som e imagem, e foi um trabalho exaustivo para Paul até acertar tudo com os engenheiros de som.
O filme, que havia sido rodado em setembro e outubro, agora estava com o prazo estourado para ser exibido pela BBC antes do Natal.
Quando todos pensaram que os problemas tinham terminado, a BBC implicou com uma cena. Era um interlúdio romântico da tia Jessie com o personagem George, um fotógrafo, em que eles se beijam na beira da praia.
Mesmo evidenciando um grande preconceito da BBC contra a terceira idade, a cena foi cortada! Ela só apareceria anos depois, quando o filme foi restaurado para o formato VHS.


 ‘Magical Mystery Tour’ acabou tendo sua estreia no dia 26 de dezembro de 1967 no Reino Unido. 
Além da péssima escolha da data para o lançamento, logo depois do Natal, o filme de 1 hora de duração, havia sido rodado em technicolor e poucos telespectadores possuíam TV a cores naquele tempo. Quem assistiu em preto e branco ficou decepcionado pois o filme não tinha o mínimo apelo sem cores. Havia até uma cena em que um bonito céu azul brilhante com algumas nuvens era mostrado enquanto o ônibus seguia viagem ao som da instrumental ‘Flying’. Sem cores, ninguém entendeu aquelas imagens que pareciam um cinza desbotado.
O filme foi considerado um fracasso para os padrões dos Beatles, e Paul McCartney foi obrigado a defendê-lo em público durante várias entrevistas para TVs e jornais.

Muito tempo depois, quando apresentado à cores nos EUA, ele recebeu créditos, como um ’road movie’ despreocupado, um filme ‘cult’ e como uma comédia non-sense que influenciaria muita gente.
Steven Spielberg, no início de sua carreira o elogiava muito. Peter Fonda e Dennis Hopper, utilizaram ideias dele para o ‘Sem Destino’ e o grupo Monty Python seria outro que beberia dessa fonte.

 A trilha sonora  seria lançada nos EUA em formato de LP naquele dezembro de 67, e além da faixa-título e das já citadas, o lado B foi completado com hits da banda como ‘All You Need Is Love’, ‘Hello Goodbye’ e ‘Penny Lane’. As vendas foram acentuadas.

Apesar do sucesso tardio do filme e da trilha, o que marcou ‘Magical Mystery Tour’ foi sua estreia.
Pela primeira vez as pessoas souberam que os Beatles não eram infalíveis!



2 comentários:

Debbie disse...

Excelente, Sr. Macedo! (há quem diga que vale só pela cena da escada, hehe!)

Eduardo Lenz de Macedo disse...

Thanks, Deb! Well, eu acho um pouco de otimismo pensar assim, mas respeito! Gastar horas (põe horas nisso) de rolos de filme, por uma cena! Devia ter sido um clip...!!!