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sábado, 30 de outubro de 2010

Meu beatle favorito

Paul flagrado com seu violão no quintal da casa dos pais. Foto: EMI
Paul flagrado com seu violão no quintal da casa dos pais. Foto: EMI

Quem é o seu beatle favorito? No meu caso, vem de bate-pronto: Paul McCartney! Não que alguém seja o dono da verdade, mas sabe qual é o fato mais interessante da preferência? A convicção de que os Beatles só >>chegaram lá>> pela direção de Paul. Tem muita gente que acha, artisticamente falando, que Paul não é tudo isso, que o cara é muito pop, e blá-blá-blá. Para completar, faça a pergunta a fãs e tenha John Lennon na liderança. Paul geralmente disputa a segunda colocação com George Harrison, provavelmente levando uma ligeira vantagem, e com Ringo… Bom, Ringo é Ringo, como disse Paul certa vez: >>Ele é o melhor baterista do mundo>>.
Essa é uma de suas muitas qualidades. Ele sempre foi agregador. Se não fosse a insistência do baixista, os Beatles teriam acabado no White Album (1968). Foi sob o seu comando que surgiu o canto do cisne do Fab Four – Abbey Road (1969). Há dúvidas de que o medley do lado B do disco é um dos grandes momentos dos Beatles?

Paul e George. Foto: divulgação EMI
Paul e George. Foto: divulgação EMI

Existem vários equívocos sobre de Paul. John, por exemplo, levava a fama de ser o experimentalista da dupla Lennon & McCartney, mas muitas das passagens mais ousadas dos Beatles passavam pelo crivo de Macca. Canções como Tomorrow Never Knows e A Day in the Life partiram de ideias de Lennon, mas o toque de mestre foi de Paul. No caso da primeira, um marco na psicodelia que praticamente surgiu naquela gravação. Já na segunda, desconstruindo uma levada simples de John. McCartney novamente experimenta no estúdio, propondo um descontínuo da harmonia original, dessa vez tendo uma orquestra a colocar abaixo a escala musical com sua crescente cacofonia. Esse seu conhecimento em atonalidades e experimentalismos veio do contato com artistas como John Cage.

Divulgação: EMI
Divulgação: EMI

Enquanto todos estavam casados no auge da banda, Paul era solteiro. Vindos do interior da Inglaterra, os Beatles se instalaram em Londres em 1963 e, apesar da fama, não passavam de garotos interioranos numa cidade grande. Foi quando Paul começou a namorar a atriz Jane Asher, peça fundamental para o seu desenvolvimento como pessoa e como artista. Foi a partir daí que ele começou a ter contato com artes plásticas, literatura beat, teatro, cinema e tudo aquilo que a >>swinging London>> oferecia. No jogo de liderança dos Beatles, pode-se dizer que Paul não precisava ser o >>chefe>>. Já John queria ser. A liderança musical de McCartney foi conquistada aos poucos. Temperada por música erudita e barroca (Yesterday, Eleanor Rigby), passando pelo terreno experimental dos discos Revolver (1966) e Sgt Pepper’s (1997) e desembocando na volta às raízes em Let it Be (1970).

Anos 60. Com a namorada Jane Asher. Foto: Divulgação Beatles Lane
Anos 60. Com a namorada Jane Asher. Foto: Divulgação Beatles Lane

Querem saber mais do cara de rostinho de bebê e das baladinhas? Os maiores rockões dos Beatles passaram por suas mãos. A primeira canção do primeiro álbum era uma joia rocker chamada I Saw Her Standing There. Seus covers de Little Richard, de quem herdou a verve gritona, fizeram história, geminando nas viscerais I’m DownShe’s a WomanBack in the USSR, Helter Skelter e I’ve Got a Feeling. Ah, e havia, sim, as baladas. Inspirado em Buddy Holly (um de seus maiores ídolos), surgiram canções como All My LovingThings We Said TodayI Will Oh! Darling. Tem ainda o Paul instrumentista. Seu instrumento de formação foi a guitarra, sendo obrigado a encarar o baixo quando a banda precisou. Acabou revolucionando o instrumento. Sua marca fica evidente desde o primeiro disco. O baixo de canções como SomethingCome Together, mostra toda a excelência de Paul nas quatro cordas. Além de se arriscar na bateria, ele também é um exímio pianista. Ainda tem os solos de guitarra. Muitos dos que ouvimos nos LPs do grupo são de sua autoria, como o de Taxman. E tem ainda a incursão pelas telas. Você sabia que o >>road movie>> (filme de estrada) pode ter começado com os Beatles? O filme para TV Magical Mystery Tour (1967) partiu de uma sacada de Paul, que saiu com uma câmera na mão, filmando o que acontecia. Na época, incompreendido, hoje é referência.


Divulgação EMI
Divulgação EMI

Quando o empresário Brian Epstein morreu, em 1967, foi McCartney quem segurou a bronca, inicialmente administrando os negócios dos Beatles. Ele convenceu John a abrir uma empresa para cuidar do catálogo musical da Fab Four. Quem não conhece a logo da Apple? Macca era fã do artista belga René Magritte e, quando adquiriu o quadro Isto Não é uma Maçã, a >>maçãzinha>> ganharia as manchetes e os discos dos Beatles no mundo inteiro.

Divulgação EMI
Divulgação EMI

Com a chegada dos anos 70, John e Paul tomaram caminhos opostos. John foi para a política e a panfletagem. Paul investiu em compor, tocar e gravar, de preferência com um grupo. Surge assim o Wings, banda que liderou as paradas em ambos os lados do Atlântico naquela década.
Enquanto John patinava no disco Sometime in New York City (1972) e em batalhas para ficar nos EUA, o hitmaker Paul empilhava sucessos como Live and Let Die e My Love, além do antológico álbum Band on the Run (1973).

Divulgação EMI
Divulgação EMI

Não sejamos injustos! Lennon era ótimo! Acontece que McCartney sempre foi melhor! Se Paul era criticado publicamente por John, ele respondia sutilmente na música, como em Too Many People, em que pedia menos “diretrizes e conselhos” ao casal Lennon, criticando-os por assumirem uma atitude demagógica perante a mídia e outra completamente diferente na vida privada. Lennon reagiu em How Do You Sleep?, criticando abertamente o ex-parceiro.

Divulgação Hear Music
Divulgação Hear Music

Paul conquistou a América novamente em 1976, após o megasucesso Silly Love Songs (>>O que há de errado em encher o mundo de canções de amor>>, ele dizia). Nada de errado, como ficou comprovado pelos milhões de vendas do single e pela turnê que varreu os EUA em mais de 40 shows, eternizados no álbum triplo Wings Over America! Paul, ao contrário de John, nunca teve restrições em tocar os antigos sucessos dos Beatles. A comparação acaba aqui, pois Lennon, em seu retorno aos estúdios, seria assassinado em 1980. McCartney continua em carreira-solo até os dias de hoje. Venus and Mars (1975), Tug of War (1982) e Chaos and Creation in the Backyard (2005) são credenciais de seu talento. Não bastassem os discos, foi condecorado como Cavaleiro da Ordem Britânica, já empilhou alguns prêmios Grammy e tem ainda um planeta chamado McCartney (tá bom, não é um planeta, é >>apenas>> um corpo celeste). Paralelamente à carreira musical, segue como um dos principais ativistas do vegetarianismo e dos direitos dos animais (herança de Linda McCartney, sua mulher falecida em 1998), além de ter feito campanhas contra as minas terrestres. Pra encerrar, o Guiness Book simplemente considera Paul o >>artista mais bem-sucedido da história da música>>. Esse é o artista que veremos no próximo dia 7 de Novembro em Porto Alegre. Vai ser inesquecível, alguém tem dúvida?


Texto escrito com >>a little help from my friend>>Márcio Grings, Coordenador de programação da rádio Itapema FM Santa Maria.

2 comentários:

Debbie disse...

Hail, Paul McCartney!!

Maravilha de texto, Dado e Márcio!

Douglas disse...

Depois que eu li o teu livro, eu tive a absoluta certeza que George era o teu beatle favorito. Causa-me estranheza saber que era Paul, justamente pq, no livro, não são poucas as tuas críticas lançadas a ele. Parece-me que tu tentaste desconstruir o bom-mocismo de McCartney, o que não me parece errado, até pq as pessoas são ... pessoas, elas tem defeitos e Paul não foge a regra.
Um abraço