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domingo, 31 de outubro de 2010

Let It Be - 40 anos


                                         
                                                      O Fim da Estrada

                   Há 40 anos, era lançado ‘Let it Be’, o álbum de adeus dos Beatles.

O final do ano de 1968 foi complicado para os Beatles. Apesar do sucesso do Álbum Branco, lançado em setembro, e do desenho animado Yellow Submarine bater recordes de bilheteria, os negócios e o próprio relacionamento entre os músicos não iam bem.
A empresa Apple, criada para gerenciar os empreendimentos da banda e dar oportunidade para novos talentos, ameaçava ruir devido à má administração.Paul McCartney recentemente havia terminado seu relacionamento de cinco anos com a atriz Jane Asher e começara a namorar a fotógrafa americana Linda Eastman. John Lennon, após um casamento de seis anos com Cinthya Powell, divorciava-se e encontrava sua alma gêmea na artista plástica japonesa Yoko Ono.
Para tentar solucionar os problemas da Apple, Paul pede ajuda a seu futuro sogro, Lee Eastman, famoso advogado das estrelas do mundo do entretenimento americano. John, por sua vez, resolve ouvir o ex-empresário dos Rolling Stones, Allen Klein, que há muito tempo tentava se insinuar nos negócios dos Beatles.
Klein, após muitos elogios pessoais a Lennon e a sua futura esposa, Yoko, consegue conquistar a confiança dos dois. Cria-se então um impasse. John consegue a adesão de George Harrison e Ringo Starr, e eles fecham com Klein. Paul não assina o contrato. Após inúmeras discussões, Klein começa a gerenciar a Apple e demite a grande maioria de seus funcionários, fechando também a Apple Boutique. Apesar do clima tenso, no final do ano Paul tem a ideia de um projeto de volta às raízes da banda, em que os Beatles seriam filmados e gravados ensaiando e preparando uma apresentação ao vivo. Mesmo recebida com reservas pelos outros três, a ideia prosperou.


No dia 2 de janeiro de 1969, eles entram nos estúdios de Twinckenham para as sessões do que viria a ficar conhecido como o projeto “Get Back”. Decididos a fazer as coisas da maneira mais simples e direta possível, eles dispensam os serviços de seu amigo e produtor de longa data George Martin. Eles não queriam nenhum tipo de truque ou máscara de produção nesse trabalho. Para o lugar de Martin, eles decidem apostar no talento do jovem produtor Glyn Johns.

                                                 Discussões e saída da banda

Em princípio animados, os Beatles foram aos poucos descobrindo que não era fácil ensaiar e tocar ao vivo a partir das 8 horas da manhã, sendo filmados por uma grande equipe o tempo todo. Desde os tempos de Rubber Soul (1965), eles não tinham mais hora para gravar, mas, com Twickenham reservado por apenas um mês, eles tinham de cumprir horário. Mesmo com todo seu talento vertendo em composições clássicas, como as duas contribuições de Paul – Let it Be e The Long and Winding Road –, o desânimo foi tomando conta.
Em um dia particularmente ruim, Paul e George entram em conflito devido às constantes cobranças do primeiro a respeito da maneira do segundo tocar a guitarra. Harrison ausenta-se dos ensaios por vários dias, e John chega a pensar em Eric Clapton como substituto de George.
Finalmente os ânimos se acalmaram com a chegada de Billy Preston, grande amigo de George, que o leva aos estúdios. O tecladista norte-americano faria uma participação muito especial em algumas canções. O ponto alto do seu trabalho foi seu brilhante solo de piano na faixa Get Back, de Paul. Aliás, essa canção ocasionaria outro atrito entre Paul e John – este, anos depois, ainda lembraria que, ao cantar o verso “Get back to where you once belonged” (algo como “Volte para o seu lugar”), Paul dava uma sutil olhada para Yoko Ono, presença infalível em todos os ensaios.
Pela metade de janeiro, os Beatles desistem do ambiente frio de Twickewnham e se mudam para os porões do escritório da Apple, onde havia sido construído um novo estúdio.
Em nova reunião marcada para discutir onde poderia ser feito o show ao vivo, John tem uma notícia nada animadora para os envolvidos no projeto e particularmente para seus três parceiros. Ele estava deixando a banda! O anúncio foi recebido como uma bomba, principalmente por Paul e Allen Klein. John é convencido pelo empresário a não tornar público seu desejo até que o álbum e o filme pudessem ser concluídos. O show ao vivo é praticamente abandonado quando os locais sugeridos por Paul – um anfiteatro romano, um barco no rio Tâmisa, aos pés do monte Everest) – são descartados por Lennon, que sugere um show num asilo de loucos!
Enfim, para poder dar um acabamento ao projeto do filme, eles sobem ao telhado da Apple no dia 30 de janeiro, onde tocam algumas das músicas que fariam parte do álbum.
Após este encerramento que ficaria na história como o último show da banda, eles entregam as fitas do trabalho a Glyn Johns e partem para projetos individuais.



                                    Um disco na gaveta, e outro sendo gravado 

Em março de 1969, Paul se casa com Linda, e John, com Yoko. Durante o restante do ano, John incorpora Yoko definitivamente a sua música, lançando trabalhos individuais com sua musa, e deixando os Beatles em segundo plano. Ringo investe no cinema e participa do filme The Magic Christian, com Peter Sellers. George viaja como convidado em turnês de Eric Clapton nos EUA.
Os esforços de Glyn Johns com as fitas de “Get Back” não chegam a lugar algum, e o projeto é arquivado.

Na metade de 1969, os Beatles voltam aos estúdios de Abbey Road, para gravar um álbum, o último a ser gravado pelos rapazes. Desta vez, eles decidiram – talvez sentindo o fim próximo – vestir a camisa da banda. George Martin foi contatado por Paul. Se ele pudesse fazer as coisas “como nos velhos tempos”, ele toparia produzir um novo álbum. Assim, o último disco da banda foi gravado. Havia também o desejo, ao contrário de Let it Be, de aproveitar os recursos do estúdio Abbey Road, e o trabalho fluiu de vento em popa. Clássicos do rock desfilariam ao lado de canções inacabadas, agrupadas como um “medley” no lado B do disco. Surpreendentemente, George se mostra dominante com duas clássicas beatle-songs: Something e Here Comes the Sun! O rock progressivo em seu estado bruto aflorou em I Want You de um John Lennon apaixonado por Yoko Ono. Quanto a Paul, ele se contentou com pequenos fragmentos que, unidos, pareceriam os primeiros passos de uma ópera-rock. Os Beatles conseguiram de novo! Em setembro de 1969, eles emergiriam com Abbey Road, o último álbum a ser gravado pelos rapazes, e o de maior sucesso comercial. Mas a longa estrada estava chegando ao fim.



                                                     O impasse de ‘Let it Be’


Em janeiro de 1970, Paul sentiu que os Beatles estavam implodindo. Ele começa a gravar sozinho em seu estúdio caseiro. Nesta mesma época, Allen Klein desencava as fitas de “Get Back” e as entrega ao produtor americano Phil Spector, com as bênçãos de John Lennon. Spector era conhecido no final dos anos 50 por sua famosa “wall of sound” (parede de som), em gravações em que ele utilizava muito eco e coros femininos. Ele tenta usar este mesmo sistema nas fitas entregues a ele. O resultado fica pronto em abril. McCartney conclui suas gravações caseiras no mesmo mês. Um novo impasse acontece. Paul, que não tinha conhecimento da armação feita por Klein, John e Spector com as fitas de “Get Back”, sente-se traído por seus companheiros. Ele resolve lançar seu álbum chamado McCartney antes do álbum da banda que seria lançado com o título de Let it Be.
Na entrevista que acompanhava o álbum lançado por Paul, ele comunica que estava deixando os Beatles por razões pessoais, musicais e profissionais e que não pretendia mais gravar com seus companheiros.
Let it Be é lançado em 8 de maio trazendo grandes canções, mas com uma produção que não convencia. McCartney, além das músicas antológicas já citadas – Let it Be, Get Back e The Long and Winding Road ( esta com um arranjo pretensiossísimo de Spector que deu saudade de George Martin) – comparece também com o rock I’ve Got a Feeling e a balada Two of Us. Lennon nos mostra uma de suas melhores poesias em Across the Universe, e Harrison brilha com I Me Mine.
Talvez a maioria dos fãs estivesse mal-acostumada, mas se esperava mais dos Beatles.
Infelizmente neste mesmo mês de maio, é lançado o filme Let it Be, mostrando para beatlemaníacos perplexos, quase como num documentário, a dissolução da melhor banda do planeta.



                                                           

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